Vitória SC – 100 anos de história - V - A Bola de Prata
No futebol, o golo é conceptualmente definido como o momento em que a bola trespassa a linha marcada no terreno de jogo que, de forma reta, une cada um dos postes e, estes, com a trave.

A essencialidade do golo é notória e, manifestamente, decisiva no jogo, quer na altura de evitá-los, impedindo que violem a nossa baliza, quer no momento de concretizá-los, atravessando a meta da baliza do adversário.
O golo que os aficionados do desporto mais admiram é, no fundo, a materialização da arte e do engenho do seu autor na interação com a bola, não obstante, não raras vezes, o mesmo resulte de circunstâncias, inadvertidamente, causadas pelos intervenientes.
Este introito vem a propósito da chamada à colação dos goleadores que ao longo dos 100 anos da história do Vitória mais se notabilizaram ao serviço do clube. Foram muitos, é certo, cada um no seu tempo, desde os mais imemoriais aos, ainda, por muitos revividos, no enredo do clube no panorama futebolístico distrital, nacional e europeu.
Desde Constantino Lameiras, na década de 20 a meados de 30 do século passado, Alexandre, entre a década de 30 e 40, e Franklim, entre meados da década de 40 a meados de 50. Após, destacam-se, entre muitos outos, Caraça e Ernesto Paraíso, ainda na década de 50, António Mendes, Manuel e Djalma na década de 60, Jorge Gonçalves e o tridente Romeu, Tito e Jeremias, na década de 70, Eldon, Joaquim Rocha, Ademir, Caio Júnior e Chiquinho Carlos, na década de 80, Ziad, Gilmar, Edinho e Edmilson, na década de 90, e já neste século Brandão, Romeu, Saganowski, Edgar Silva, Soudani, André André, Henrique Dourado, Marega, Raphinha, Davidson e Estupiñán.
Existem, porém, dois futebolistas, ambos de nacionalidade brasileira, que se destacaram de todos os goleadores do Vitória, designadamente, por, cada um, em sua ocasião, ter conquistado o prémio que consagrava o melhor marcador do Campeonato Nacional da 1.ª Divisão – A Bola de Prata, prémio instituído pelo jornal A Bola.

O primeiro jogador do Vitória a conquistar o conceituado troféu foi Edmur, no final da temporada de 1959/60, contabilizando na sua conta pessoal a autoria de 25 golos ao longo da principal competição nacional, superando na classificação dos melhores marcadores o jogador do Sporting, Fernando, autor de 22 golos e José Águas e José Augusto, ambos do Benfica, com 19 tentos cada um.
Além dessa proeza, Edmur é, reconhecidamente, um dos melhores jogadores da história do Vitória. Ingressando no final da década de 50, consagrado como internacional da seleção do Brasil, Edmur surpreendeu todo o futebol nacional com a quantidade e qualidade dos golos que apontava, acabando mesmo por ser considerado, naquela altura, como o melhor jogador estrangeiro a atuar no futebol português.
Revelava-se, inequivocamente, um futebolista com uma técnica perfeita e um remate temível, certeiro e com um faro de golo impressionante. Jogando sempre de cabeça erguida virada para a baliza adversária, Edmur surgia sempre no lugar certo para, com arte e requinte, finalizar as jogadas de ataque do Vitoria.
Foi António Pimenta Machado, o afamado emigrante vimaranense radicado no Recife, no Brasil, dotado de um apurado sentido de escolha, quem, maravilhado com as qualidades de Edmur, indicou a sua contratação ao Vitória, que, naquela altura, estava de regresso ao principal escalão do futebol português.
Edmur veio para Guimarães para integrar a equipa para a época de 1958/59 a troco de um ordenado mensal de 1.800 escudos. A sua contratação reforçou o sector atacante que já contava com os compatriotas Ernesto Paraíso e Carlos Alberto, também recém-contratado, jogadores com quem Edmur veio a formar um tridente atacante verdadeiramente maravilhoso.
Os fervorosos adeptos vitorianos ficaram tão encantados com a performance do avançado Edmur que, rapidamente, o tornaram num verdadeiro ídolo do clube e da cidade. E este nunca defraudou as expectativas, de tal forma que, a cada jogo que passava, as sensacionais exibições mantinham-se e os seus golos aumentavam em catadupa.

Já o segundo atleta vitoriano a conquistar a famosa Bola de Prata foi, décadas mais tarde, o brasileiro Paulinho Cascavel, o maior protagonista do Vitória nas temporadas de 1985/86 e 1986/87.
O Presidente do Vitória, na ocasião, Pimenta Machado, já tinha o jogador debaixo de olho ainda o mesmo atuava no Brasil. Todavia, foi o FC Porto quem trouxe Paulinho Cascavel para jogar em Portugal pela primeira vez. O Vitória, porém, na primeira oportunidade contratou os seus serviços, envolvendo-o no negócio da transferência de Best, um guarda-redes ainda júnior do clube, para o FC Porto.
Ao serviço do Vitória Paulinho Cascavel revelava-se um ponta de lança mortífero, oportunista o quanto baste, um excelente cabeceador e detentor de um remate forte com qualquer um dos pés.
Tecnicista por natureza, o craque brasileiro fazia muitos golos, seja em lances de bola parada, cobrando penáltis com precisão e executando livres diretos com mestria, como em jogadas de bola corrida, pois finalizava, como apraz dizer-se, de todas as formas e feitios.
Nele viam-se tanto potentes remates executados de fora da área, como simples conclusões para golo dentro da grande área.
Na primeira temporada no Vitória foi o segundo melhor marcador do Campeonato Nacional da 1.ª Divisão, com 25 golos marcados, atrás de Manuel Fernandes, do Sporting, que marcou 30 tentos, e à frente de Gomes, do FC Porto, que anotou 20 golos.
Sintomática da magnífica temporada realizada na época de estreia, foi, ainda, a atribuição do prémio Adidas, instituído, também, pelo jornal A Bola, destinado a premiar o jogador que ao longo da época futebolística fosse o maior número de vezes considerado o melhor em campo nas partidas realizadas. No caso, os jornalistas daquele periódico desportivo atribuíram a Paulinho Cascavel, por oito vezes, a classificação de melhor jogador em campo.
Não obstante o primeiro ano de luxo em Guimarães, é na época 1986/87 que o fenómeno Paulinho Cascavel se implanta, definitivamente, na história do Vitória e do futebol português e internacional, pois, além dos excelentes desempenhos a nível nacional, a marca Paulinho Cascavel percorre a Europa, fruto da magnífica campanha protagonizada pela equipa vitoriana no Campeonato Nacional da 1.ª Divisão e das proezas conseguidas na então denominada Taça UEFA.
A título pessoal, o culminar da temporada de Paulinho Cascavel deu-se com a conquista da Bola de Prata, distinguindo, assim, o melhor marcador da principal competição nacional, autor de 22 golos.
A luta pelo insigne prémio foi, porém, titânica, pois, à partida para a última jornada da competição, Paulinho Cascavel encontrava-se igualado em número de golos obtidos com Gomes, do FC Porto. É na derradeira jornada da prova, com o golo apontado ao Sporting, no Estádio de Alvalade, num empate a 1-1, que Paulinho Cascavel ultrapassa o jogador portista, ficando, assim, no primeiro lugar do pódio, à frente de Gomes, com 21 tentos, e Manuel Fernandes, do Sporting, com apenas 17 golos alcançados.
