Tratar o tornozelo é hoje mais rápido. Hélder Pereira tem quota-parte nisso
Ortopedista vimaranense apresentou livro de 400 páginas que reúne o conhecimento mais atualizado sobre a articulação, epicentro de frequentes lesões entre os atletas de alta competição.

A ortopedia é o dia a dia de Hélder Pereira há mais de 20 anos. Nesse dealbar do exercício da medicina, concentrou a busca do conhecimento no joelho, tanto que a sua tese de doutoramento explora “a patologia do joelho”. Mas o tornozelo começou a merecer um olhar atento há 15 anos e, desde então, o tratamento das lesões sofreu alterações profundas, refletindo-se no menor “tempo de regresso à competição para os atletas”, particularmente afetados por tais mazelas.
“Quanto às lesões ligamentares do tornozelo, mesmo em atletas de elite, somos hoje muito mais eficazes. Antigamente havia períodos longos de imobilização, e isso hoje raramente existe. Os tempos de recuperação reduziram dramaticamente”, descreve ao Tempo de Jogo o especialista natural de Caldas das Taipas. O mesmo se aplica ao joelho, com “timings mais curtos de recuperação” para lesões que, há duas décadas, eram “muito difíceis de tratar” ou “não tinham mesmo tratamento”.
Procurado por centenas de atletas, entre os quais os futebolistas Danilo Pereira (PSG), Pepe (FC Porto), Luís Neto (Sporting) ou André André, recentemente emprestado pelo Vitória para o Al-Ittihad, Hélder Pereira viu o estudo biomecânico da instabilidade do tornozelo galardoado, em 2017, com o prémio científico Jan Gillquist – “medalha de prata” pela Sociedade Internacional de Ortopedia e Traumatologia Desportiva. O vimaranense é, assim, um dos responsáveis pelo crescente conhecimento sobre o funcionamento do tornozelo, “nomeadamente alguns dos seus ligamentos”, e decidiu verter essa evolução do “estado da arte” para um livro.
Apresentado nesta terça-feira, em Vila do Conde, Lateral Ankle Instability: An International Approach by the Ankle Instability Group (“Instabilidade do tornozelo lateral: uma abordagem internacional pelo Ankle Instability Group”, na tradução português) comprime, em 400 páginas e 40 capítulos, “tudo o que de mais atualizado existe” quanto à “essência e prevenção” da lesão, que conduziu ao “desenvolvimento de novas técnicas para o tratamento cirúrgico menos agressivo” da articulação. “O Ankle Instability Group reúne os maiores especialistas na área. O livro condensa o conhecimento mais atual, a partir de fisioterapeutas, reabilitadores, preparadores físicos, médicos cirurgiões e não cirurgiões, com os prós e contras de todas as abordagens”, refere o diretor de investigação do Centro de Excelência Clínica da FIFA - Rypol y De Prado Sports Clinic, em Madrid.
Vencer a Liga dos Campeões através da dor
Procurado por atletas de elite nacionais e internacionais, o vimaranense recusa elencar todos os protagonistas com quem já trabalhou, mas guarda um caso que o marcou particularmente: o de um futebolista que o procurou quando tinha uma “lesão com gravidade e algum tempo de evolução”, meses antes de uma final da Liga dos Campeões que a sua equipa viria a disputar. Sob a ameaça do clube contratar um outro nome para o seu lugar caso não estivesse “apto”, o jogador tratou-se e disputou a final ainda “em sofrimento”. “Quem estava a ver esse jogo na televisão não notava. Da parte médica, havia aquela expetativa de como as coisas iriam correr. Felizmente correram bem. Esse atleta ganhou o troféu que tanto ambicionava”, recorda.