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Esperança fora de portas

O problema é que o árbitro não necessita de errar para ser criticado. Não poucas vezes, na ausência de outras soluções, o árbitro torna-se culpado de “crimes” que nem sequer existiram.

07 maio 2021 > 00:00

Numa altura em que se caminha a passos largos para o final mais uma época desportiva em Portugal, por sinal muito crítica em relação ao trabalho das equipas de arbitragem, na qual os diretores de comunicação e os comentadores televisivos foram as principais “estrelas”, tirando o protagonismo aos principais intervenientes, surgiu recentemente a notícia das nomeações de Artur Soares Dias para a fase final do Campeonato da Europa e também para os Jogos Olímpicos no Japão, onde terá a companhia dos seus assistentes Rui Licínio e Paulo Soares, bem como, João Pinheiro no VAR (Europeu) e Tiago Martins como 4º árbitro (Jogos Olímpicos).

Para os mais desatentos, convêm relembrar a presença de vários árbitros Portugueses em competições da UEFA no decorrer da presente temporada, ainda muito recentemente numa meia-final da Liga Europa, por exemplo, bem como em jogos do campeonato grego ou de campeonatos orientais, sem descurar claro, a presença da árbitra internacional, Sandra Bastos no Mundial Feminino de 2019.

Num momento “negro” para o clima do futebol Português que cada vez mais se encontra intolerante, existem imensos árbitros de escalões inferiores que se encontram impedidos de atuar dadas as restrições pandémicas, pelo que são notícias como esta que podem e devem servir para demonstrar que ainda vale a pena exercer a função de árbitro e que é possível alcançar o patamar dos melhores e superiores.

Todavia, há uma questão que se impõe. Se os árbitros Portugueses, tal como outros atletas ou treinadores lusos, são reconhecidos no estrangeiro porque serão tão menosprezados cá dentro?

Em primeiro lugar, não há que esconder que os erros continuam a acontecer, e nunca irão desaparecer, é factual. Não se vislumbra, de todo, que se um dia nomeassem árbitros estrangeiros para as competições profissionais portuguesas, tal como desejado por muitos, os erros iriam simplesmente desaparecer e as queixas iriam deixar de surgir. Qualquer pessoa que acompanhe o futebol é confrontada com lances de análise difícil e subjetiva, seja em que campeonato for.

Porém, há uma questão que certamente revolta todo o setor da arbitragem em particular. Todos os dias ouvimos que o erro é humano e que deve ser tolerado até certo ponto. O problema é que o árbitro não necessita de errar para ser criticado. Não poucas vezes, na ausência de outras soluções, o árbitro torna-se culpado de “crimes” que nem sequer existiram. Como? Leis desvirtuadas, ângulos duvidosos, slow motion ampliado à lupa, qualquer migalha é utilizada para sacudir as culpas dos fracassos alheios, porque afinal de contas, uma mentira dita muitas vezes parece tornar-se uma verdade absoluta. Tudo isto sem levar em consideração as consequências destas ações para com os árbitros, as suas famílias e até mesmo para a incitação de um clima de medo, de ameaça em todos os agentes envolvidos no desporto.

Resta assim por fim, desejar boa sorte à comitiva portuguesa nestas duas competições para que possam, tal como as seleções nacionais têm feito, chegar o mais longe possível, provando assim que o rigor e a qualidade continuam presentes e que com esforço e dedicação, outros poderão também estar lá um dia.

*Com Carlos Ribeiro, membro da direção do Núcleo de Árbitros de Futebol de Guimarães.

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