Jogos Olímpicos, … (continuação)
A quem nunca aceite as virtudes e genialidades dos outros, colocando-se em patamares elitistas de superioridade moral ou intelectual. Afinal tudo como dantes…

Mas estes jogos tinham regras, pois os seus objetivos são claros – fazer cumprir a trégua (paz) entre as cidades e glorificar os atletas (sucedâneos dos exércitos), e com isto a cidade (polis) a que pertenciam os mesmos. E para que tal fosse cumprido, antecipando em séculos a Convenção de Genebra, tínhamos os juízes (helanódices). Estes “árbitros” eram os responsáveis pelos jogos, e eram escolhidos após uma rigorosa preparação técnica e espiritual/religiosa. Foram sempre em número muito variável, mas nunca ultrapassou os 12.
As modalidades, as provas (agônes ou athla), que também variam muito ao longo dos tempos, com saídas e entradas, mas que essencialmente são seis: 1. Corridas pedestres no estádio, duplo estádio ou diaulos, corrida com armas…; 2. Luta; 3. Hipismo de carro ou de cela; 4. Pugilato; 5. Pancrácio (combinação de luta e boxe); 6. Pentatlo (salto em comprimento, corrida de estádio, lançamento de disco e de dardo, e luta). No último dia, o quinto, entregava-se em festa os prémios aos nomeados como vencedores. O que venceram cumprindo as regras, hoje diríamos, preferencialmente, com ética. E o que recebiam os atletas vencedores? Uma coroa de oliveira brava ou azambujeiro do Bosque Sagrado de Olímpia (Áltis). Ouviam cantos triunfais e em carros puxados por quatro cavalos brancos passeavam entre a multidão (como ainda hoje o fazemos na festa dos campeões). Os seus nomes eram gravados no mármore do Templo de Zeus (situado no centro do Bosque Sagrado). Às vezes eram erguidas estátuas aos vencedores dos jogos. O seu feito era maior que o dos generais vencedores das grandes batalhas (pois tinham dado glória à Cidade sem derramamento de sangue), e recebidos em júbilo nas suas cidades e cumulados de regalias e honras. E tantos séculos depois, ainda nos escandalizamos com os atletas que trouxeram honra à pátria ou à cidade pelas suas regalias e mordomias! Será que é melhor premiar os generais da guerra ou os especuladores financeiros? Aprendamos com este passado comum os valores que o desporto deve promover entre nós.
Mas a crítica – e não tenhamos medo de ser criticados – sempre nos acompanhou. Xenófanes (séc. VI a.C.), em Hélade, escrevia assim: “Mas se alguém alcançar a vitória com a velocidade dos pés, ou do pentatlo, - onde fica o santuário de Zeus, junto das águas de Pisa, em Olímpia – ou na luta, ou porque sabe a arte dolorosa do pugilato, ou ainda num concurso terrível, chamado o pancrácio, será mais ilustre à vista dos seus concidadãos, terá lugar de honra mais aparatoso nos jogos e alimentação a expensas públicas da sua cidade, ou uma dádiva, que será para ele um tesouro. E, se ganhar com cavalos, tudo isto ele obterá, sem ser tão digno como eu. Pois melhor do que a força de homens e corcéis é a nossa sabedoria”. A quem nunca aceite as virtudes e genialidades dos outros, colocando-se em patamares elitistas de superioridade moral ou intelectual. Afinal tudo como dantes…