Voleibol: suspiro de “alívio” na conclusão de época “muito longa”
Da exaltação ao alívio: assim se pode descrever o trajeto emocional da equipa de voleibol feminino do Vitória, com a manutenção suada na 1.ª Divisão a validar a subida alcançada no início da época.

A meio da Série dos Últimos da 1.ª Divisão feminina de voleibol, ali no início de abril, o Vitória ocupava a segunda posição entre seis equipas, com nove pontos, e a conquista da manutenção parecia uma mera questão de tempo, já que o quarto lugar bastava para se conseguir o objetivo. A equipa até abriu a segunda volta com um triunfo por 3-0 na receção ao Belenenses, último classificado, a 10 de abril, mas a derrota em Braga pela margem máxima, no dia seguinte, reabriu uma luta que só encerrou no sábado, com o triunfo caseiro sobre o Boavista (3-1).
“Foi um alívio muito grande conseguirmos pôr em campo aquilo que sabíamos ser capazes de fazer”, admite ao Tempo de Jogo o treinador João Peixe. Para o líder das vitorianas, foi “custoso” ter o “objetivo constantemente adiado”, porque o facto de não ser “rapidamente” atingido criou “um estado de ansiedade muito grande” e até “uma crise de confiança” no plantel.
Com apenas um jogo por disputar, as vitorianas passaram a somar 15 pontos, deixando a quatro a primeira equipa em zona de descida, o quinto classificado Sporting de Braga. A derrota frente ao Castêlo da Maia (3-0), na despedida da temporada, já não interferiu nas contas finais.
Para o timoneiro do Vitória nos últimos dez jogos da época, todos referentes à Série dos Últimos, o objetivo só foi cumprido graças à atitude das jogadoras numa época “absurdamente atípica”, em que tiveram de lidar com a pandemia, com três treinadores – João Peixe sucedeu a Óscar Barros e a Gilson França – e com “muitas mudanças” na direção da secção. “Tiveram uma entrega muito grande ao emblema, um compromisso enorme para com a equipa e isso facilitou imenso o meu trabalho”, descreve.
Além dessa instabilidade, as atletas tiveram de enfrentar uma época “muito longa”, por causa do torneio de subida à 1.ª Divisão que disputaram em setembro de 2020, com um final feliz para as cores preta e branca. “Há um efeito de saturação muito grande nas atletas”, confessa.
Face às circunstâncias, o trabalho realizado na fase decisiva da época foi de “continuidade em relação ao que era feito”, já que “não havia possibilidade de mudar drasticamente a forma de jogar” numa “competição curta”. João Peixe limitou-se, assim, a “afinar de algumas coisas que poderiam ser afinadas”, reconhece.

“A melhor prenda em dez anos de voleibol”
O facto de o Vitória se apresentar na 1.ª Divisão com um grupo relativamente jovem, em que sete das 12 atletas provêm da formação, também influenciou as oscilações de rendimento ao longo da época. Essa política acarreta um “preço a pagar”, mas o “objetivo do Vitória” não é ter 14 jogadoras profissionais, à semelhança do campeão nacional, AJM/FC Porto, para “ombrear com as outras equipas”, esclarece João Peixe. “O Vitória terá sempre jovens e elas têm de aprender”.
Uma dessas jovens oriundas da formação é a distribuidora Mariana Freitas. Mas, apesar dos 22 anos, já leva uma década a ostentar o símbolo de D. Afonso Henriques. Apesar de “muito atípica”, a época 2020/21 foi também a mais feliz da carreira da voleibolista, já que, ao garantir a permanência, a equipa não desfez a promoção conquistada há sete meses. “Essa subida foi a melhor prenda de 10 anos de voleibol. E não queria, por nada deste mundo, que voltássemos a descer. Conseguimo-nos manter e fico extremamente orgulhosa da equipa por isso”, reitera ao Tempo de Jogo.
O triunfo de sábado sobre as axadrezadas trouxe-lhe uma “sensação de alívio enorme”, ao cabo de uma época “desgastante” fisicamente, mas sobretudo emocionalmente, face às “entradas e saídas de treinadores, de atletas e de membros da direção”. “Tentava-se construir tudo e, de repente, aparecia algo para deitar abaixo. Sabíamos que tínhamos capacidade para chegar lá e manter este grande clube na 1.ª Divisão, mas, quando estava quase, acontecia alguma coisa”, explica.
O primeiro revés na temporada deu-se com a saída do treinador Óscar Barros, que liderara a equipa rumo à subida de divisão, quando estavam decorridos sete jogos da fase regular, com três triunfos vitorianos e quatro derrotas. O objetivo, nessa fase, era terminar a primeira fase “entre as sete primeiras equipas da 1.ª Divisão”, recorda Mariana. “Apesar de serem novas, as atletas tinham muita experiência. Neste tipo de jogos, para tranquilizar, elas estavam sempre lá e ajudavam nesse aspeto. Com a saída delas, o plantel era mais imaturo. Tivemos de crescer e de nos habituar”, afirma.
O plantel demorou “um bocadinho a assimilar o processo de trabalho” com Gilson França, técnico com quem concluíram a fase regular no 11.º lugar entre 14 equipas, com 19 pontos em 26 jogos, e viveu o mesmo cenário com a entrada de João Peixe para a fase decisiva. “Tivemos de nos voltar a adaptar a diferentes treinadores e a diferentes métodos de trabalho”, salienta.
A distribuidora considera assim que a manutenção no escalão maior do voleibol nacional só foi possível graças à “capacidade de resiliência”, à “determinação”, à “coragem” e à “paixão pelo clube que a maior parte das atletas manteve”.
Com o grupo “exausto” após uma temporada iniciada em julho, Mariana Freitas só pensa agora no descanso, frisando ser ainda cedo para projetar a próxima época, com início projetado para agosto ou setembro. “Há atletas que irão ficar e atletas que irão sair. Vamos esperar para ver o que o Vitória nos propõe”, perspetiva.