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Vitorianos regressam para reviver o “orgulho pelo clube e pela terra”

Ainda que sem final feliz, a alegria e a ansiedade no rosto dos adeptos eram evidentes à chegada ao D. Afonso Henriques. O público voltou (em força) às bancadas após ano e meio de silêncio.

09 agosto 2021 > 09:00

António Meira caminhava a passo apressado rumo a uma das entradas para a bancada Sul. Tinha a companhia de duas vitorianas trajadas a rigor e mal conseguia esconder a ânsia do regresso ao maior templo vimaranense do futebol. Não era para menos: chegara a hora de retomar um ritual vivido há mais de 40 anos, mas interrompido no último ano e meio. “Todos os domingos em que o Vitória joga em casa venho sempre com a minha família. Com isto da covid-19, nunca mais viemos”, confessa o sócio de 59 anos ao Tempo de Jogo.

Foi sob um banho de sol de agosto que o D. Afonso Henriques reabriu as portas para acolher os saudosos fiéis. A agitação sentida a uma hora do jogo na praça 26 de Maio prenunciava uma boa casa. Confirmou-se: o jogo entre Vitória e Portimonense, da primeira ronda da Liga Bwin, teve 8.824 espetadores. Num tempo ainda marcado pela pandemia, o máximo permitido rondava as 10.000 pessoas, o equivalente a 33% da lotação.

Apesar dos receios associados à pandemia e da performance desportiva aquém do desejado, com o sétimo lugar na época 2020/21, o público vitoriano disse outra vez presente. Para António Meira, a explicação é simples: “um sentimento de orgulho pelo clube, pela terra, pelas raízes”. “Aos 14 anos, fui morar para o Porto. Eu e o meu vizinho íamos ver os jogos do Porto, mas não tem nada a ver. Quem vai a outros estádios e vem aqui a Guimarães, percebe que isto é totalmente diferente”, afirmou.

Hoje residente em Famalicão, o sócio defendeu que os preços dos bilhetes para o encontro inaugural da época deveriam ser mais acessíveis, face à prolongada ausência de competição, ao consequente atraso no pagamento de quotas e à gestão do dinheiro pelas famílias maiores.

“O Vitória deveria ser mais flexível nestas situações em que os sócios vêm em famílias inteiras. Devia haver um valor simbólico para as pessoas virem todas. Muita gente hoje não vem por causa do dinheiro. Tive de pagar 300 euros para vir entre quotas em atraso e bilhetes”, defendeu o sócio que, neste domingo, trocou a Nascente pela Sul devido ao custo das entradas, precisamente.

Também nas imediações da bancada Sul, Pedro Ferreira, sócio vitoriano há tanto tempo como cidadão português – 27 anos -, disse compreender a situação de quem “não conseguiu pagar as quotas” e a polémica associada ao preço dos bilhetes, mas também a “fase complicada” que o Vitória atravessa, devido à pandemia. “Também compreendo as famílias compridas, que têm de pagar um preço elevado num só bilhete, mas temos de aceitar. Quem ama, não desiste. É mais uma barreira que os adeptos do Vitória vão ultrapassar”, sublinhou.

Mais complicado do que o preço a pagar para regressar às bancadas do seu estádio, foi o tempo passado sem lá ir e a migração forçada para as transmissões televisivas, onde o futebol “não tem aquele brilho”. “Não é tão especial quanto estar presente e poder empurrar a equipa nos momentos menos bons. Voltámos e vamos acreditar que vai correr tudo bem. Daqui em diante, vai melhorar e vamos poder voltar em breve todos ao estádio”, perspetivou.

Ciente de que a massa adepta preta e branca tem “sempre expetativas elevadas”, Pedro Ferreira mostrou-se convencido de que o “plantel jovem” às ordens de Pepa vai-se afirmar nesta época. Fez este prognóstico de mão dada com Afonso Ferreira, filho com quatro anos de idade. E outros tantos de sócio. “Trazer o meu filho e passar o testemunho é fantástico”, confessou.

 

Faltou o “sentimento de estar lá dentro, a ouvir os cânticos”

Margarida Ferreira seguia rumo às portas 8 a 10, no vértice entre a Sul e a Nascente, quando se deteve para ecoar o “sentimento de muita alegria e emoção” comum a muitos dos outros presentes no Vitória – Portimonense. “Já estávamos todos com muitas saudades de cá entrar e de poder sentir o calor das bancadas”, resumiu. Sócia há 18 anos, precisamente o tempo que leva de vida, a vitoriana assumiu sentir a falta de “todo o envolvimento do jogo”, de “estar lá dentro”, de “ouvir os cânticos”.

Apesar dos preços de bilhetes que considerou “abusivos”, ainda para mais quando boa parte do universo associativo em “paga sempre as quotas e a cadeira”, Margarida Ferreira não podia estar de fora deste jogo. “Não ia ficar sem vir ao estádio por eles pedirem dinheiro pelos bilhetes. Claro que temos de vir”, disse.

Num dia que classificou de “emocionante”, Margarida Ferreira projetou uma “época em grande”, com o “máximo de pontos possível”. O começo não foi auspicioso: Beto gelou a plateia aos 86 minutos, com o golo que selou o triunfo algarvio. Mais jogos virão, com as bancadas a tentarem empurrar o Vitória para desfechos mais felizes.

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