O que parecia impossível a cinco minutos do fim tornou-se possível quando restavam 10 segundos para jogar: o ataque francês atrapalha-se e perde a bola, Rui Silva voa isolado para a baliza e, com a força de todo um país concentrado naquele braço direito, bateu Vincent Gérard com um remate forte e picado.

O golo da reviravolta portuguesa surgiu precisamente do braço em que o central vimaranense de 27 anos tatuou a imagem de Alfredo Quintana, malogrado guarda-redes com quem convivia na seleção e no FC Porto, vítima de uma paragem cardiorrespiratória que ditou a sua morte, a 26 de fevereiro.

Estava consumada a reviravolta a quatro segundos do fim. A França teve ainda tempo para introduzir a bola na baliza lusa após ataque rápido, mas já depois do toque da buzina. Foi com contornos dignos de um thriller que os heróis do mar garantiram o passaporte para Tóquio, palco dos Jogos Olímpicos de 2021, entre 23 de julho e 8 de agosto. É a primeira vez que o nome de Portugal vai constar de um torneio olímpico de andebol.

Portugal resgatou a viagem para o Japão num último momento de superação, após ter entrado para os últimos cinco minutos a perder 28-25 frente ao quarto classificado do último mundial, realizado em janeiro, no Egito. Tal como no duelo com os gauleses para esse mundial (derrota por 32-23), os comandados de Paulo Pereira entraram mal no embate decisivo do torneio pré-olímpico, tendo estado a perder por seis golos de diferença na primeira parte (11-5), mas a eficácia de Luís Frade no ataque devolveu a vida a Portugal, que chegou ao intervalo com um golo de desvantagem (13-12). Na etapa complementar, o jogo manteve-se quase sempre em aberto, até parecer que os gauleses tinham o jogo na mão a cinco minutos na mão. Com mais um feito heroico, esta seleção portuguesa tratou de mostrar que nada estava decidido.