MOREIRENSE 20/21: Os treinadores mudam, a solidez é a mesma
O Moreirense teve quatro treinadores, mas contornou essa instabilidade rumo a mais uma temporada sem aflições, na primeira metade da tabela, desde que Vasco Seabra tomou conta da equipa.

O primeiro terço da época parecia antecipar um campeonato difícil para os verdes e brancos de Moreira de Cónegos, mas a entrada em 2021 trouxe Vasco Seabra e a retoma da normalidade dos últimos três anos.
Depois de épocas consecutivas na luta pela fuga à descida até à última jornada, o Moreirense alcançou a melhor classificação de sempre em 2018/19 (sexto lugar) e manteve-se na primeira metade da tabela nas duas últimas edições da Liga NOS. O triunfo de quarta-feira sobre o Famalicão (3-0) permitiu aos cónegos terminarem este campeonato no oitavo lugar, com 43 pontos; um registo igual ao de 2019/20.
A época arrancou com o treinador que conseguira o oitavo posto na época transata, mas Ricardo Soares saiu após a sexta jornada; a equipa era nona classificada, com oito pontos. O início de novembro constituiu a fase mais delicada do percurso cónego, com César Peixoto no comando técnico e 30 casos de covid-19, entre os quais o do presidente Vítor Magalhães, a condicionarem a estrutura do futebol e a interromperem os treinos por semana e meia.
A primeira experiência do vimaranense como treinador na Liga NOS durou cerca de mês e meio, com um triunfo, dois empates e duas derrotas. A saída de César Peixoto deu-se no final de 2020, curiosamente após o seu único êxito – venceu o Santa Clara por 1-0 -, e obrigou a estrutura cónega a recorrer a Leandro Mendes para a visita ao FC Porto (desaire por 3-0), antes de contratar Vasco Seabra.
Depois de uma passagem sem sucesso pelo Boavista, Seabra assumiu a outra equipa de xadrez no 11.º lugar, com 13 pontos, e estreou-se com um empate no dérbi com o Vitória (2-2). A partir daí, a equipa escapou-se aos lugares perigosos, muito graças ao desempenho longe do Comendador Joaquim de Almeida Freitas; capaz de vencer apenas um jogo em casa com Seabra, precisamente no fecho do campeonato, o Moreirense embalou para a tranquilidade ao vencer os três primeiros jogos fora sob o comando do quarto treinador da época: Nacional (1-0), Famalicão (2-0) e Farense (2-1).
Os cónegos fixaram-se então no oitavo lugar, com 10 pontos de vantagem para os lugares de descida e nunca mais se viram ameaçados pela despromoção, apesar da permanência matemática só ter chegado à 32.ª jornada, com o triunfo no Algarve, sobre o Portimonense (2-1). Ao mesmo tempo, o plantel consolidava a defesa com a contratação de Abdoulaye Ba e ganhava poder de fogo com Rafael Martins, que precisou apenas de meia época para se tornar no melhor marcador, face aos sete tiros certeiros.
Com seis vitórias a jogar fora, os cónegos alcançaram a terceira melhor pontuação nessa circunstância em 11 presenças no escalão principal: os 21 pontos deste ano são ultrapassados pelos 25 de 2018/19 e pelos 22 de 2015/16.
A seca de triunfos caseiros impediu a escalada a uma posição ainda mais acima da tabela, mas não significa que a equipa tenha sido fácil de bater no seu reduto; o xadrez verde e branco foi a quarta equipa menos batida no seu reduto, averbando três desaires, e não perdeu qualquer receção aos três primeiros classificados, Sporting, FC Porto e Benfica; o resultado foi sempre o mesmo, 1-1. O Moreirense foi aliás a equipa da Liga NOS com mais empates: 13.

“Últimos anos dão sinais de crescimento”
Para Castro, jogador do Moreirense durante sete épocas, entre 2003 e 2013, a carreira desta época é uma prova da “sustentabilidade” que o clube presidido por Vítor Magalhães tem adquirido na elite do futebol português. “Está a cimentar uma posição de equipa de Primeira Liga. Os últimos anos dão sinais de crescimento”, realça ao Tempo de Jogo.
O rendimento cónego também prova a crescente “capacidade para recrutar jogadores com qualidade e para os valorizar”, com o intuito de garantir “transferências muito interessantes para um clube da dimensão do Moreirense”. Pelas condições que o emblema de Moreira de Cónegos começa a dar em termos de infraestruturas, com a Vila Desportiva, quem está no clube “sente-se ainda mais obrigado a fazer um trajeto mais forte do que na época anterior”, considerou ainda o antigo médio.
Castro também enalteceu o “equilíbrio” dado à equipa por Vasco Seabra e o aumento da “competitividade interna” a partir de janeiro, face às contratações daquela janela de transferências. Apesar de considerar que ter quatro treinadores numa só época “nunca é positivo”, o ex-jogador defendeu que essas trocas nunca estiveram “relacionadas com resultados”, dando o exemplo do trabalho desenvolvido por Ricardo Soares quer em Moreira, na época passada, quer no Gil Vicente, no campeonato recém-terminado.
Para Castro, os dois jogadores que mais o impressionaram foram o lateral esquerdo Abdu Conté, que crê ter “muita margem para continuar a crescer”, e o médio Gonçalo Franco, que “pode dar outra dimensão à sua performance” na próxima temporada.
Onze tipo

A confirmação
Rafael Martins
O brasileiro já passara por Moreira de Cónegos com 20 golos em 2015/16, e regressou em janeiro para dar mais presença e golo ao ataque vimaranense. Contribuiu para o oitavo lugar final com sete golos em 20 jogos, fixando-se como o melhor marcador da equipa, acima de Felipe Pires (cinco golos) e Yan Matheus (quatro). Pasinato foi o guarda-redes com mais defesas (108) e, juntamente Fábio Pacheco e Rosic, outro dos alicerces mais fortes para a campanha protagonizada.
A revelação
Yan Matheus
Entre os 15 reforços contratados no verão, o brasileiro, de 22 anos, foi aquele que mais cedo se destacou, exibindo capacidade finalizadora, além da dinâmica que incorporou no ataque cónego. O extremo foi quase sempre titular no Moreirense, perdendo esse estatuto nos últimos quatro jogos da Liga NOS. Na reta final, outro dos reforços, Nahuel Ferraresi, começou a sobressair no eixo da defesa, quer pela forma como contrariava os adversários, quer pela veia goleadora: marcou três golos nos últimos cinco jogos que fez.
A desilusão
David Tavares
Emprestado pelo Benfica, David Tavares chegou a Moreira de Cónegos no início da época para cimentar a sua experiência na Liga NOS, mas nunca se impôs entre os titulares. O médio de 22 anos realizou 14 jogos oficiais vestido de xadrez, 13 deles a suplente. Regressou à Luz em janeiro, para jogar pela equipa B encarnada.