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Quando se troca o Sentido de Estado pelo Sentido de Estádio

Se a FIFA se preocupasse mesmo com esses valores da humanidade não aceitava no seu seio, federações de países que, notoriamente, violam os mais basilares direitos humanos.

21 novembro 2022 > 00:00

Com o aproximar do Campeonato do Mundo de futebol começou a adensar-se o debate sobre a idoneidade de um país como o Catar para a organização de tão importante evento. As opiniões vão-se disseminando, um pouco por toda a parte, e há-as para todos os gostos. Cá vai a minha.

O meu ponto de partida divide-se em dois: o futebol e a política. A FIFA é uma organização mundial que reúne as federações de futebol, regula a prática do jogo e promove torneios de várias idades e de ambos os géneros, onde se insere este mundial que se joga, este ano, no Catar. É uma organização que envolve milhões de dólares, que é cobiçada por várias nações e que, há 12 anos, a FIFA decidiu atribuir ao Catar num processo embrenhado de corrupção e de jogos sujos de bastidores. Todos, em todo o mundo, sabem o que é o Catar mas isso não impediu que este país ganhasse o direito de acolher o mundial. Apesar de algumas campanhas que possam indiciar o contrário, creio que os responsáveis da FIFA estão pouco preocupados com os grandes valores da humanidade. O que conta mesmo é o futebol negócio, o lucro, a circulação de milhões e milhões de dólares em direitos e patrocínios. Uma máquina gorda, que vai da FIFA às federações nacionais, que é preciso manter. Porque a FIFA é apenas o espelho dessas mesmas federações.

Se a FIFA se preocupasse mesmo com esses valores da humanidade não aceitava no seu seio, federações de países que, notoriamente, violam os mais basilares direitos humanos. A FIFA está a organizar este mundial no Catar com o mesmo estado de espírito com que o fez na Rússia, no Brasil, na África do Sul, na Alemanha ou noutro país anfitrião qualquer. Logo que haja dinheiro a bola rola, seja no Catar ou na Coreia do Norte.

Mas se o futebol é o futebol e as decisões tomadas nesse mundo são da responsabilidade dos seus dirigentes, na política é diferente.

Em França, os autarcas das principais cidades do país, proibiram a exibição dos jogos deste mundial em ecrãs gigantes como forma de protesto pela sua realização no Catar. Nada resolve mas é uma tomada de posição simbólica.

Os políticos cá do burgo, não só não vincaram nenhum protesto como se preparam para ir, à vez, ao Catar ver os jogos da seleção. Marcelo Rebelo de Sousa – que declarações infelizes em Alvalade – Santos Silva e António Costa, ocupam as três cadeiras mais importantes do país e não resistem ao chamamento da bola, mesmo que a deslocação seja ao Médio Oriente e vá ficar bastante cara ao erário público. E as desculpas de que vão lá apoiar Portugal e não o Catar são só ridículas.

A seleção portuguesa, gerida por uma federação que faz parte da FIFA, vai lá ganhar o seu dinheiro e participar na prova com toda a legitimidade. Mas a classe política devia ter mais tino porque há valores que se devem sobrepor à ‘folia da bola’. Trocam o sentido de Estado pelo sentido de Estádio.

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