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Três documentos/momentos… (continuação) (4)

Apelam a sinergias nacionais e internacionais na luta contra todas as formas de manipulação e deturpação do jogo me do desporto, implementando princípios de boa gestão, democrática e transparente

11 novembro 2022 > 00:00

A partir do artigo 10 – A proteção e a promoção da integridade e de valores éticos da educação física, da atividade física e do desporto devem ser uma preocupação constante para todos – especificando o abuso, a violência, a dopagem, a exploração política, a corrupção e a manipulação das competições e práticas físicas e desportivas, pondo em causa a credibilidade e a integridade da educação e dos desportos em todas as suas vertentes e formas, afirmam-se os valores e denunciam-se os atropelos aos mesmos. E esta é uma motivação para todos os promotores, instituições e praticantes da atividades físicas e do desporto, unindo “forças para assegurar uma resposta coordenada às ameaças contra a integridade” (10.1). Isto implica a promoção e a realização concreta dos valores que o jogo e o desporto promovem entre todas as mulheres e homens que se movem na educação física, no desporto e na prática física. Urge afastar os efeitos negativos da negação destes valores e proteger todas e todos que praticam e educam pelo jogo e o desporto, quer no lazer, quer no desporto de alta competição. Ou, como afirma o texto no artigo 10.2: “a integridade da comunidade desportiva e os direitos das pessoas envolvidas em todos os âmbitos”. Os autores do texto têm plena consciência das trafulhices que acompanham este fenómeno e, por isso mesmo, apelam a sinergias nacionais e internacionais na luta contra todas as formas de manipulação e deturpação do jogo me do desporto, implementando princípios de boa gestão, democrática e transparente, auscultando todos os interessados acerca do fenómeno jogo/desporto, e não só a alta competição. O objetivo é que esteja ao serviço do cidadão e da cidadania, promovendo o encontro e a paz, favorecendo o diálogo intercultural, etc., os direitos humanos em toda a sua plenitude (passe a redundância, mas o próximo Mundial de Futebol parece-me a negação mais explicita destes valores). Mas no 10.10, falando nos meios de comunicação (hoje uma panóplia meios para além dos jornais, rádios e televisões), é urgente definir bem o seu papel. Não raras vezes, manipuladas politicamente e economicamente, estão ao serviços de interesses que pouco ou nada interessam ao desporto, à prática desportiva e à educação física.

O artigo 11 propõe-se, com muita audácia, desafiar o jogo e o desporto a realizarem um papel promotor da paz e do desenvolvimento integral das pessoas e das sociedades; ou mesmo a sua relevância nas situações de pós-conflito e/ou pós-desastre – A educação física, a atividade física e o desporto podem desempenhar um papel importante na realização de objetivos relacionados ao desenvolvimento, à paz e a situações de pós-conflito ou pós-desastre –. Logo no início do texto temos esta ousadia do jogo/desporto: “iniciativas que promovam o desporto para o desenvolvimento e a paz devem ter como objetivo a erradicação da pobreza, assim como o fortalecimento da democracia, dos direitos humanos, da segurança, da cultura de paz e não-violência, do diálogo e da resolução de conflitos, da tolerância e da não discriminação, da inclusão social, da igualdade de género, do Estado de direito, da sustentabilidade, da consciência ambiental, da saúde, da educação e do papel da sociedade civil”. Promovendo o desenvolvimento e a paz, devem ser um tempo e um espaço para prevenir os conflitos e fortalecer o espírito de entreajuda nos momentos mais difíceis, contribuindo para uma mais e melhor cidade. E para tal deve estimular a sustentabilidade e a integridade das pessoas e da realidade em que vivemos, nos movemos e existimos. E sempre inclusivas, nunca deixando ninguém de fora, independentemente das opções políticas, religiosas, culturais, sexuais, etc.

E, concluindo esta Carta Internacional da Educação Física, da Atividade Física e do Desporto, o artigo 12, em 3 parágrafos, apresenta a necessária cooperação internacional com sendo estritamente necessária para expandir e realizar estes propósitos que são património, desde sempre, do jogo e do desporto – A cooperação internacional é um pré-requisito para ampliar o alcance e os efeitos da educação física, da atividade física e do desporto –. Quer entre as pessoas, as comunidades e as nações, e, acrescento eu, a natureza. Pois julgo que a ecologia, que não se reduz à natureza, não pode descurar esta. Pois a Casa Comum dos humanos e das suas comunidades/sociedades acontece e vive neste planeta que não tem plano B. Só uma visão integral poderá promover a paz e a justiça, numa vivência saudável e cooperante entre todas as criaturas que nele habitam. Estes, como é pretensão desta Carta, são “princípios universais” (12.3) e pretendem reduzir as disparidades existentes nas diversas geografias desta Casa Comum, onde uns têm tudo, e outros nada têm. Enquanto esta realidade prevalecer o jogo/desporto dos nossos dias está longe do ideal que persegue desde sempre, e perto da especulação e da ditadura económico-financeira a que hoje o desporto está sujeito. Aqui os resultados (mesmo os desportivos, digo-o com ironia) são importantes e medidos pelos resultados do negócio desportivo (paradigmático no ocidente e no futebol, infelizmente), que são os resultados que interessam para aferir o seu real valor.

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