Um clube com gente dentro: a história de Nelson Brízida
Agora treinador, o ex-voleibolista já conhecia a "mística" do Vitória quando o passou a representar em 2007/08. No final da época, marcou o ponto que valeu um inédito título nacional na modalidade.

A confiança reinava entre os jogadores do Vitória à medida que o quarto set se aproximava do fim. A 19 de abril de 2008, os comandados de Marco Queiroga disputavam o quinto e decisivo jogo da final do campeonato em Espinho, encaminhando-se para um inédito título. Os homens de Guimarães estiveram quase sempre na frente da partida e, no limite de se sagrarem campeões, a vencerem por 24-22, o distribuidor Pedro Azenha voltou-se para Nelson Brízida. “O Azenha tinha muita confiança no Hugo Gaspar para fechar os sets, mas naquela ocasião virou-se para mim e disse: “Nelson, vai ser para ti”. Eu virei-me para ele e disse: “Mete, que vou fechar”. Fui com toda a confiança para aquela bola”.
O bloco do Sporting de Espinho opôs-se àquele remate, mas desviou-o para fora. Mal assentou os pés no chão, o atleta deu um grito de êxtase e desatou a correr rumo ao setor vitoriano, com cerca de uma centena de adeptos. O primeiro ano em Guimarães reservou-lhe o momento mais dourado de uma carreira em que, também de rei ao peito, conquistou a Taça de Portugal e jogou a Liga dos Campeões, em que representou a seleção nacional e em que conquistou títulos de voleibol de praia.
“Nada é comparável a um título de campeão nacional num clube como o Vitória. O acompanhamento ao longo da época foi fantástico”, recorda o agora treinador adjunto da equipa masculina, a propósito de uma temporada em que os vitorianos estiveram a perder em todas as rondas de play-off, frente a Castêlo da Maia, Benfica e Espinho. “Estivemos sempre em inferioridade e demos a volta”, assinala.
Na década em que jogou pelo Vitória, Brízida assistiu a uma trajetória descendente que culminou na sua saída, em 2017, por discordância com as opções diretivas, que afundavam o voleibol vitoriano na cauda da tabela. Regressou como treinador em 2020, mas o regresso da mística de outrora está ainda por se cumprir, também por força dos objetivos mais modestos dos últimos anos. “Só quem chega cá e vive na cidade e acompanha o dia a dia das pessoas, percebe a intensidade com que os vitorianos vivem este clube. É uma mística transmitida dos avós para os netos. No caso do futebol, tenho colegas em que as famílias inteiras vão aos jogos”, frisa.
O anseio de Nelson Brízida é ver esse paradigma alargado às restantes modalidades, fazendo-o relembrar momentos que viveu naquele pavilhão mesmo antes de envergar a camisola vitoriana. “Já vivia cá quando jogava no Esmoriz e no Castêlo da Maia [2000 a 2007]. Vivia cá com a minha esposa e fui abordado pelo Vitória duas vezes antes de vir à terceira. Já via imensos jogos aqui. Chegava aqui às bancadas, e todos os atletas que vinham aqui tinham o sonho de vir aqui jogar”, testemunha.