Jogos Olímpicos… (conclusão)
O Desporto, como meio do Movimento Olímpico, deve estar sempre baseado no espírito olímpico que deve abranger a compreensão mútua, o espírito de amizade, a solidariedade e o fair play.

Os Jogos Olímpicos, matriz cultural e filosófica do Jogo/Desporto ocidental, e hoje difundida a todo o planeta, desafia-nos nesta contemporaneidade acéfala – sem história, sem literatura, sem arte, sem filosofia, … –, e do espetáculo, a colocar questões decisivas sobre a prática desportiva e do jogo em geral. O que é o desporto? Quais os seus valores? A sua função na humanidade? Como constrói humanidade e urbanidade?
Partamos de um dado óbvio do ser humano, que Leonardo Coimbra definiu magistralmente desta forma: “O homem não é uma inutilidade num mundo feito, mas o obreiro dum a fazer”. O desporto, como ludens ou como sucedâneo da guerra ou rivalidade das pólis, ocupa no ser e existir da humanidade e dos lugares em que habita uma faceta de maior importância. Reduzir o desporto/jogo ao lúdico ou cultural, é amputá-lo da totalidade antropológica e sociológica da história dos jogos no fazer do mundo da humanidade como agente transformador do locus e do cultus do seu ser e estar situado no tempo e nos lugares, sem se encerrar no imanentismo incapacitador de se transcender (no religioso e no quotidiano). É no gáudio e na dor que a humanidade, competindo segundo as regras estabelecidas, e buscando a vitória, com um desporto não redutor, nem reduzido, faz homens e mulheres empenhados nas lágrimas e nos sorrisos da sua história, permitindo, como então, realizar a trégua construtora da cidade/comunhão entre povos e tribos (cidades, famílias, clubes, … amigos).
Em tempos de igualdade que bom e belo é ver homens e mulheres a competirem com garra e determinação pela vitória. Mas o jogo feminizou-se, que a expressão modalidade consagra, mas não pode fazer esquecer que o desporto tem de ser sempre jogo (sorte e azar) onde o ser humano se esmera, até aos seus limites, por alcançar a glória sua, do seu país, da sua cidade… Alguns ainda se admiram das faixas que dizem – “Honrem Guimarães. Deixem o sangue e suor em campo”. O cartão do adepto, mais uma investida do politicamente correto, é só mais uma machadada no que é a alma do desporto. Ir a um jogo, neste caso de futebol, não é ir à Ópera ou ir à Missa. Muitos esquecem esta matriz cultural e filosófica, e depois admiram-se. Neste ludens é a brincar que se busca a felicidade, e como afirmou Chesterton – “A felicidade é um mistério como a religião e nunca deveria ser racionalizada”.
As bases filosóficas do desporto do olimpismo moderno, que não o querem racionalizar mas torná-lo razoável, deixam palpitar a esperança vivificante de transformar o desporto e através do desporto. Todavia não façamos do olimpismo um catecismo inalterável e com raízes tão profundas no chão dos tempos que nada têm a dizer à humanidade de hoje. Um desporto/jogo ao serviço da humanidade integral, e não de uma humanidade máquina ou light. Que construa cidade e urbanidade, ou como diz a Carta Olímpica: “O Movimento Olímpico compreende as ações para o exercício do Olimpismo e tem como objetivo contribuir para a construção de um mundo melhor e mais pacífico, utilizando-se do Desporto para educar a juventude. O Desporto, no contexto do olimpismo, e como meio do Movimento Olímpico, tem que ser praticado sem nenhum tipo de discriminação e deve estar sempre baseado no espírito olímpico que, segundo a Carta Olímpica, deve abranger a compreensão mútua, o espírito de amizade, a solidariedade e o fair play”.