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Palavras para um vizinho centenário

Os sócios do Vitória deveriam ter a capacidade para evitar divisionismos de ocasião, perceber que talvez seja fundamental dar passos atrás para que o futuro seja feito com menos sobressaltos.

26 setembro 2022 > 00:00

Os seis anos que passei, de 2002 a 2008, a trabalhar no desporto da Rádio Fundação fizeram-me conhecer de forma profunda a realidade do Vitória Sport Club, ou Vitória de Guimarães, mas nunca do… Guimarães. Um clube com características muito próprias, caso único no panorama desportivo nacional, que me fez viver momentos que jamais esquecerei. Aprendi a valorizar e a apreciar a paixão que os vitorianos sentem pelo seu clube. Senti-a no dia em que vi um adepto a ir sozinho de carro, com um cachecol de fora, de Guimarães à Amadora, no final do jogo que ditou a descida à II Liga, ou, no dia seguinte, em que uma sócia, num fórum da Rádio Fundação me disse que era o dia mais triste da vida e, confessava, que já tinha perdido os pais. No motor que foram os adeptos para que essa passagem pelo segundo escalão fosse fugaz, não abandonaram o clube e, ao invés, houve um crescimento no número de sócios. Poderia estar aqui a dar um rol de exemplos ilustrativos do grande sentimento vitoriano que tive o privilégio de testemunhar.

Uma massa de extremos e que, por isso, também me faz ter um conjunto de experiências menos positivas e, muitas delas, bem vivas na memória de muitos vitorianos, e não só.

É neste limbo da paixão que vai caminhando o Vitória. E como qualquer pessoa ou organização que caminha pelo limbo nunca dá passos verdadeiramente seguros. A paixão quando é doentia, cega, tira alguma da racionalidade que, em muitos momentos, é determinante para a tomada de decisões.

O Vitória tem vivido de altos e baixos e, é reconhecido por toda a crítica desportiva nacional, tem um enorme potencial para ser presença assídua nos grandes momentos do futebol português. Desde logo porque tem massa crítica, gente apaixonada, uma cidade e um concelho atrás de si. Poucos se poderão gabar disso.

O que na minha opinião tem falhado sucessivamente no Vitória é a capacidade de parar para pensar. Esse turbilhão de emoções, essa exigência desmedida, a falta de capacidade de perceber o momento que se vive tem potenciado muitos ‘tiros nos pés’ e um sucessivo ‘pára-arranca’ na sustentabilidade do clube. Amiudadas mudanças de rumo, ziguezagues que vão fazendo perigar o futuro a curto ou médio prazo. Na minha opinião, apenas de um vizinho atento, os sócios do Vitória deveriam ter a capacidade para evitar divisionismos de ocasião, perceber que talvez seja fundamental dar alguns passos atrás para que o caminho para o futuro seja feito com menos sobressaltos. Fazer a figura do Nobre que vive num grande palácio, mas não tem dinheiro para a sopa não é solução. Arrumar a casa, solidificar as finanças e, depois sim, traçar objetivos mais ambiciosos porque, não restem dúvidas, o Vitória tem tudo para se fixar no topo do futebol português. E que falta fazem ao nosso futebol clubes com as caraterísticas do ‘vosso’ Vitória.

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