Final da Liga dos Campeões, a que custo?
A expectativa, quase utópica, de que os adeptos chegariam e voltariam em “bolha” foi completamente alterada e assistimos a uma invasão inglesa à semelhança do que sucedia na “era pré-covidiana”.

A 29 de Maio jogou-se a Final da Liga dos Campeões, em Portugal, pelo segundo ano consecutivo. Ao contrário do que aconteceu em 2020, este ano a final pode contar com a presença de público nas bancadas e nas fanzones reservadas para os adeptos de ambas as equipas. A expectativa, quase utópica, de que os adeptos chegariam e voltariam em “bolha” foi completamente alterada e assistimos a uma invasão inglesa à semelhança do que sucedia na “era pré-covidiana”.
A necessidade de minimizar contactos de forma a não influenciar negativamente a evolução dos números da pandemia em Portugal, fez com que a DGS não autorizasse a presença de público nos estádios portugueses (e em muitos outros eventos desportivos) até ao final da temporada. Também neste sentido, em meados do mês passado o MotoGP e a Fórmula 1 não puderam contar com adeptos nas bancadas. Horas antes do jogo, realizava-se a assembleia geral do Vitória SC, em pleno Estádio D. Afonso Henriques, na qual foi autorizada a presença de (apenas) 3% da lotação do recinto e com necessidade de cumprimento rigoroso das medidas de isolamento social. O constante apelo do governo e da DGS para a necessidade de mantermos estas medidas nas diversas circunstâncias do nosso dia a dia esbarra com estrondo nas imagens que chegaram até nós, nos últimos dias, a partir da cidade do Porto.
A ciência mostra-nos que o sucesso das medidas de Saúde Pública depende do comportamento dos cidadãos, mas também da colaboração das instituições e organizações. E, neste caso, os órgãos governamentais não fizeram o seu papel. Poder-se-á dizer que os adeptos teriam um teste negativo à partida de Inglaterra e que muitos deles já teriam, pelo menos, uma dose da vacina, mas não é suficiente para justificar esta decisão. Um teste negativo não é sinónimo de não infeção (não esqueçamos o período de incubação) e a vacina não significa imunidade absoluta (minimiza o risco de doença grave e morte, mas não elimina por completo o risco de infeção ou estado de portador). Ainda que, maioritariamente, estes adeptos tenham tido contactos entre si, muitas foram as circunstâncias ao longo do dia em que se cruzaram com cidadãos portugueses, seja em cafés, restaurantes, hotéis (...), mas também em hospitais e com elementos de forças de segurança.
Os benefícios económicos (e não só) da organização deste evento, aliados à busca de prestígio e mediatismo de oportunidade dá aso à tomada de decisões completamente contraditórias ao que nos tem sido exigido e com consequências futuras. E, se no momento, as vantagens podem ser muito apelativas, as consequências quer em termos de saúde, quer em termos políticos e sociais poderão ser desastrosamente bem mais impactantes.