Recuperação épica leva Portugal aos penáltis. Daí foi um passo para o ouro
A seleção feminina sagrou-se campeã mundial universitária em Guimarães, após conseguir o que parecia impossível: recuperou quatro golos de desvantagem na segunda parte e foi melhor nos penáltis.

Monumental, épico, assombroso: todos os adjetivos se enquadram sem exagero no que a seleção portuguesa fez este domingo, em Guimarães: as comandadas de Ricardo Azevedo perdiam por 5-1 ao intervalo, perante um Brasil que fora até então inequivocamente melhor. Apesar da qualidade adversária, a equipa das quinas entregou-se à final com tudo ao longo de 40 minutos e beneficiou de algum relaxamento canarinho para reentrar na discussão, algo que viria a concretizar-se nos cinco minutos finais, com três golos, o último dos quais a 1,1 segundos da última buzina.
Portugal manteve-se assim a salvo, levando o embate decisivo para um prolongamento onde as equipas se anularam, antes do tira-teimas nas grandes penalidades. As cinco portuguesas que se encarregaram de bater foram irrepreensíveis. As primeiras quatro brasileiras também. Tudo se decidiu na quinta penalidade brasileira. Mayara de Almeida deu muito balanço, aproximando-se da linha do meio-campo, mas na hora de chegar à bola atirou fraco, à figura de Madalena Galhardo.
Estava assim consumado o primeiro título mundial universitário feminino de Portugal, com um enredo digno de um thriller. A euforia nas hostes portuguesas e na maioria dos adeptos que compunham as bancadas era evidente: punhos erguidos no ar, abraços sentidos, lágrimas a escorrer.
Uma equipa com ‘vira’ para uma final que começou a sambar
No Multiusos, palco dos embates decisivos deste último dia de mundial, as canarinhas marcaram logo uma posição autoritária: Ana Luiza do Nascimento ganhou uma bola dividida com uma defesa lusa e encaminhou-se isolada para a baliza, atirando rasteiro para o fundo das redes. Estava feito o primeiro golo, decorridos oito segundos de jogo.
Sempre disponíveis para se entregarem e conterem o poderio brasileiro, as jogadoras portuguesas chamaram a si a bola e responderam com o empate dois minutos volvidos, num desvio de cabeça eximo de Angélica Alves em resposta a passe longo da defesa.
Portugal continuou a fazer pressão para forçar o erro adversário junto à sua baliza, mas a presença física das brasileiras suportou as investidas, precedendo um novo assalto à baliza lusa, que inclinou o resto da primeira parte
Beatriz Fernandes devolveu a vantagem ao Brasil um minuto depois do tento português e Ana Luiza robusteceu esse ascendente a meio da primeira metade; em ambas as ocasiões as jogadoras fuzilaram as redes, antes de Beatriz voltar a marcar e de Luana da Silva fazer pela primeira vez o gosto ao pé num lance em que a guarda-redes lusa poderia ter reagido mais rapidamente.
A avalanche de golos fez da reviravolta uma tarefa quase impossível à partida para a segunda metade. Ainda assim, as jovens orientadas por Ricardo Azevedo lançaram-se em busca de um resultado melhor com tudo o que tinham e reduziram logo aos 23.20 minutos, com Angélica Alves a fazer o bis.
A reação decisiva, porém, aconteceu nos cinco minutos finais, quando Portugal seguiu a máxima de Quinito e meteu “toda a carne no assador”: com guarda-redes avançado, a seleção lusa acercou-se da área brasileira e fez o 5-3 por Catarina Lopes, a quatro minutos do fim.
As canarinhas acusaram o golo, perderam confiança e perdiam a bola mal a ganhavam, o que deu às anfitriãs segundos preciosos para manterem a pressão sobre a baliza adversária. No último minuto regulamentar, isso fez toda a diferença: Carolina Pedreira devolveu a esperança a Portugal, ao fazer o 5-4 a 41 segundos do fim, e Catarina Lopes, dínamo da reação portuguesa, consumou o que parecia impossível minutos antes com 1,1 segundos por se jogarem, num belo remate de longe.

Ricardo Azevedo: “Se acreditássemos no nosso trabalho, podíamos ser felizes”
Visivelmente emocionado perante a recuperação das suas jogadoras, o selecionador nacional disse que Portugal finalmente conseguiu o título que já “merecia há mais anos”, recompensa pelo “desenvolvimento do futsal português”.
“Isto é fruto do trabalho e as jogadoras estão de parabéns por tudo o que fizeram. Se acreditássemos no nosso trabalho podíamos ser felizes. Estávamos a perder por quatro ao intervalo, mas mantivemos a cabeça no lugar e ir atrás do resultado. Estão de parabéns e foi extraordinário”, frisa.
A perder por 5-1 ao intervalo, Portugal foi a tempo do caminho do êxito por “manter a identidade, principalmente com bola” e por mostrar “alma portuguesa a defender”, alimentada pelo apoio do público. “O apoio dos portugueses foi muito importante. Dão aquela energia extra… Quando faltam as pernas eles ajudam a dar o resto na quadra”.