Vitória começa play-off: “Cada segundo do jogo ganha outro valor”
A fase decisiva da Liga Skoiy arranca nesta sexta-feira. À porta da eliminatória com o GDESSA, o treinador Rui Costa e a atleta Catarina Mateus reconhecem que agora é a “doer”.

O Vitória protagonizou nesta época a melhor fase regular de uma história de quatro anos no principal campeonato feminino de basquetebol; foram 808 lançamentos certeiros entre outubro de 2020 e março de 2021, num percurso com 15 triunfos e sete desaires, que valeu o quarto lugar. Mas essa posição está longe de sentenciar o destino reservado às condessas na Liga Skoiy, à exceção dos adversários a defrontar no play-off e da diferença entre o número de jogos em casa e fora.
A tabela classificativa ditou que o GDESSA, quinto classificado, é o primeiro obstáculo rumo a um eventual título nacional. As duas equipas abrem a fase decisiva da época 2020/21 às 17:30 de sexta-feira, no Barreiro, e Rui Costa assume que as partidas têm “outro significado” doravante. “Na fase regular, se perdêssemos, havia sempre um jogo a seguir. Nas eliminatórias, as posses de bola e cada segundo de jogo ganham outro peso e outro valor”, salienta o treinador, em conversa com o Tempo de Jogo.
Catarina Mateus concorda. Para a base, todos os jogos são “a doer” a partir de agora, sobressaindo o “querer” das equipas face ao cansaço que se pode acumular num momento já avançado da época. “Nesta fase, não há cansaço. O querer esconde aquele cansaço que vamos acumulando ao longo dos dias. Se queremos ganhar e lutar pelo título, vai ser cansadas, com tudo nas costas”, antevê a jogadora mais eficaz da linha de lance livre na fase regular, com 92% de concretização.
A história do play-off começa no mesmo local em que se iniciou a fase regular. Na primeira deslocação ao Pavilhão Municipal Professor Luís de Carvalho, a 03 de outubro, o Vitória levou a melhor sobre o GDESSA (63-54). Nos outros encontros com as barreirenses, repetiu o êxito: venceu por 64-53 em Guimarães, também para a Liga Skoiy, a 19 de dezembro, e por 70-62, em Lisboa, para as meias-finais da Taça de Portugal, a 13 de março. Mesmo reconhecendo que o adversário será “difícil”, Catarina acredita na passagem às meias-finais se a equipa repetir o que fez nos anteriores duelos.
Rui Costa avisa, contudo, que os recentes sucessos contra o GDESSA, “uma das equipas mais fortes do campeonato e com mais tradição”, têm sido decididos no último período. O técnico de 33 anos projeta, assim, uma “eliminatória difícil” frente a um adversário com “algumas internacionais portuguesas”, na qual o Vitória tem “condições para passar”. Depois de jogar no Barreiro, a turma da cidade berço joga no seu pavilhão o segundo encontro, a 10 de abril, e o terceiro, se necessário, a 11.

Lesão de Bárbara Souza afetou dinâmicas
Na antecâmara do play-off, o plantel está na “máxima força”, assegura Catarina Mateus. Isso não aconteceu em março, devido à lesão que afetou Bárbara Souza, jogadora com a quinta melhor média de ressaltos do campeonato (10 por jogo). A brasileira, de 29 anos, jogou de forma intermitente e o Vitória ressentiu-se; perdeu quatro dos últimos cinco encontros da fase regular, caindo para a quarta posição.
Mais do que o valor individual de Bárbara Souza, assente na eficácia de lançamento, mas também na estatura, o Vitória perdeu algumas “dinâmicas coletivas” que a atleta garantia, ainda para mais num período de maior intensidade competitiva, com mais do que um jogo ao fim de semana, a maioria deles fora de portas, afirma Rui Costa. “Nesta segunda fase do campeonato, fizemos 12 jogos em seis semanas. E houve quatro jornadas duplas (…). Isso traz um desgaste diferente aos atletas. Não foi só a Bárbara. Tivemos várias atletas com mazelas. E, nos últimos sete jogos, fizemos um em casa, contra o Benfica (derrota por 62-52), e seis fora. É natural que tenha havido uma quebra”, frisa o técnico natural de Viana do Castelo.
Para Catarina Mateus, a ausência de Bárbara Souza forçou as restantes jogadoras a fazerem “um pouco do que ela faz”, principalmente na luta dos ressaltos, a principal “dificuldade” do Vitória. A ligação entre o jogo interior e o jogo exterior da equipa também piorou, admite. “O rodar a bola, o fluir do nosso jogo foi aquilo que faltou nestes jogos. No início e a meio da época, provavelmente éramos a melhor equipa a fazê-lo”.
A base portuense de 22 anos lembrou ainda que a equipa perdeu rendimento num campeonato com uma “competitividade muito maior” face aos anos anteriores, com “mais equipas a disputarem os lugares de cima. Apesar de considerar que “há três ou quatro equipas melhores” face às outras, a jogadora admite “surpresas” no play-off.
Rui Costa concorda com “o acréscimo de qualidade” da prova, explicando-o com o “regresso a Portugal de atletas portuguesas mais velhas” – no caso do Vitória, Luiana Livulo, contratada ao Sheffield Hatters, de Inglaterra – e a contratação de atletas internacionais brasileiras, como a vitoriana Tatiane Pacheco. “Isso naturalmente traz qualidade ao jogo, maior maturidade e melhores decisões”, resume.

“Quase um ano sem tocar na bola”
Catarina Mateus terminou a fase regular com 210 pontos ao cabo de 611 minutos, com uma eficácia de 49% no lançamento de dois pontos e 38% no de três, para além da melhor percentagem na linha de lance livre. Mesmo não sendo os melhores da carreira da base que já representou CAB Madeira (2017/18) e União Sportiva (2018/19), os números atestam a preponderância de uma atleta que não tocou numa bola de basquetebol entre dezembro de 2019 e setembro de 2020. A causa do travão a fundo na carreira foi uma rotura do ligamento cruzado anterior do joelho durante a primeira época no Vitória. “Tenho de ver isto como um processo, porque vim de uma lesão muito grave (…). Se continuar a trabalhar, posso conseguir voltar às épocas anteriores e ajudar a minha equipa”, realça.
Além da condição física, a recuperação da lesão também exigiu de Catarina Mateus a recuperação das “sensações de jogo” e da “confiança” para render dentro da quadra, afirma Rui Costa. Mesmo sem rubricar a época com melhores estatísticas, a base cresceu “em pequenas coisas ao longo da época”, nomeadamente a tomada de decisão, acrescenta. Para o técnico, a “competitividade” é uma das virtudes que se destacam na jogadora. “Isso permite-lhe ajustar ao que o jogo pede. Num dia, ela pode estar a marcar mais pontos. Noutro, pode estar a dificultar a vida à base da outra equipa. E temos mais atletas assim”, assinala.