Manuel Mendes – Rio 2016; Tóquio 2020 (Jogos Paralímpicos)
Seja qual for o desempenho, vai ser sempre o primeiro atleta nascido em Guimarães a participar nos Jogos Paralímpicos e o atleta que carregou ao peito (...) a primeira medalha olímpica vimaranense.

Quando tinha nove anos de idade, uma máquina agrícola roubou-lhe o antebraço esquerdo. À perda física somou-se a perda da confiança e da autoestima. A sociedade condenou-o a ser u desgraçado ou um coitadinho, mas Manuel Mendes, nascido em Guimarães no ano de 1971, contrariou as ideias feitas e conquistou o primeiro grande triunfo ainda antes de se dedicar ao atletismo. É assim que descreve o momento em que se livrou dos complexos para experimentar a vida.
O atletismo foi uma descoberta tardia na sua vida. Começou a treinar sem grandes pretensões, influenciado pelo tio, quando se encaminhava para completar 30 anos de idade. Entretanto, passaram-se duas décadas. Pelo meio conseguiu os mínimos paralímpicos sem perceber e começou a encarar com seriedade o desporto adaptado e a competição. As pequenas distâncias deram lugar às distâncias mais exigentes e hoje é a correr a maratona que se sente melhor e é nesta disciplina que consegue os resultados mais interessantes. Deixou de ser um praticante desconhecido para ser uma das caras do desporto vimaranense, a quem todos reconhecem a dedicação e devoção à modalidade, e um atleta internacional respeitado.
Em 2015, Manuel Mendes sagrou-se campeão nacional de estrada em desporto adaptado e a renovação do título pareceu tornar-se, em determinado momento, numa tradição: o hexacampeonato entrou para o seu currículo no último ano civil. Nas páginas que contam a história do vimaranense, a época de 2016 merece um capítulo diferente dos outros. Antes dos Jogos Olímpicos, passou por Londres para correr a Taça do Mundo de Maratona IPC na categoria T46*. Estabeleceu um novo recorde pessoal, com a marca de 2h37m22s, que lhe valeu o 4.º lugar. Para aqueles que conhecem o Manuel, era evidente que havia de regressar para se superar. Assim foi: em 2018, dois anos depois, foi vice-campeão mundial.
Façamos o exercício de regressar ao ano de 2016. Depois da Taça do Mundo em Londres, o atleta do Vitória Sport Clube viajou para o Rio de Janeiro. Chegou com antecedência, alguns dias antes da prova, para se adaptar ao clima e à humidade e acredita que esse foi um dos segredos do seu bom desempenho. É justo acrescentar que a maturidade, a paciência e a boa capacidade para gerir o esforço durante os mais de 42 quilómetros da maratona também devem ter ajudado. À passagem do quilómetro 35, apercebeu-se de que os primeiros três
atletas não estavam muito distantes e que ele ocupava o 4.º lugar. A cinco quilómetros da meta ainda não estava no pódio, mas não admitiu que a medalha escapasse. Às vezes as oportunidades não se repetem. Nos momentos finais ultrapassou o adversário peruano e cortou a meta na 3.ª posição, cerca de 16 minutos depois da chegada do vencedor, para garantir a medalha de bronze.
Em abril, ao sagrar-se campeão nacional da maratona T46, na Maratona do Centenário, em Palmela, confirmou a marca de qualificação para os Jogos Paralímpicos de Tóquio. Manuel Mendes vai repetir a experiência olímpica e, seja qual for o desempenho, vai ser sempre o primeiro atleta nascido em Guimarães a participar nos Jogos Paralímpicos e o atleta que carregou ao peito, fruto de muito esforço e de um incessante trabalho de superação contínua, a primeira medalha olímpica vimaranense.
* A categoria T46 é reservada aos atletas com deficiências nos membros superiores, que competem em pé e sem auxiliares de suporte.