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Sobre ginástica laboral e locais de trabalho ativos

A ginástica laboral é mais um instrumento de combate ao sedentarismo e inatividade física, mas o conceito é muito mais abrangente.

12 julho 2021 > 00:00

Já aqui me referi ao último Eurobarómetro sobre Desporto e Atividade Física na Europa (publicado em 2018) para abordar o problema do sedentarismo. Retomo a leitura deste documento a propósito do lançamento de um programa piloto de ginástica laboral pela Tempo Livre que envolve duas empresas de Guimarães – uma unidade fabril e um serviço público.

É um projeto interessante, tecnicamente bem desenhado. Segue, com rigor, boas práticas implementadas com sucesso por outros países, onde o tecido económico está a rever o seu modelo de funcionamento e a adotar a mudança.

Quando me refiro a “sucesso” quero dizer que o resultado desses programas de ginástica laboral, ou “locais de trabalho ativos”, depois de feita a devida monitorização e avaliação, revertem em ganhos. Lucro para as empresas, benefícios para as pessoas. Está demonstrado.

Num dia normal, cerca de 70 por cento dos europeus inquiridos pelo Eurobarómetro estão continuamente sentados entre 2,5 e 8,5 horas. Mais grave: há 12 por cento de europeus que passam mais de 8,5 horas sentados. Seja no escritório, na fábrica, a conduzir ou simplesmente inativos, em casa.

A ginástica laboral é mais um instrumento de combate ao sedentarismo e inatividade física, mas o conceito é muito mais abrangente.

Do lado das empresas, entre outros benefícios evidenciados, sabe-se que a produção aumenta, o absentismo reduz (particularmente a ausência por doença), a estabilidade da equipa reforça-se (menor número de substituições), melhora a satisfação, a comunicação e a motivação individual.

Do lado das pessoas está demonstrado que melhora a gestão do stress, o sono, a condição de saúde física e mental, aumenta a autoestima, reduz o risco de doenças crónicas, diabetes, cardiopatias, apoplexias, doenças oncológicas.

Pessoas mais satisfeitas trabalham mais e melhor, logo, as empresas ganham com isso.

Portanto, a questão é saber o que podemos fazer para diminuir os riscos que estamos a correr seguindo modelos laborais inimigos da saúde, seja por excesso ou privação de exercício, seja pela não adoção de medidas que mitiguem os riscos e os prejuízos. Estaremos dispostos a mudar de atitude e de modelo? Estarão as empresas preparadas para fazer pausas ativas ou de relaxamento e considerar este tempo como parte do seu próprio funcionamento e produção, encarando-os como um benefício?

Estamos a viver um tempo transformação. Do chão de fábrica ao escritório virtual, o ser humano partilha cada vez mais o seu contexto de trabalho com robôs e inteligência artificial. A gestão dos limites vai intensificar-se e complexificar-se.

Talvez se fizermos as contas ao absentismo, acidentes de trabalho, desmotivação, erros, ineficiências e menor quantidade de trabalho, compreendamos melhor. Portugal chegará (mais) tarde à resposta, provavelmente, quando todos os outros países europeus já estiverem na etapa seguinte. Até lá, continuaremos na cauda, persistindo em modelos e práticas do século passado, e ainda assim, desejando ser competitivos no século XXI.

 

Referências:

British Heart Foundation’s Health at Work - Economic evidence report for workplace health (2016)

Special Eurobarometer 472 Report, European Comission (2018)

Active Workplaces – GreaterSport Strategy, Manchester, UK (2025)

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