Mesmo com o maior torneio do país, o xadrez carece de jogadores da casa
Horários escolares "sobrecarregados", falta de recursos para "treinadores qualificados" e rotinas alteradas com a entrada na vida adulta dificultam adesão de praticantes aos clubes vimaranenses.

Na última semana de agosto, Guimarães reuniu 322 competidores, entre os quais 10 Grandes-Mestres da Federação Internacional de Xadrez (FIDE), para o “maior torneio de Portugal”, recorda José Manuel Teixeira, presidente do Clube de Xadrez Afonsino, que fundou em 1996, na Escola EB 2 e 3 D. Afonso Henriques, onde leciona História.
Com atletas de 32 países dos cinco continentes, o Guimarães Chess Open, ganho, neste ano, pelo neerlandês Max Warmerdam, apresenta uma dinâmica contrária à da adesão dos vimaranenses ao xadrez. “Guimarães tem muitos praticantes no desporto escolar, mas depois só continua meia dúzia. Alguns continuam no Porto, quando vão para lá estudar para a universidade, mas têm de competir pelas equipas de lá”, refere o dirigente de um clube que se cinge ao desporto escolar, apesar de já ter sido federado.
O cenário destoa assim daquele que se verificava há 20 anos, quando Guimarães era “um dos concelhos do país com mais praticantes” e os “muitos clubes estavam no auge da sua atividade”, acrescenta João Martinho, presidente do Clube de Xadrez da Escola EB 2 e 3 João de Meira, outro dos clubes que organizou o torneio internacional.
No final do século XX, os “dois clubes escolares foram inovadores e pioneiros na introdução do xadrez” e deram logo o “salto para o desporto federado”, mas a reorganização da escola a partir de 2005, com “horários muito sobrecarregados”, tem colocado “obstáculos” à adesão; as atividades extracurriculares (AEC) do 1.º Ciclo poderiam ser uma “oportunidade” para despertar as crianças para o xadrez, mas o concelho não tem exibido “perceção nem sensibilidade” para esse objetivo. “Alguns dos concelhos vizinhos já passaram a perna a Guimarães nesse aspeto, pois têm apostado nas atividades de xadrez numa das três horas de Educação Física das AEC”, esclarece.
Apesar da “debandada”, perspetiva-se um futuro
Os problemas acentuam-se quando os jogadores chegam à adolescência e à fase adulta. Mesmo com esperanças como Pedro Gil Silva, jogador sub-16 do Vitória que já é o “mais cotado de Guimarães” e será “certamente um futuro Mestre”, a “debandada de jogadores vimaranenses para concelhos próximos” é a tendência, para não falar dos que optam por desistir, retrata o professor da Escola EB 2 e 3 João de Meira.
Confrontados com a ausência de “treinadores qualificados” que evoluam os seus jogadores e ainda com a falta de recursos financeiros, os cinco clubes vimaranenses – incluem-se ainda nesse lote o Amigos de Urgeses e o Fórum de Airão – vão falhar os campeonatos nacionais por equipas da próxima época.
Apesar das circunstâncias adversas, João Martinho vê “perspetivas” de revitalização da modalidade. Uma delas prende-se com o aparecimento do Vitória, clube que “chama muita gente pela sua grandeza e dimensão”. A outra tem a ver com o “engrandecimento” do torneio internacional: é preciso aumentar os prémios monetários e as condições de alojamento para eventualmente atrair jogadores “entre os 100 melhores do ranking FIDE”. José Manuel Teixeira considera, por seu turno, que é preciso mais apoio da Câmara Municipal e “atenção por parte das televisões” para a prova ganhar visibilidade.