No último segundo da montanha-russa, o primeiro ponto do Moreirense
Depois de 75 minutos de toada morna, a temperatura subiu e o jogo com o Santa Clara entrou numa espiral de incerteza que culminou no cabeceamento de André Luís para o 2-2, ao minuto 10 da compensação.

Expulsão, penáltis e um golpe de cabeça irrepreensível a segundos do último apito: o que se viu no Estádio de São Miguel a partir dos 75 minutos encapsulou mais emoção, polémica e golos do que o espetáculo que se vira até então, apenas interrompido pelo golo pleno de oportunidade de Carlos Júnior, a inaugurar o marcador aos 58 minutos.
O impulso para a subida da temperatura deu-se aos 76 minutos, quando na sequência de uma falta aparentemente normal sobre Lincoln a meio-campo, Rodrigo Conceição protestou com a decisão da arbitragem. Após breve comunicação com a restante equipa de arbitragem, David Silva atribuiu o vermelho direto ao lateral de 21 anos que entrara em campo três minutos antes.
Cercado pelo oceano Atlântico, o Moreirense via-se em maré cada vez mais adversa com uma desvantagem para anular. Mas conseguiu fazê-lo à boleia da crença de Yan Matheus: o extremo dos vimaranenses acelerou pela esquerda para ganhar uma bola que parecia controlada por João Afonso e foi derrubado pelo central equipado de vermelho e branco. O brasileiro ganhou o penálti e converteu-o com força e colocação, apesar do toque de Ricardo Fernandes; 1-1, ao cabo de 90 minutos.
Com o cronómetro cada vez mais perto do último apito, a obtenção do primeiro ponto da época afigurava-se cada vez mais plausível. Uma mão de Derik Lacerda pareceu deitar tudo a perder, contudo; o avançado tocou a bola de forma irregular na área cónega e concedeu uma grande penalidade que Carlos Júnior não desperdiçou. No dia do 26.º aniversário, o melhor marcador açoriano nas duas últimas épocas bateu o castigo máximo de forma irrepreensível, bisando no desafio.
Perante a escassez de tempo e de homens, as probabilidades de novo golo não jogavam a favor do Moreirense, mas os comandados de João Henriques tentaram algo mais e foram felizes: no último lance do encontro, o livre de Ibrahima caiu bem no coração da área e André Luís saltou mais alto para encontrar o caminho das redes, num cabeceamento fora do alcance do guardião adversário.
Jogo aqueceu… mas demorou
Logo aos 20 segundos, o Santa Clara parecia canalizar o desagrado face à recusa do Moreirense em adiar o jogo para o relvado, com o remate de Carlos Júnior (sempre ele!) à malha lateral, mas esse repente vertiginoso foi a exceção de uma primeira parte nivelada a um ritmo baixo: mesmo com a pressão alta de ambos os lados, nenhuma equipa teve engenho para lançar mais ataques em velocidade. Os desequilíbrios em zonas adiantadas escassearam e as oportunidades de golo também.
Ainda no primeiro quarto de hora, fase em que a equipa de João Henriques condicionou a saída de bola açoriana, o cónego Felipe Pires obrigou Ricardo Fernandes a defesa atenta. Os homens de Ponta Delgada responderam num cabeceamento de Mikel Villanueva que quase traiu Pasinato, aos 15 minutos, e num disparo de longe de Rui Costa, aos 18, ganhando desde então um ligeiro ascendente; os pupilos de Daniel Ramos passaram a ter mais iniciativa até ao intervalo, embora sem proveitos.
O jogo ficava amarrado com o avanço do cronómetro, mas houve tempo para uma exceção: o Moreirense introduziu a bola na baliza açoriana, mas David Silva anulou prontamente o lance. O juiz da Associação de Futebol do Porto considerou que Rafael Martins, autor do cabeceamento certeiro ao primeiro poste após canto da direita, derrubou Carlos Júnior.
A segunda parte começou com a mesma toada: Santa Clara ligeiramente por cima diante de um Moreirense mais expectante. A postura ligeiramente arriscada dos anfitriões colheu frutos aos 58 minutos, na sequência de um alívio defeituoso de Artur Jorge. A bola caiu em posição frontal à baliza, com Carlos Júnior a antecipar-se aos defesas vimaranenses para abrir o ativo.
Forçado a reagir à desvantagem, o Moreirense apresentou quase sempre um futebol lento e previsível enquanto havia 11 contra 11 sobre o relvado. Só na inferioridade numérica, os cónegos elevaram à superfície a chama necessária para evitarem a derrota.