Vitória SC – 100 anos de História III: Campeonato Nacional da 1.ª Divisão
Na temporada em curso de 2021/22 o Vitória completa a sua 77.ª participação na principal competição do futebol português, prova, esta, que ao longo dos últimos anos tem alterado a sua denominação oficial mas que, maioritariamente, ao longo da sua própria história designou-se como Campeonato Nacional da 1.ª Divisão.

Destaquemos, todavia, àquela que foi a primeira presença do clube vimaranense no maior certame do futebol português, remontando-nos, assim, para a época de 1941/42.
Naquela altura o acesso a disputar do Campeonato Nacional da 1ª Divisão Nacional de Futebol dependia da qualidade de campeão distrital, ou seja, o Vitória para garantir o direito a disputar aquela prova tinha que conquistar, primeiramente, o título de Campeão Distrital da A. F. de Braga.
Na época de 1941/42 o Vitória era treinado por Alberto Augusto, o popular Batatinha, figura que se notabilizou no futebol nacional, principalmente, por ter sido o autor do primeiro golo da história da selecção nacional de Portugal, num jogo particular disputado em Madrid, contra a Espanha, em 18/12/1921.
Na peugada em alcançar a principal prova, o Vitória começa por sagrar-se campeão distrital da A. F. de Braga, vencendo a competição, sem qualquer derrota, após uma renhida batalha com o Braga e com o Famalicão. A obtenção do título fica, apenas, consumada na penúltima jornada da prova, com um triunfo esclarecedor do Vitória, por 2-4, sobre o Braga, em pleno Campo da Ponte, reduto do adversário, que, naquele dia, apresentou-se, particularmente, agressivo e hostil à equipa e aos apaniguados vimaranenses que ali se deslocaram para assistir à partida.
Em cima, da esquerda para a direita: Machado, Castelo, Lino, Zeferino, João Bom e José Maria
Em baixo, da esquerda para a direita: Miguel, Laureta, Alexandre, Ferraz e Brioso
O campeão distrital da A.F. de Braga não tinha direito a entrada directa no Campeonato Nacional da 1.ª Divisão, dependo a sua representação naquela prova, por isso, de jogo de apuramento contra o vencedor da competição distrital da A.F. de Aveiro, o União de Lamas.
Esse seria um jogo decisivo e importante para catapultar o clube para outra dimensão, mas, também e, essencialmente, para os vimaranenses que há muito sonhavam com a participação do Vitória na mais relevante prova desportiva nacional.
O histórico e memorável desafio realizou-se, então, no Campo da Constituição, na cidade do Porto, em 11/01/1942, terminando com o triunfo do Vitória, por 6-4. A equipa vitoriana alinhou da seguinte forma: Machado; Lino e João; Castelo, Zeferino e José Maria; Laureta, Miguel, Alexandre, Ferraz e Bravo.
Em cima, da esquerda para a direita: Machado, João Bom, Zeferino Castelo, Lino e José Maria
Em baixo, da esquerda para a direita: Laureta, Miguel, Alexandre, Ferraz e Arlindo.
Concretizada a ansiada aspiração vimaranense, registe-se, também, que o primeiro jogo do Vitória no então denominado Campeonato Nacional da 1.ª Divisão ocorreu logo na semana seguinte, no dia 18/01/1942, no Campo do Benlhevai, em Guimarães, frente ao Olhanense, partida que os vitorianos venceram, numa auspiciosa estreia, por 4-0.
Nesta primeira participação do Vitória na principal prova nacional recorda-se, desde logo, o especial frenesim e animação que se vivia nas horas que antecediam a realização dos jogos em Guimarães, com a afluência de verdadeiras multidões às suas principais praças e artérias para conversas e convívios dos apaniguados, ou, simplesmente, para adquirirem um ingresso que lhes possibilitasse assistir às partidas junto dos, então, denominados contratadores, indivíduos que apregoavam, ecoando pela voz, alta e em bom som, a sua venda pelas ruas da cidade.
Sobressaem, ainda, entre muitos outros, alguns acontecimentos próprios daqueles tempos, designadamente, nos dois encontros que o Vitória disputou no Benlhevai, com o Sporting e com o Benfica.
Em cima, da esquerda para a direita: Alberto Augusto (Treinado), Castelo, José Maria, Zeferino, Lino, João Bom, Machado e Virgílio (Massagista)
Em baixo, da esquerda para a direita: Laureta, Miguel, Alexandre, Ferraz e Arlindo.
No jogo com o Sporting, o clube campeão nacional, o Vitória, reduzido a dez jogadores desde os sete minutos, apenas cedeu pela margem mínima de 1-2. Laureta, avançado do Vitória, lesionou-se com gravidade logo no início da partida, deixando a equipa em inferioridade numérica durante, praticamente, todo o encontro, simplesmente porque, naquela época, não era permitido realizarem-se substituições de jogadores no decurso dos jogos.
Outro encontro com especial relevo, em face da polémica com repercussão nacional que o envolveu, foi a recepção ao Benfica, em que os vimaranenses, derrotados por 1-2, contestaram, veementemente, a arbitragem. A controvérsia gerada agudizou-se pelo facto de um dos fiscais de linha desse encontro ter mesmo abandonado o desempenho da função no decurso da partida por não concordar com uma decisão do árbitro principal, que, após validar um golo ao Vitória – que seria o segundo de vantagem pois a equipa vimaranense já vencia por 1-0 – resolveu voltar atrás com a sua decisão não confirmando a marcação daquele tento.
A prova, então disputada por doze clubes, terminou com o Vitória classificado em 11.º lugar, destacando-se, sobretudo, entre vários êxitos alcançados, um triunfo no Campo das Salésias, em Lisboa, frente ao Belenenses, uma das grandes potências do futebol luso naquele período, por 0-1, naquela que se tornou, assim, também, na primeira vitória dos vimaranenses, na condição de visitante, na 1.ª Divisão.