Vitória SC – 100 anos de História IV: A melhor classificação na 1.ª Divisão
Em 76 participações completas na 1.ª Divisão o Vitória alcançou, como sendo a sua melhor classificação sempre, o 3.º lugar: nas épocas de 1968/69, 1986/87, 1997/98 e na temporada de 2007/08.

Cada uma dessas quatro épocas teve a sua narrativa própria, que as tornou ímpar na história do clube, porque, em, pelo menos, duas dessas temporadas e não obstante o 3.º lugar, o Vitória lutou acerrimamente pela conquista do título de campão nacional, designadamente, nas provas de 1968/69 e 1986/87. Já em 1997/98, fruto daquela classificação, o Vitória conseguiu um apuramento directo para a Taça UEFA e na época de 2007/2008 disputou, até ao último momento, por um lugar de acesso à Liga dos Campeões.
De forma regressiva, destacamos, em primeiro lugar, a temporada de 2007/08, a qual foi consagrada como sendo a do Regresso do Rei, pois, na verdade, o Vitória retornava ao principal escalão do futebol nacional, sob a liderança do treinador Manuel Cajuda, após um ano a disputar a 2.ª Liga.
Inesperadamente, com uma equipa talhada para alcançar a manutenção de modo tranquilo, o Vitória, no desenrolar da prova, transformou-se num sério candidato a um dos três lugares de acesso à Liga dos Campeões, os dois primeiros de forma directa e o terceiro a depender de uma pré-eliminatória. O FC Porto, incontestável campeão nacional, cedo garantiu um lugar, deixando as outras duas vagas para uma acesa disputa entre o Vitória, o Sporting e o Benfica.
Assente numa solidez defensiva, sobretudo, pelos desempenhos protagonizados pelo guarda-redes Nilson, os defesas Andrezinho, Sereno e Geromel, e do médio de contenção Flávio Meireles, e num ataque, pouco produtivo para a classificação obtida, mas bastante eficaz, atento os onze triunfos alcançados pela margem mínima, fundamentado, principalmente, na velocidade, técnica e repentismo de Alan, Ghilas e Desmarets.
2007/08
Em cima, da esquerda para a direita: Nilson, Geromel, Danilo Rocha, Mrdakovic, Luciano Amaral e Flávio Meireles
Em baixo, da esquerda para a direita: Alan, Andrezinho, João Alves, Fajardo e Ghilas.
À 6.ª jornada, numa prova a 30 rondas, o Vitória, ainda invicto, consegue chegar ao 3.º lugar, e à 26.ª, após triunfo sobre o Boavista por 1-0, a equipa vimaranense ascende ao 2.º lugar da classificação, apenas a quatro jornadas do fim.
Sucede que, nas duas jornadas seguintes, uma copiosa derrota caseira do Vitória ante o FC Porto e um empate frente ao Belenenses, conjugado com dois triunfos sucessivos do Sporting e algumas arbitragens bastante polémicas, permitiram ao clube de Alvalade ultrapassar a formação vitoriana.
Desta forma, o Vitória termina a competição no 3.º posto, à frente do Benfica (4.º) e atrás do Sporting (2.º), garantindo, porém, o acesso a disputar a pré-eliminatória da Liga dos Campeões.
A temporada de 1997/98 inicia com Jaime Pacheco no comando técnico da equipa vitoriana após dois anos de sucessos desportivos, com consecutivos apuramentos para as provas europeias de clubes.
À 8.ª jornada, após um empate em Guimarães contra o Boavista, o carismático presidente do Vitória, Pimenta Machado, diz-se, publicamente, desiludido por ver a equipa a jogar mal, não obstante, nessa altura encontrar-se no 2.º lugar da classificação. Ficava traçado o destino de Jaime Pacheco, demitido imediatamente, e, por sua vez, o regresso do técnico Quinito a Guimarães depois de uma primeira passagem brilhante pelo Vitória.
1997/98
Em cima, da esquerda para a direita: Alexandre, Marco Freitas, Edmilson, Márcio Theodoro, Gilmar e Neno
Em baixo, da esquerda para a direita: Kasongo, Vitor Paneira, Sordestrom, Riva e José Carlos.
A substituição operada no comando técnico não destronou o Vitória do topo da tabela classificativa, mas aditou-lhe maior brilhantismo no jogo jogado da equipa o que muito contribuiu para o 3.º lugar, numa acesa disputa da última posição do pódio com o Sporting e com o Boavista até às derradeiras jornadas da competição.
Porém, essa classificação, apurando o Vitória pela terceira vez consecutiva para as provas europeias, não significou que tivesse lutado pela conquista do título, pois, o FC Porto cedo adiantou-se aos restantes competidores, alcançado, tranquilamente, o título de campeão nacional.
Na equipa destacam-se, entre outros, o guarda-redes Pedro Espinha, internacional português enquanto jogador do Vitória, os defesas José Carlos, Alexandre e Márcio Theodoro, os médios Paiva, Sordestrom e Vítor Paneira, e, finalmente, a dupla de avançados brasileira, Edmilson e Gilmar.
Já a época de 1986/87 é, talvez, a mais mística da história do clube vimaranense, sobretudo, pelas exibições extraordinárias que a equipa realizava, pela qualidade extrapolar de vários jogadores e da equipa técnica, pelas verdadeiras romarias de milhares de vitorianos que lotavam os estádios do país e, finalmente, pela colecção de triunfos excepcionais conquistados a nível nacional e internacional.
À equipa de sucesso da temporada de 1985/86, já recheada de valores excepcionais, como o guarda-redes Jesus, os defesas Costeado e Miguel, os médios Nascimento e Adão - todos eles, também, internacionais portugueses ao serviço do Vitória - o letal Paulinho Cascavel, consagrado melhor marcador nacional em 1986/87 e após ter sido o 2.º maior apontador de golos em 1985/86, e o explosivo extremo Roldão, adicionaram-lhe, sob o comando, agora, do consagrado treinador brasileiro Marinho Peres e seu adjunto Paulo Autuori, o defesa, verdadeiro patrão, Nené, o médio ofensivo e, talqualmente, elegante, Ademir e as pérolas africanas, N´Dinga, talentoso driblador e elástico médio, pau para toda a obra, daqueles de antes quebrar que torcer, e uma verdadeira força da natureza, o avançado N´Kama.
Esta equipa do Vitória consegue aliar retumbantes êxitos no plano nacional como a nível internacional. Sempre a reboque, digamos, do inegável talento dos seus jogadores e técnicos e de uma fervorosa massa associativa que acompanhava a equipa em todos os estádios, lotando, invariavelmente, os jogos disputados em Guimarães e muitos dos redutos adversários de norte a sul do país.
Esta época terá sido aquela que, mais marcadamente, atingiu o expoente máximo daquilo que, manifestamente, são as potencialidades do clube, unido em todos os quadrantes, desde a sua direção, plantel e os seus aficionados, e à própria cidade de Guimarães, envolvendo as entidades mais relevantes, o comércio e a indústria da região.
O Vitória, em 1986/87, fez aquele que ainda hoje é considerado o melhor trajecto nas competições europeias, eliminando, galhardamente, clubes de outras dimensões, como eram os checoslovacos do Sparta de Praga e os espanhóis do Atlético de Madrid. Eliminou, ainda, a equipa do Groningen, da Holanda, numa inesquecível e esplendorosa exibição realizada numa tarde de dilúvio, a meio da semana, na cidade de Guimarães. Sucumbiu, apenas, nos quartos-de-final da Taça UEFA às mãos da afamada equipa alemã do Borússia Moenchegladbach.
1986/87
Em cima, da esquerda para a direita: Paulinho Cascavel, Miguel, N´Dinga, Ademir, Nascimento e Néné
Em baixo, da esquerda para a direita: Basílio, Costeado, Adão, Jesus e Roldão.
No Campeonato Nacional da 1.ª Divisão o Vitória ombreou de igual para igual, praticamente, até ao final da competição com o Benfica e FC Porto pela conquista do mais apetecível ceptro nacional. A equipa vitoriana chegou a estar na liderança da prova, a ser qualificada como aquela que melhor jogava em Portugal e tida como uma verdadeira candidata ao título. Claudicou, apenas, na parte final, por evidente quebra física dos seus jogadores, tão intensa a temporada, e após algumas arbitragens maliciosas que cercearam amiúde e em momentos chave o fôlego de conquista do Vitória.
Finalmente, a temporada de 1968/69, aquela que redundaria na melhor classificação de sempre da história do Vitória até então e no primeiro apuramento para as competições internacionais e oficiais de clubes, concretamente, a então denominada Taça das Cidades com Feiras.
Praticamente ao longo de toda a competição o Vitória esteve sempre classificado nos lugares cimeiros da tabela geral lutando, efectivamente, pela conquista do título de campeão nacional com o Benfica e o FC Porto até às derradeiras jornadas.
O Vitoria terminou no 3.º posto da tabela classificativa, com 36 pontos, atrás do Benfica, que se sagrou campeão nacional, com um pecúlio de 39 pontos, e do FC Porto, o vice-campeão, com 37 pontos amealhados.
O sucesso tremendo assentou, desde logo, no treinador contratado pelo clube para esta época, o brasileiro Jorge Vieira, conceituadíssimo e respeitado técnico no seu país, que pegou na estrutura que vinha montada da temporada transacta e adicionou-lhe ligeiros retoques pessoais que aperfeiçoaram a equipa e o resultado foi um conjunto homogéneo, seguro, quase imbatível e com um futebol encantador.
A equipa do Vitoria SC, defensivamente, funcionava como um bloco praticamente intransponível. De resto, o registo como a defesa menos batida do Campeonato Nacional da 1ª Divisão é disso a maior evidência.
1968/69
Em cima, da esquerda para a direita: Rodrigues, Peres, Manuel Pinto, Joaquim Jorge, Gualter e Costeado
Em baixo, da esquerda para a direita: Carlos Manuel, Manuel, Mendes, Augusto e Artur.
Depois, individualmente, dispunha de jogadores de grande valor, destacando-se, na defesa, desde logo, o então jovem guarda-redes, Rodrigues, os laterais Gualter, Daniel ou Costeado e um duo de defesas centrais, Joaquim Jorge e Manuel Pinto, a qual se tornariam na dupla de centrais da selecção nacional. Aliás, Joaquim Jorge, veio mesmo a ser considerado como o melhor jogador da competição maquela época de 1968/69.
Adiante, a linha intermediária, além de laboriosa e abnegada, era também muito tecnicista. O capitão Peres à cabeça, como verdadeiro líder e a dupla Artur e Augusto formavam um meio campo categorizado.
Ofensivamente a equipa revelou-se mágica, mas acima de tudo mortífera. O Vitória nesta época foi, também, uma das equipas mais realizadoras da prova, pontificando Zézinho, Mendes e Manuel, que formavam um trio de ataque demolidor, com o brasileiro Manuel e sagrar-se, assim mesmo, como o melhor marcador da equipa e o segundo melhor na competição.