Verde da esperança tingido a negro: Moreirense cai para a Segunda Liga
Vitória caseira sobre os transmontanos foi insuficiente para virar play-off de manutenção. Vila de Moreira de Cónegos deixa Liga Bwin após oito temporadas consecutivas no escalão maior.

Nas últimas oito temporadas, de convívio com os grandes do futebol nacional, o xadrez verde e branco escreveu as mais bonitas páginas da sua história, elevando a vila de Moreira de Cónegos e, por inerência, o concelho de Guimarães ao panteão do futebol português, com a conquista da Taça da Liga, em 2016/17. Recheada ainda com a melhor classificação da história – o sexto lugar de 2018/19, com os mesmos 52 pontos do Vitória -, essa etapa terminou. Este domingo. O Moreirense FC caiu para a Segunda Liga.
A despromoção foi a conclusão de um ano conturbado, com três treinadores ao leme de uma equipa que teimou em resistir à morte que várias vezes se foi anunciado, fruto da incapacidade vimaranense em criar dinâmica de vitória. Sem qualquer ciclo de três vitórias consecutivas, os homens de Moreira de Cónegos só por uma vez conseguiram triunfar por duas vezes seguidas. Fizeram-no depois de caírem para o último lugar: as lágrimas da derrota caseira com o Vitória deram lugar à euforia nos triunfos com Gil Vicente e Tondela.
Mas esses jogos foram apenas prenúncio da bipolaridade patenteada até este domingo: três derrotas consecutivas deixaram o Moreirense à mercê de um adversário para adiar a decisão, algo que conseguiu, ainda por cima com uma goleada ao mais visceral dos rivais, o Vizela.
Mas a depressão abateu-se de novo sobre Moreira de Cónegos com a derrota em Chaves, na abertura do play-off decisivo. Encostado de novo à parede, o Moreirense deu os últimos sinais de vida perante 4.051 espetadores no Comendador Joaquim de Almeida Freitas. Venceu até os flavienses por 1-0, mas não chegou. A equipa “morta várias vezes” que teimara até agora em reerguer-se tombou mesmo, em sua própria casa, num jogo em que sobrou espírito de combate para a falta de engenho.
Paulinho carregou no verde
Na antevisão, Ricardo Sá Pinto pedira à equipa para mudar de atitude, erradicando com o fenómeno da concentração “jogo sim, jogo não”. Esse apelo não continha necessariamente alterações radicais no onze, como se viu neste final de tarde nublado: Rosic voltou ao eixo da defesa e Yan surgiu encostado à esquerda, para acrescentar imprevisibilidade ao xadrez cónego, enquanto substituto de Gonçalo Franco.
E o primeiro lampejo ofensivo dos vimaranenses surgiu precisamente naquela zona, com o trabalho individual de Yan a servir o disparo cruzado de Rafael Martins, travado pelo atento Paulo Vítor. O cronómetro assinalava três minutos.
De viagem a Moreira de Cónegos com o luxo (conquistado) de poder defender o 0-0, a equipa transmontana recusou limitar-se à defesa, reagindo de pronto ao primeiro aviso verde e branco: isolado ao segundo poste, Alexsandro cabeceou para defesa instintiva de Kewin Silva.
O perigo espreitava qualquer das balizas se as circunstâncias assim o permitissem: uma tabela ao primeiro toque a desequilibrar um dos setores da defesa ou um lançamento longo a surpreender nas costas para tentar isolar um avançado, como aconteceu quando Platiny foi derrubado à entrada da área por Rosic – o sérvio do Moreirense viu amarelo nesse lance, aos 16 minutos.
As equipas amarraram-se uma à outra até Yan criar o espaço necessário para fazer nascer um golo: após tabela com Rafael Martins, o brasileiro colocou a bola em zona frontal à baliza, para o remate pronto de Paulinho, a colocar a bola no ângulo superior esquerdo; Paulo Vítor só teve tempo para virar os olhos, enquanto a vantagem flaviense caía para um golo.
Galvanizados pelo golo, os homens de Sá Pinto controlaram melhor os ritmos de jogo a partir daí e trocaram a bola por mais tempo no meio-campo contrário. A turma de Vítor Campelos perdeu discernimento na saída de bola e as incursões à área do Moreirense diminuíram. Numa delas, porém, o empate esteve à mercê, mas Kewin e Artur Jorge opuseram-se ao poder de fogo transmontano: o guarda-redes opôs-se, ágil, ao remate de Platini, e teve a ajuda do seu defesa central para negar a recarga a Guima.
A luta durou até ao fim. A inspiração nem por isso
Com 45 minutos para virar o último jogo da temporada a seu favor, o Moreirense quis manter o ascendente ofensivo sobre o Desportivo de Chaves. Todavia, só o fez a espaços. Os homens de Sá Pinto tentaram a esquerda, a direita, o jogo aéreo, mas esbarraram quase sempre na organização defensiva amarela. Então nas bolas aéreas, a dupla de centrais, nomeadamente Alexsandro, revelou-se imperial.
A ocasião mais flagrante pertenceu até aos transmontanos, num remate de Patrick para fora em zona frontal à baliza, antes do derradeiro assalto cónego à baliza de Paulo Vítor, sem qualquer êxito, apesar das sucessivas insistências.
O nervosismo nas bancadas adensava-se. Atrás da baliza de Paulo Vítor, sentia-se uma alegria qual vulcão à espera de explodir. Nas restantes bancadas do Comendador Joaquim de Almeida Freitas, adeptos cabisbaixos, olhares vagos, lágrimas que, aos poucos, escorriam. Mal soou o apito final de António Nobre, tudo se libertou. A noite caiu em Moreira de Cónegos, e com ela o Moreirense FC. A época 2022/23 está aí daqui a três meses, e cabe a equipa verde e branca lutar para recuperar o estatuto que já ostentou por 12 temporadas.