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Manuel Silva – Sydney 2000; Atenas 2004

Volvidos 17 anos, ainda ninguém conseguiu destronar o vimaranense: Manuel Silva continua a ser o recordista nacional dos 3.000 metros obstáculos.

19 julho 2021 > 10:30

É impossível dissociar a família Castro do atletismo vimaranense. Manuel António de Castro da Silva nasceu no dia 8 de outubro de 1978 em Guimarães e foi o terceiro da família a participar nos Jogos Olímpicos. Primo dos gémeos Castro, Manuel não tem uma história menos interessante. Começou nos clubes locais, deu nas vistas e seguiu os passos dos primos. Mudou- se para Alvalade em 1996, já depois de conseguir uma medalha no Campeonato Mundial de Atletismo do Desporto Escolar Católico.

Fosse com o leão ao peito ou com a camisola lusa, o vimaranense liderou equipas, contribuiu para a conquista de troféus coletivos e destacou-se individualmente. Durante a sua carreira, especializou-se nos 3000 metros obstáculos, distância que o levou aos patamares mais elevados. Foi nesta disciplina que se notabilizou ao ser campeão nacional por três vezes e estabelecer um novo recorde nacional. Em julho de 2004, já depois de trocar o Sporting CP pelo Skoda MC, numa prova realizada em Estocolmo, o vimaranense superou uma marca imposta por José Regalo em 1987 e percorreu a distância em 8m19s82. Volvidos 17 anos, ainda ninguém conseguiu destronar o vimaranense: Manuel Silva continua a ser o recordista nacional dos 3.000 metros obstáculos.

Na sua carreira, o sucesso foi precoce e o declínio também, com estas fases claramente pautadas pelas olimpíadas. Com 21 anos, viajou para Sydney e marcou presença nos Jogos Olímpicos pela primeira vez. Foi finalista e alcançou o 13.º lugar. Apesar de não conseguir o diploma olímpico, não se pode dizer que se tratou de uma prestação negativa. Quatro anos depois, com 25 anos, viajou para Atenas. Esperava-se que Manuel Silva mostrasse a sua melhor versão, mas, por mais motivos do que os puramente desportivos, a participação em Atenas foi o começo do fim. Na pista, o barril de pólvora: falhou o apuramento para a final dos 3000 metros obstáculos. Podia ter sido este o momento definidor do dia, mas não foi. Depois de terminada a prova, seguiram-se as declarações à comunicação social. As acusações ao Comité Olímpico Português (COP) saíram da boca de Manuel Silva em catadupa. Queixou-se da falta de apoios e das desigualdades, revelou que chegou a treinar com sapatilhas rotas e que dependeu do apoio financeiro da família e dos amigos para competir nos Jogos Olímpicos de Atenas. Confessou que ia deixar de ter condições para correr se fosse destituído do apoio do COP. Vicente Moura, na altura presidente do Comité Olímpico Português, referiu-se a estas declarações como “delirantes e queixas de mau pagador” e contrariou o que o atleta tinha dito ao assegurar que a viagem foi paga pelo organismo.

Nunca mais recuperou deste duro golpe. Deixou de receber qualquer bolsa do COP, saiu da seleção, deixou o Sporting e passou a contar apenas com os apoios da Federação Portuguesa de Atletismo. Eventualmente ingressou na ARD Gémeos Castro, o clube fundado pelos primos, e ainda passou pelo Sport Lisboa e Benfica, mas frustraram-se todos os esforços de relançar a carreira. Numa entrevista posterior, Manuel Silva admitiu que não devia ter dito o que disse à imprensa, que descarregou a frustração que sentia em pessoas que não tinham culpa e que não voltou a encontrar o equilíbrio psicológico necessário.

Acabou por se mudar para o Luxemburgo. Com 32 anos tentou mais uma vez relançar a carreira, mas não conseguiu: foi impedido pelas horas extraordinárias que tinha de fazer numa firma de limpeza. O pequenino país, com uma área de aproximadamente 2586 km 2 e uma forte comunidade portuguesa, era a última esperança do vimaranense. Hoje mantém-se pelo Grão-Ducado com a família e a esperança de, talvez um dia, voltar a fazer parte do desporto.

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