Quanta história cabe no espólio de Joaquim Azevedo?
Revistas, jornais, pins, galhardetes, cromos, fotografias. Joaquim Azevedo respira Vitória SC e desde tenra idade dedicou-se a colecionar a sua história. O espaço começa a ser pouco para guardar tudo.

Joaquim Azevedo é vimaranense, tem 71 anos e nasceu paredes meias com a antiga sede do Vitória SC. Foi nas Dominicas que viveu a sua meninice e, por força disso, da proximidade ao quartel-general do Vitória da época - a sede na Rua D. João I -, o clube da sua cidade passou a ser uma das suas grandes paixões. Uma paixão que desde cedo começou a colecionar, através da imprensa. Hoje, passadas várias décadas, tem um espólio impressionante, autênticas preciosidades, pedaços de história.
Conhece cada recorte de jornal pela textura, a partir da cor, ao longe, entre um emaranhado de preciosidades. “É um gosto. Desde sempre guardei coisas do Vitória SC. Na casa em que morava, nas Dominicas, ficou por lá muita coisa quando mudei de casa”, conta Joaquim Azevedo ao Jornal de Guimarães. Tudo começou precisamente nas Dominicas, na Rua Dr. Bento Cardoso, à boleia da tal proximidade ao local onde tudo se passava: a antiga sede do Vitória SC.
“Víamos os jogadores a fazer a recuperação e a ginástica, nas bicicletas antigas e muitas vezes sem óleo. Em rapaz frequentava a sede. Sabíamos tudo: os jogadores que chegavam, quando renovavam contrato, tudo. Antes de toda a gente já sabíamos as coisas, porque íamos para a porta e víamos os jogadores a entrar e a sair”, dá conta. Um entra e sai que apaixonava, a ponto de querer guardar as memórias. Memórias que, depois, começou a comprar bem mais antigas. “Compro coisas no OLX, e outros sites. Outras vou comprando em quiosques. Quando sabia que saía um poster ou algo importante do Vitória guardava isso”, elucida Joaquim Azevedo.
À disposição de quem quiser ver e do Vitória SC
O recorte de jornal mais antigo que Joaquim Azevedo tem no seu espólio data de 1942. Tem 79 anos, portanto, mais do que os anos de vida deste colecionador. Há mais recortes deste ano, algo que o vimaranense gostava de ver devidamente tratado e à disposição de todos, mas que não se tem tornado possível.
O Vitória SC já demonstrou várias vezes interesse, chegando a falar num museu. “Já colaborei com o Vitória, com o Custódio Garcia, com conteúdos para os 86 anos. Colaboro sempre que for necessário. Já vários presidentes, funcionários do clube ou membros de direções, vieram ter comigo para colaborar na organização de um espólio, ou até de um museu. Até do Conselho Vitoriano já vieram ter comigo para colaborar, queriam que lhes passasse tudo”, aponta Joaquim Azevedo.
Da sua parte há a tal abertura para colaborar, mas algo estruturado e não apenas cedência do seu material. “Se é para se fazer alguma coisa, que seja com coragem e para avançar do imediato com um projeto definido. As abordagens que tive foram sempre muito superficiais, apenas para me pedir as coisas”, sublinha.
Até porque as suas relíquias estão sempre à disposição de quem as quiser apreciar. Exibe com gosto aquilo que foi colecionando, e até gostava de ter uma maior organização, mas não tem as condições ideais para isso. “Eu mostro isto a quem quiser ver, claro que não vou andar na rua com isto, mas já veio aqui alguma gente ver o que aqui tenho e estes arquivos. Muita gente sabe que tenho isto. Tenho livros misturados com as garrafas no bar, ainda tenho coisas no sótão. Começo a não ter onde colocar as coisas. Se eu tivesse uma casa que o permitisse punha um espaço com isto mais organizado”, atira.
Nem no Ultramar deixou de colecionar
Joaquim Azevedo tem a história, e histórias, do Vitória SC na ponta da língua. À boleia da sua proximidade com o clube e fruto do seu hobby, atira com sorrisos que conhece melhor os jogadores de outrora do que os jogadores atuais. Desde a revista Stadium, ao Jornal A Bola, que conta já com uns quantos digitalizados, o antigo encarregado de confeção nem no Ultramar deixou de se dedicar à causa do colecionismo, não pelo colecionismo, mas sim para matar o bichinho de ter material alusivo ao Vitória SC.
“Fui para Moçambique para a tropa, já tinha algumas coisas, mas a partir daí comecei a guardar mais coisas. Em 2002, quando deixei de trabalhar, dediquei-me mais a isto, a catalogar isto, e a organizar. Quando estive no Ultramar soube que saiu numa revista um poster de uma equipa do Vitória. Liguei para lá e eles mandaram-me, pus isso no meu quarto. Acabou por ficar por lá”, recorda.
Recentemente foi parar a uma cama de hospital devido a problemas de saúde. Esteve ausente por um longo período de tempo. Quase que perdeu o gosto por andar em redor dos seus recortes, e chegou a prometer desfazer-se das coisas, mas a realidade é que não consegue desligar-se.
“Quando estive doente disse à minha mulher que me ia desfazer de tudo, mas ainda há pouco tempo comprei umas coisas. Desde que vim ainda não tenho grande motivação e capacidade para pegar nisto. De vez em quando já venho aqui e publico algumas coisas nas redes sociais”, atira, complementando depois o seu raciocínio.
“Continuo a manter este gosto. Quando estive doente até disse à minha mulher que me ia desfazer disto tudo. Tenho duas raparigas que não ligam a isto, quando fechar os olhos isto vai para o lixo. Mas, há pouco tempo comprei umas coisas e ela perguntou como era, se me ia desfazer disto ou não”, revela.
"Quando estive doente disse à minha mulher que me ia desfazer de tudo, mas ainda há pouco tempo comprei umas coisas”, Joaquim Azevedo
A família “está sempre a dar na cabeça” por esta espécie de vício. “Há muita coisa ocupada e desarrumada por causa disto”, reconhece. Mas, ao mesmo tempo, é indisfarçável o gosto que continua a nutrir pelo hobby, como o próprio confirma, quase que se penitenciando. Fruto deste gosto já colaborou com blogues e até em livros. Continua a passear pela net e “se aparecer alguma coisa em conta, que acrescente valor”, ainda vai comprando para adicionar ao seu espólio.
Adepto fervoroso do Vitória, habituado desde sempre a ir ao estádio, a pandemia deu-lhe as voltas nos últimos tempos. Já não ia aos jogos à noite e ainda não regressou ao D. Afonso Henriques no pós pandemia, até pelo problema de saúde que teve. Mas a chama não se apaga. Continua, aos poucos, a cercar-se da sua valorosa coleção: “Antes pegava muitas vezes nisto. Agora, tenho voltado a olhar para as coisas. Costumo procurar coisas nestes arquivos sobre os adversários do Vitória, para ver se encontro alguma história ou assim”.