Quando chegam os obstáculos, Bruna e o seu cavalo agem como “um só”
Aos 15 anos, a vimaranense tem-se destacado no panorama jovem nacional dos saltos de obstáculos. Os resultados são fruto do trabalho, mas também do quão profunda é a ligação entre cavaleira e equídeo.

Erguida sobre Quontender, Bruna Carvalho faz a última curva para encarar mais uma barreira. Enfim de frente para o obstáculo fixado a 1,30 metros de altura, galopa mais rápido e mais rápido até ao instante em que tudo se decide; não falhou. Com a energia concentrada nas patas, aquela silhueta castanha e brilhante ergueu-se, imaculada, sobre a vara, levando a companheira de 15 anos a mais um salto bem sucedido. Entre movimentos repetidos sem conta, o par alcançou o terceiro lugar no Concurso de Saltos Internacional de juniores, para 1,20 metros de altura, decorrido em 21 de junho, no Centro Hípico do Porto e Matosinhos.
Quando examina os feitos, a amazona de Mesão Frio recusa colher todos os louros; as competições são o desenlace das ligações que alimenta com os seus três cavalos, não só através de cenouras, biscoitos, “festinhas” ou “material bom”, mas também de palavras. “Converso imenso com os meus cavalos. Sinto que faz mesmo a diferença quando estou numa prova. Sinto que comunicam comigo de outra maneira. Sinto que somos um só”, reitera ao Tempo de Jogo, nos estábulos do Centro Hípico do Porto e Matosinhos, onde treina regularmente, ao lado de Caesar, outro dos seus cavalos.
À medida que progride na modalidade, Bruna Carvalho apercebe-se que o sucesso não depende somente da destreza do equídeo ou do humano, mas da comunicação entre ambos. E dá pormenores. “Eu posso dar uma má indicação e ele safa-me: ajuda-me a chegar bem ao salto ou faz um esforço maior para eu não tocar [no obstáculo]. Se eu o desequilibrar numa volta, ele recompõe-se. Um cavalo com não tanta atenção ou não tão bem cuidado desleixava-se”, explica.
Mas há maneiras e maneiras de dar atenção; os laços com os três cavalos fortalecem-se consoante as personalidades em causa. Com Caesar, equídeo com “bastantes medos”, a vimaranense tem de “estar sempre focada em respeitá-lo”, sem “forçá-lo” ao que quer que seja, para não lhe “tirar a confiança”. Com Quontender ou Tornedo Dingeshof Z, atualmente lesionado, está mais à vontade para os comandar. “Cada um tem as suas manias e tenho de os respeitar”, salienta.

Uma relação nutrida desde o berço
A vimaranense é 33.ª classificada do ranking nacional da Juventude após quatro anos seguidos de competição, mas a ligação ao meio equestre começou quando ainda “era pequenina”. Um ou dois anos antes de Bruna nascer, a mãe começou a ter aulas de equitação no Centro Equestre de Guimarães, na Penha, que veio a ser presidido pelo avô materno. ”A minha mãe competia e tinha cavalos. Quando era pequenina, dava umas voltinhas no colo dela e comecei a gostar”, recorda.
Bibiana Fernandes desistiu da equitação para dar “prioridade” à educação da filha, mas o gosto por aquele mundo nunca abandonou Bruna. Aos 11 anos, teve finalmente oportunidade para umas “aulinhas de equitação” e, daí, foi sempre a crescer. “Nunca tive aquele medo que uma pessoa que está a iniciar sente. Montar a cavalo é uma coisa única. Não sei explicar a sensação, mas sempre tive a vontade de começar e de me agarrar àquilo”, descreve.
O Centro Hípico da Pena Brava, em Abação, foi a sua casa por dois anos, oferecendo-lhe um “bom ambiente”, “bastante apoio” e a primeira égua. “A Briosa era impecável”, recorda com saudade.
“Os meus sonhos já foram concretizados”
Disposta a ser “aplicada na escola”, a cavaleira admite que lhe foi um “bocado difícil” conjugar a equitação e o foco “nos testes”. Agora até é “mais fácil”, apesar de dedicar mais tempo à competição. O dia a dia de Bruna mudou há dois anos, quando se mudou para o Centro Hípico do Porto e Matosinhos.
Com uma área reservada para os seus três cavalos, é acompanhada pelo professor Miguel Laranjeiro e pelo tratador Bruno Moreira. É uma “nova realidade” e um “novo estilo de vida” que Bruna Carvalho aproveitar para “evoluir”. “Aqui ou é ou não é. Se queremos evoluir, temos mesmo de nos agarrar a isto e focar-nos completamente nos nossos objetivos. Aqui é um espaço muito maior e temos outras condições”, frisou.
Ciente de que tem “erros como toda a gente”, a cavaleira diz-se “rápida a corrigi-los” e “focada” naquilo que quer. “Se no primeiro dia de provas cometer um erro grave, tenho a perfeita noção de que, no segundo dia, tenho de corrigir isso. Não me foco só numa vitória, mas na correção do erro”, detalha.
Fotografias: Pedro C. Esteves
Apesar de o currículo incluir apenas competições em Portugal, a cavaleira confessa que os “sonhos já foram concretizados”; Bruna ansiava ter um cavalo e, neste momento, já tem três. Agora concentrada em “conseguir sempre melhor” e “aproveitar todas as oportunidades”, a vimaranense reserva palavras de gratidão a quem a acompanha. Agradece ao tratador Bruno Moreira por estar “diariamente com os cavalos”, “falar com eles” e deixá-los “relaxados”.
Já os pais, Bruno e Bibiana, descreve-os como “incríveis”. “Apoiam-me incondicionalmente e estão sempre cá para mim, tanto para uma vitória ou para quando me corre menos bem uma prova. Estão sempre lá para me ajudar e para não me deixarem deitar abaixo. Estão sempre comigo”.
* com Pedro C. Esteves