Melhor época de sempre deixa sabor “agridoce”
Depois da melhor posição de sempre na fase regular, o Vitória chegou pela primeira vez às meias-finais do campeonato feminino de basquetebol, mas eliminação com União Sportiva ainda “dói”.

A 35 segundos do fim do terceiro e decisivo jogo das meias-finais da Liga Skoiy, a norte-americana Aliyah Mazyck convertia dois lances livres e colocava a União Sportiva a vencer por 60-50. Tudo parecia decidido, mas o Vitória teve ainda um último fôlego para devolver a incerteza ao embate de domingo: em apenas sete segundos, a equipa beneficiou dos erros cometidos pelas açorianas e do acerto de Catarina Mateus no tiro exterior para reduzir a desvantagem para dois pontos. O jogo ficou reaberto, mas as condessas não deram sequência à recuperação na posse de bola seguinte e perderam mesmo por 63-58, falhando a final.
“Apesar deste sentimento agridoce, a sensação, no passado fim de semana, foi a de que lutámos com todas as nossas forças, conscientes de que não fomos melhores do que o Sportiva. Isso custa, dói”, descreve o treinador da equipa, Rui Costa, ao Tempo de Jogo.
No fim de semana anterior, a equipa de Guimarães partia para os Açores em vantagem, após o triunfo do primeiro jogo, por 79-62, mas acabou por sofrer a reviravolta no pavilhão Sidónio Serpa, em Ponta Delgada – também perdeu no sábado, por 60-54, num duelo em que, ainda no primeiro período, perdeu por lesão Alexandra Mollenhauer, jogadora mais valiosa da eliminatória com o GDESSA.
Para Rui Costa, a jogadora azeri-americana, de 22 anos, tanto fez falta para os ressaltos, como para os lançamentos e a sua ausência é mais uma das razões para a sensação “agridoce” que ainda paira sobre a equipa. “Fica também o sentimento agridoce de pensarmos que, com a equipa completa, poderia ter sido diferente”, reconhece. “Com a sua ausência ficámos naturalmente menos fortes”.
Mas se a dor marca o desenlace da primeira temporada de Rui Costa em Guimarães, o orgulho também. Com o quarto lugar na fase regular, a presença nas meias-finais do play-off e a ida à final da Taça de Portugal, o Vitória rubricou, afinal, a melhor prestação desde que se estreou na elite do basquetebol nacional, em 2017/18.
Nessa primeira temporada, tinha sido oitavo na fase regular e perdera na primeira ronda do play-off, precisamente com a União Sportiva (2-0). Na época 2018/19, foi sexto na primeira fase, voltou a cair na primeira ronda do play-off, desta feita na “negra”, frente à Quinta dos Lombos (2-1), e atingiu pela primeira vez a final da Taça, tendo soçobrado perante o Olivais, por 49-40.
Interrompida a temporada 2019/20, as condessas deram, nesta época, mais um passo em frente, e Rui Costa mostra-se “orgulhoso” por fazer parte de “uma página importante na história do basquetebol feminino do clube”. Sem esclarecer se vai continuar ao leme da equipa na próxima época, apesar de reconhecer que gostava de o fazer, o técnico considera até que o Vitória está hoje mais “próximo de conquistar um troféu”. “Apesar do sonho não se ter concretizado, tornou-se palpável e ficou apenas adiado. Não tardará muito acontecer”, vaticina.

Treinador “babado” com a qualidade de jogo
Rui Costa a enaltecer a “atitude” demonstrada pelas jogadoras que treinou. “Mesmo quando as coisas pareciam não estar a correr bem e a sair como desejávamos, houve capacidade de arregaçar as mangas e de lutar com todas as nossas forças. Isso deixa qualquer treinador tremendamente orgulhoso”, vinca.
O treinador realça ainda o “crescimento coletivo e individual” evidenciado pelo plantel ao longo da época, graças à “dedicação e o profissionalismo colocados” pelo plantel nos treinos. Numa competição “atípica”, marcada pela covid-19 e por várias “alterações de jogos”, que adensaram o calendário da segunda volta da fase regular, Rui Costa lembra que a equipa jogou o seu melhor basquetebol entre dezembro e fevereiro e, mais tarde, nos três primeiros jogos do play-off, quando a equipa esteve completa. “Houve momentos em que fui um treinador babado com o nível de jogo que mostrámos”, confessa.
As lesões são mais um dos motivos para o “sentimento agridoce” em relação à temporada, já que, para o técnico natural de Viana do Castelo, a equipa poderia render mais “nas melhores condições”. Apesar dessas limitações servirem de “reflexão e antecipação” para os campeonatos que se seguem, o plantel, a seu ver, foi bem construído, por reunir atletas da casa que procuram “crescer e evoluir” e “atletas mais velhas”, com “outra experiência”. “Foi uma aposta bem conseguida”, afirma.

“Ainda não consegui digerir esse jogo”
Uma das jogadoras contratadas para aportar experiência ao plantel foi Tatiane Pacheco. Internacional brasileira de 30 anos, a atleta diz ter vivido “uma temporada bastante complicada”, fruto da lesão que a afastou do início da época, um problema que, aliás, não foi a única a enfrentar. “Tivemos altos e baixos, com muitos momentos em que o Rui não teve a equipa inteira nos treinos. Ora era eu que estava de fora, ora foi a [Bárbara] Souza. Tivemos bastantes problemas de lesões”, lembra.
Apesar de sentir que poderia ter dado mais se “estivesse melhor fisicamente”, Tatiane realça que o Vitória tem de se sentir “orgulhoso” da temporada, até pelo compromisso do grupo em “ser melhor a cada dia”, com várias atletas a conjugarem trabalho e treino e a mostrarem-se “sempre prontas para treinar e aprender”. “Isso é que nos levou à época que fizemos, apesar de não termos chegado à final, que era um dos objetivos”, reitera.
Apesar desse reconhecimento ao trabalho da equipa, Tatiane ainda não conseguiu rever o terceiro e último jogo com a União Sportiva, pelo “gosto extremamente amargo” com que ficou após a eliminação. “Ainda não consegui digerir esse jogo”, confessa. Após o empate a 30 pontos ao intervalo, as condessas somaram dois pontos no terceiro período e chegaram aos 10 minutos finais a perder por 12, com um consequente impacto “emocional” na equipa. “A equipa ficou bastante frustrada, porque parecia que estávamos remando, remando, remando e não saíamos do lugar”, descreve.
A lesão de Mollenhauer também mexeu com a equipa, não só pelo que a atleta dá na defesa e no ataque, mas também pelo facto de reavivar a grave lesão sofrida por Catarina Mateus em dezembro de 2019, também naquela quadra. “Quando a Alexy se lesionou, muitas delas viram o filme que aconteceu da outra vez”, lembra. “Mexeu com todo o mundo, mas para quem já tinha presenciado essa lesão, mais ainda”.
Tatiane Pacheco fez uma das melhores exibições em Portugal no jogo inaugural das meias-finais, ao marcar 27 pontos, mas, em Ponta Delgada, ficou-se pelos nove, no segundo, e pelos sete, no terceiro. A experiente jogadora admite que poderia ter feito melhor. “Olhando para mim, deixei um pouco a desejar, principalmente ofensivamente”.