Nos últimos seis dias, Miguel Mazeda tem estado religiosamente em cima de uma grua a preencher, com desenhos e cores, a parede de grandes dimensões localizada por cima da porta 10 do Estádio D. Afonso Henriques. Os dias passaram, os adeptos foram espreitando o progresso e as feições de Adelino Barros ficaram cada vez mais evidentes até se conseguir vislumbrar, hoje, a camisola amarela que distinguia o jogador de todos os colegas quando pisavam o relvado. Quase finalizado, o grafiti pretende eternizar e homenagear o antigo guarda-redes do Vitória SC que faleceu no dia 10 de junho de 2021. A obra será revelada no próximo dia 27 para celebrar os 60 anos do seu nascimento.

O artista é Guel Do It e o homenageado é Neno. Pelo menos é assim que são conhecidos junto da família vitoriana. O primeiro, autor dos grafitis que dão vida e contam a história do clube no interior do estádio – e que já elegiam Neno como uma das grandes figuras do desporto vimaranense –, é o responsável por eternizar o rosto do segundo numa das principais fachadas do estádio. Na tarde deste domingo, à semelhança do que tem acontecido diariamente, muitos vimaranenses decidiram passar pelo estádio para ver a obra de arte com os próprios olhos. É o autor que diz que ali se tem “cruzado muita gente” que “tem dito algumas palavras, têm sido carinhosos e têm apreciado a obra”.

Em conversa com o Tempo de Jogo, Guel Do It, assumidamente vitoriano, afirmou que este trabalho “tem um peso extra” não só porque trabalhar com o Vitória, clube do coração, “é sempre especial”, mas também porque agora lhe foi dada a responsabilidade de compor “uma homenagem a uma figura incontornável do Vitória e da cidade”. As palavras são do obreiro que, logo depois de as proferir, não resistiu a fazer uma correção ao que tinha dito: “eu acho que posso falar no país todo, acho que é uma figura que é indiscutivelmente acarinhada por toda a gente”. É uma tela de grandes dimensões e também isso contribui para que seja mais especial: “é uma parede com uma visibilidade muito grande, toda a gente que passar aqui vai acabar por ver esta obra”.

Quase concluída, a homenagem a Neno tem sido, e promete ser no futuro, um ponto de encontro dos vimaranenses, mas também de admiradores de outras paragens e de outros clubes, para homenagear um dos nomes incontornáveis da história do clube e da cidade. Guel Do It sabe que, no futuro, outras oportunidades podem surgir para dar vida ao recinto que acolhe uma das maiores instituições da cidade e é sem hesitação que garante que “estarei sempre disponível para o Vitória”.