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Um clássico: ‘Pai, aquele menino bateu-me’

Dirigentes e seus assessores fazem figuras tristes, utilizam linguagem reles e tentam desculpar insucessos desportivos atirando areia para os olhos dos fiéis seguidores.

14 fevereiro 2022 > 00:00

Anda tudo com a cabeça à roda no jardim-escola. Quantos de nós, na condição de pais, educadores, nos deparamos com situações em que os nossos filhos chegam a casa e fazem queixa do colega. ‘Pai, aquele menino bateu-me’.

-‘E tu, que fizeste?’, atiramos logo de seguida. ‘Nada’, resposta pronta do outro lado. ‘Foi ele que começou’. Depois lá vamos descobrir que não foi bem assim, que talvez haja culpa dos dois lados e concluímos: ‘são crianças’.

Pois bem. São crianças, estão a crescer, a aprender comportamentos e atitudes em grupo, no seio da turma, da equipa, da catequese, enfim, estão a moldar-se para o futuro. Vamos desculpando aqui, repreendendo ali e a coisa vai rolando.

Mas são crianças e olhamos para elas como tal.

Mas será que temos crianças na gestão das sociedades desportivas que competem nas nossas competições profissionais de futebol? Se não são, comportam-se, na maioria das vezes, como tal. Não têm atitudes de gestores profissionais, comportamentos de quem tem na mão milhões de euros para gerir, de quem tem na mão máquinas que são capazes de atrair a atenção de milhões de pessoas.

Agem como as crianças na escola. Aquele menino é o mau da turma e tudo que nos acontece de negativo é culpa dele. O nosso comportamento é sempre relativizado, tem sempre justificação.

O último clássico do futebol português trouxe à liça todos estes comportamentos. Os jogadores, na maioria muito experientes e habituados a estas andanças, tiveram um comportamento em campo e fora dele que não serve de exemplo a esses milhares de crianças e jovens que os idolatram. Simulam agressões, ludibriam o árbitro, tentam prejudicar o adversário de ocasião com subterfúgios que, acredito eu, os faça corar de vergonha quando regressam a casa e encaram a família e amigos.

Eu, desportista de recreio, coraria.

Dirigentes e seus assessores fazem figuras tristes, utilizam linguagem reles e tentam desculpar insucessos desportivos atirando areia para os olhos dos fiéis seguidores e alimentando polémicas mediáticas por vários dias. Polémicas que só terminarão quando uma outra começar.

Com imagens tão elucidativas do que se passou, com as pessoas devidamente identificadas, puna-se de forma exemplar quem tiver de ser punido sem olhar a quem. Só assim se limpa uma imagem degradante e se dá às crianças e jovens a demonstração de que aquelas atitudes não podem ser repetidas.

E não entremos no jogo dialético de perceber quem, naquelas duas horas, teve mais ou menos culpa porque se esse for o caminho não chegaremos a lado nenhum. Porque, tal como na escola, a culpa é sempre do outro e nunca olhamos para o que fazemos.

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