Quando o projeto bate na trave
Profissionalismo na gestão, planeamento, ideias comuns na estrutura e, paciência. Muita paciência. O projeto não pode ficar em causa só porque a bola bateu na trave.

A cada início de época futebolística os discursos repetem-se. Os presidentes dos clubes/SAD apresentam os treinadores e não faltam loas. São juras de amor, quase eterno. “É um treinador que seguimos há muito, tem o perfil adequado para o nosso projeto e vai ficar cá durante muitos anos”. Mais ou menos palavra, é este o sentido das apresentações dos treinadores.
O problema é quando a bola começa a rolar. Existe em Portugal – mas não é problema exclusivo do nosso país – um problema de mentalidade desportiva na classe dirigente, nos adeptos e até na imprensa. Desde logo, na bancada, os adeptos não querem saber das condições em que o trabalho é desenvolvido. Querem ver a equipa a ganhar. Pode o treinador, no final de uma derrota, falar do processo, das basculações, da pressão alta, dos passes de rutura, das entrelinhas e outros neologismos do futebolês que os fazem parecer ‘doutores da bola’, que se não ganhar dois ou três jogos seguidos sabe que tem o lugar em risco. Os jornalistas também não resistem à pergunta sacramental do ´acha que tem condições para continuar?’
Os dirigentes não têm uma cultura de paciência, de acreditar, de facto, no projeto, de o deixar vingar. A pressão dos adeptos, da imprensa, de agentes de treinadores no desemprego, costuma resultar e um ‘novo amor’ rapidamente surge.
Em Inglaterra é comum um treinador permanecer várias épocas no cargo, independentemente de ter, ou não, resultados imediatos. É mesmo uma questão de cultura, de seguir um plano traçado, e esperar que dê frutos.
Por cá, esta ‘dança de treinadores’ demonstra mais a incapacidade dos dirigentes. Muitos falam de projetos quando não os têm e a única saída é ganhar. Outros têm projeto mas não aguentam a pressão dos adeptos. Outros consideram-se muito conhecedores e imiscuem-se no trabalho dos treinadores. A gestão de um clube/SAD de futebol deveria estar bem assente num plano económico/desportivo que todos conhecessem, que nele vissem futuro, e que estivesse segmentado com objetivos balizados no tempo. Metas a curto/médio/longo prazo e não algo aos solavancos, com inícios e reinícios e, muitas das vezes, com escolha de treinadores que são a antítese do antecessor, o tal que era o ideal para o projeto.
Profissionalismo na gestão, planeamento, ideias comuns na estrutura e, paciência. Muita paciência. O projeto não pode ficar em causa só porque a bola bateu na trave. Um dia essa bola entrará e o projeto, se for sólido, vingará.