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O vimaranense que devolveu o Arouca à I Liga

Quatro anos depois de ter deixado a elite, o clube da serra da Freita regressou ao "convívio dos grandes" pela mão de Armando Evangelista. Feito também assinala regresso do treinador à Primeira Liga.

19 junho 2021 > 14:45

Na época 2016/2017, o Futebol Clube de Arouca viveu o sonho e o pesadelo: depois de disputar a fase de qualificação para a Liga Europa, provou o sabor amargo da despromoção. O mau momento continuou e, em 2019, o clube caiu para o Campeonato de Portugal. A queda abrupta contrasta agora com uma ascensão frenética. Em 2020, carimbou a subida à Segunda Liga e agora está de regresso ao escalão máximo do futebol português, depois de vencer o Rio Ave no playoff de acesso à Liga NOS. O treinador Armando Evangelista, natural de Guimarães, foi o principal obreiro do regresso do Arouca ao escalão máximo do futebol português.

No rescaldo de uma temporada atípica, recheada de incertezas provocadas pela pandemia, o técnico vimaranense sente-se aliviado por ter conseguido superar as contrariedades e conduzir os arouquenses à quinta participação na principal divisão portuguesa: “No fundo acaba por ser um sentimento de alívio por tudo aquilo que se passou ao longo deste ano e pela responsabilidade que era treinar o Arouca. Havia muitas incertezas no arranque, eu recordo-me que começamos a treinar sem uma data fixa para o início do campeonato”.

Apesar de o campeonato não ter começado da melhor forma, com uma derrota em casa do Estoril, mais tarde coroado campeão da Liga SABSEG, a equipa de Evangelista não demorou a afirmar-se. Seguiram-se oito jornadas sem perder para o campeonato, com metade desses jogos a terminar em triunfo, e uma eliminatória da Taça de Portugal perdida somente nos penaltis frente à sua primeira equipa, o Vitória SC. Eventualmente, o Arouca de Evangelista começou a perspetivar voos mais ambiciosos.  “Depois do arranque conseguimos construir um grupo muito capaz e com o decorrer da época começámos a sentir e a acreditar que poderíamos fazer algo diferente; esse trajeto que foi feito e o reformular de objetivos ao longo da temporada foi fundamental para a equipa”, disse o treinador.

Após uma passagem fugaz pela UD Vilafranquense na época 2019/2020, Armando Evangelista tinha mais do que uma proposta em carteira para a época seguinte. O "sentimento" e o "desafio" levaram-no para Arouca e, volvida uma época, acredita que o tempo deu razão à escolha que fez. “É verdade que no início da época transata tive possibilidade de trabalhar noutros lados, tive outras propostas, mas o sentimento levou-me para Arouca. Fui também movido pelo desafio de voltar a reerguer o clube. Já em épocas anteriores houve abordagens nesse sentido e as coisas acabaram por não se concretizar na altura, mas, desta vez, quando voltaram a insistir, eu senti que era o momento certo. Algo me chamava para aqui, é daqueles feelings que a gente por vezes tem na vida e o tempo acabou por mostrar que era o projeto certo para este ano”, referiu.

 

 

A “desconfiança” no Vitória SC

Armando Evangelista deu o pontapé de saída na carreira de treinador quando assumiu o comando da equipa de infantis do Vitória SC. Nascido e criado em Guimarães, a ligação do treinador à instituição vitoriana despontou muito antes dessa experiência. O antigo médio começou a jogar no Vitória e fez-se jogador nas equipas de formação. Apesar de se ter sagrado campeão nacional de juniores em 1991, enquanto envergava a camisola do rei, não representou a equipa principal. Essa estreia aconteceu mais tarde, em 2015/2016, numa função diferente. O equipamento foi trocado pelo fato, o relvado deu lugar ao banco e a braçadeira indicava que era treinador. Foi esta a primeira experiência de Evangelista como técnico de uma equipa do primeiro escalão do futebol português. Não correu da melhor forma e o vínculo terminou depois de apenas sete jogos, com o registo de três derrotas, três empates e um triunfo. A eliminação da Liga Europa, ainda na fase de qualificação, e o início conturbado no campeonato ditaram a rescisão.

Quase seis anos depois, Evangelista não faz questão de discorrer sobre o assunto. Depois da passagem pelos infantis, foi chamado à formação sub-17 e depois ao escalão sub-19. A história – dos infantis até à equipa principal - conta-se degrau a degrau. Em 2012/2013, foi chamado ao FC Vizela, na altura a militar no Campeonato Nacional de Seniores. Não terminou a época, deixou o comando técnico vizelense a três jogos do fim para regressar ao clube da terra: a saída de Luíz Felipe da equipa B do Vitória abriu-lhe a porta da Segunda Liga. Nessa época, fez apenas os oito jogos finais de uma equipa já condenada à despromoção. No entanto, foi o homem escolhido para voltar a colocar a equipa no segundo escalão. Assim foi. De volta à Segunda Liga, em 2014/2015 terminou a época no nono posto da tabela classificativa. Uma época ainda hoje histórica: é a melhor classificação de sempre alcançada pela equipa B do Vitória.

A saída de Rui Vitória do comando técnico da equipa principal e o bom desempenho de Armando Evangelista na equipa secundária abriram uma nova porta ao vimaranense, novamente num degrau acima, mas dessa feita o sucesso não o acompanhou. Quando faz o exercício de identificar o que correu mal, o treinador diz que “se gerou ali alguma desconfiança em relação àquilo que poderia ser feito” e diz que a sua ascensão à equipa A não foi preparada da melhor forma “provavelmente da minha parte, provavelmente da parte do Vitória”. A tudo isto, adiciona mais dois fatores: ser da casa “tem o seu peso” e “ter sido dos treinadores pioneiros a sair de uma equipa B para pegar numa equipa A” não ajudou. Apesar de tudo, lembra essa experiência como “um momento de aprendizagem enorme”, que fez com que os clubes começassem “a olhar para os treinadores formados dentro de portas de outra forma”.

 

Futuro passa por Arouca

O futuro de Armando Evangelista passa pela Liga NOS e por honrar o contrato de dois anos assinado com o FC Arouca. O objetivo, diz o treinador, “passa só e exclusivamente pela manutenção”. Está preparado para competir num campeonato muito difícil e competitivo e diz que vai ter de “acrescentar alguma experiência e alguma qualidade para suprir os obstáculos e dificuldades”, mas realça que a base que traz da segunda lhe dá “algumas garantias” e “muita confiança”.

Aos 47 anos, o vimaranense assume-se como um treinador ambicioso que quer trabalhar nos melhores palcos. Está “contente por continuar no Arouca e por voltar à Primeira Liga” e reconhece que o trabalho que está a fazer ao serviço do Arouca, ao alcançar “objetivos de excelência”, o pode projetar para os patamares a que ambiciona chegar. Não descarta a possibilidade de sair do país, considera-se um cidadão do mundo e diz não encontrar razão para não aceitar trabalhar “em qualquer parte do mundo” se achar que a oportunidade e o momento são adequados.

Por enquanto, Armando Evangelista vai continuar em Portugal. Seis anos depois da sua estreia, vai estar novamente a orientar uma equipa da primeira divisão. Desta vez, ao serviço do Futebol Clube de Arouca.

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