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Sobre rodas, até onde o skate os levar

Nas ruas e no desporto, o skate tem ganho terreno e consideração. Ainda assim, Guimarães põe jovens a “tirar ticket” para rolar naquele que era suposto ser “o melhor skatepark do país”.

22 agosto 2021 > 08:56

São jovens, são cool e vivem esta modalidade cheia de bons sentimentos, que está aqui para crescer e ficar, ou não fosse o skate uma das mais recentes modalidades a entrar no painel dos Jogos Olímpicos. Aliás, segundo o Instituto Português da Juventude (IPDJ), tem existido grande procura por desportos de regime individual e de espaços abertos, razão pela qual o skate foi das modalidades que mais cresceu em fase de pandemia.

De calças largas, boné e prancha na mão, vê-se no skatepark de Guimarães um grande grupo de jovens a subir e descer rampas, a deslizar em corrimãos, a saltar por cima de escadas e a rodopiar as tábuas no ar. João Carvalho é um deles. Tinha 12 anos quando começou este desporto, o que totaliza seis anos de prática. Atrás de sua casa, tinha uma skateshop por onde passava regularmente e admirava os materiais lá dispostos. A curiosidade transformou-se em paixão. Um dia pediu uma prancha ao pai e, assim que se pousou em cima dela, começou a andar sem nunca mais parar.

Agora faz parte de uma rotina e, quase todos os dias, o vimaranense visita o espaço no Parque da Cidade. “Mesmo quando estudava na Trofa, eu vinha de comboio, depois vinha pela ciclovia a andar e parava aqui duas ou três horinhas. Outras vezes acontecia ser mais fácil ir para o Porto e estar com amigos de lá a andar de skate. Lá até era melhor porque aqui é repetitivo”, conta João.

A palavra “repetitivo” ou “limitado” foi muito frequente nas conversas com os jovens que rolavam pelo skatepark. Segundo os desportistas, comparativamente a todos os skateparks que já visitaram (como Braga,Maia ou Aveiro), o de Guimarães, que foi descrito pelo presidente da Câmara, Domingos Bragança, como uma referência a nível nacional e “o melhor skatepark do país” durante a inauguração da estrutura em 2018, não se pode sequer considerar o melhor do Norte e fica em desvantagem em relação a outros parques. As razões apontadas têm a ver sobretudo com a dimensão da construção cujo investimento foi de 143.164,55 euros mais IVA; o local oferece pouca variedade de obstáculos, traduzindo-se na consequente limitação de movimentos em quem pratica e quer evoluir. Outro problema que se aponta está na negligência a nível de manutenção do espaço. “Tinha tudo para ser um bom parque, mas está muito encolhido. Além disso, não tem luz, o que faz com que tenhamos de vir nas horas de calor e evitar a noite, que é mais fresca. Também não tem manutenção. Então lixo e poeiras que levantam acabam por se meter no rinque e só quando está muito sujo limpam, muito de longe a longe”, critica o skater.

Em resposta aos alertas, a Câmara Municipal refere que, ao longo destes anos, não teve necessidade de realizar qualquer manutenção nos equipamentos, mas que há, de facto, um problema com a iluminação que o Departamento de Obras Municipais e a EDP estão a tentar solucionar, mesmo não sendo fácil de o identificar.

Paulo Ribeiro, coordenador nacional do comité de skate da Federação de Patinagem de Portugal (FPP), partilha a noção de crescimento da modalidade com o IPDJ, acrescentando que Portugal é dos países com maior número de parques por metro quadrado em toda a Europa. Tais dados podem não ser tão positivos quanto aparentam.

“Existem cerca de 203 parques desportivos e uns 30 parques em construção de norte a sul do país. Não é bom, porque infelizmente os parques que existem são de caráter recreativo. Ou seja, é bom para a modalidade e para o divertimento das crianças, mas esses parques acabam por não ter uma progressão pedagógica do desenvolvimento da modalidade, nem por servir o skate como modalidade desportiva”, atira Paulo Ribeiro, concluindo com um apelo. “Aquilo que pedimos às autarquias, visto que ainda não há uma regulamentação independente para os skateparks, é abordarem a federação pedindo uma análise técnica dos equipamentos, porque o investimento acaba por ser grande e muitas vezes não acompanha as necessidades do desporto”.

João pretende um dia ser profissional de skate, tendo já competido na Liga Pro Skate – a liga nacional de skate – em sub-18, por duas vezes; na última ocasião, ficou em terceiro lugar. “Considero sério e é um sonho atingir o profissionalismo. Nós praticamos muito por aqui, mas isto é pequeno e optamos por visitar outros sítios”. Tão "pequeno" que se faz fila de espera. “Já criamos uma piada entre nós. Quando vemos alguém andar sem ser a sua vez, dizemos: Ei, não tiraste ticket! Quando vou a outro parque, ando a pares ou o que seja com o pessoal e há sempre obstáculos que nos desafiam. Aqui fazemos sempre a mesma coisa”, sublinha.

Por aquilo que se pode perceber, trata-se de uma comunidade forte. João descreve os grupos que param por lá como “unidos” e abertos a quem queira aprender.

"Há de tudo e claro que há quem se ria de quem não saiba andar, mas já estamos habituados a ver tanto pessoal a querer começar que já não se goza, ajuda-se”, garante. Toninho é um desses casos de ajuda. Tem sete anos e começou a envolver-se com esta comunidade com apenas quatro anos. De andar gingão de quem se está a divertir, Toninho mostra-se orgulhoso de como domina a prancha perante os amigos e o pai, que o acompanha. Apareceu pela primeira vez no parque sem receio do que pudessem pensar ou dos meninos grandes, após ver vídeos no Youtube e pedir uma tábua a um tio. Hoje, após três anos de quedas e de treino de novos truques, com a confiança que transmite ninguém diria que é um menino tão novo. Do alto do seus 1,20 metros, Toninho já sente o parque demasiado pequeno para as suas habilidades e anseia por mais. E, tal como ele, outros skaters que continuam a aparecer.

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