Ernesto Paraíso: o primeiro brasileiro a vestir a camisola do Vitória
Goleador brasileiro representou o Vitória durante sete temporadas enquanto jogador e deixou a sua marca bem vincada na história do clube ao ser o primeiro brasileiro a vestir a camisola do Rei.

Ernesto Paraíso, nascido a 5 de julho de 1932, em Ihéus, Salvador da Baía, chegou a Guimarães no longínquo ano de 1955 para representar as cores do Vitória e está umbilicalmente ligado à história do clube por ter sido o primeiro brasileiro a vestir a camisola dos conquistadores. Nessa altura, o emblema vitoriano tinha descido de divisão e formou uma equipa com o objetivo de subir. A primeira fase da temporada não correu de feição aos conquistadores: as três derrotas e um empate, nos primeiros quatros jogos, fizeram soar o alarme na cidade berço. Alberto Pimenta Machado Júnior, que fazia parte da direção presidida por João Alberto Mota Prego de Faria, entrou em contacto com o primo António Pimenta Machado para que lhe indicasse um avançado e foi aí que surgiu o nome de Ernesto Paraíso. O passe custou aos cofres do Vitória 35.000$00, Ernesto recebeu de luvas 20.000$00 e um salário de 1.800$00 mensais mais alojamento.
A estreia do jogador deu-se à 5.ª jornada, frente ao Leixões, no mítico Campo da Amorosa e Ernesto não poderia ter imaginado melhor forma de se estrear de rei ao peito. O brasileiro foi autor de um hat-trick no triunfo contundente do Vitória, por 5-2, diante da formação de Matosinhos. Seguiu-se uma recuperação “notável” do Vitória com cinco triunfos consecutivos que catapultaram os conquistadores para a 1.º lugar da zona Norte. Entretanto, uma fratura no perónio impediu Ernesto de Paraíso de disputar a eliminatória de acesso à 1.ª Divisão frente à Académica que acabou por sorrir aos estudantes que venceram por 2-1 no conjunto das duas mãos.
Na época seguinte 1956/57 o Vitória inicia o campeonato com a ambição clara de subir de divisão. Os conquistadores terminaram no 3.º lugar da zona Norte, com os mesmos pontos de Salgueiros (1.º classificado) e SC Braga (2.º classificado). O jogo decisivo disputou-se no sul do país, frente ao Farense, mas teve um desfecho infeliz para os vitorianos. O empate a duas bolas, num jogo marcado pela grande penalidade falhada por Barros nos instantes finais, frustrou, pela segunda época consecutiva, o objetivo da subida.
Em 1957/1958 a época foi bem mais risonha para Ernesto Paraíso e para o Vitória. Com 41 pontos somados, os conquistadores terminaram a zona Norte no 1º lugar apurando-se para a fase final. O avançado brasileiro foi absolutamente preponderante: nos 33 jogos disputados, marcou 45 golos e sagrou-se o melhor marcador de todos os campeonatos nacionais. As derrotas frente ao SC Covilhã, por 1-2, e frente ao Boavista, por 5-2, complicaram bastante as aspirações de subida da equipa liderada por por Fernando Vaz. Ainda assim, a formação vitoriana acabou por terminar a prova no 2.º lugar o que lhe permitiu manter as esperanças de um regresso à 1.ª Divisão e, para isso, teria de vencer o SC Salgueiros, penúltimo classificado do campeonato nacional da 1.ª Divisão.
Na primeira mão, o Vitória SC surpreendeu o emblema primodivisionário com um triunfo fora de portas, por 1-2, com um bis do extremo Rola. O tão aguardado jogo da decisão teve lugar no Campo da Amorosa e um empate bastava para garantir o regresso ao mais alto patamar do futebol português. Perante bancadas repletas, os conquistadores resistiram às investidas da formação do Salgueiros e o empate a duas bolas carimbou o regresso à 1ª Divisão. Ernesto Paraíso foi um dos principais obreiros da subida vitoriana e, como prémio, recebeu 6.600 escudos e um relógio com uma legenda alusiva ao Vitória SC e à cidade de Guimarães.
Ernesto Paraíso permaneceu ao serviço do Vitória SC até à época de 1960/1961. Nessa altura, o avançado brasileiro foi dispensado por Artur Quaresma e a decisião do técnico motivou fortes protestos da massa associativa vitoriana. Enquanto jogador, o brasileiro representou em Portugal clubes como o Leixões, SC Braga, Famalicão e Vizela. Acabaria por regressar a Guimarães anos mais tarde – nas épocas de 1978/79 e 1979/80 – como vogal com funções no Departamento de Futebol, na direção presidida por Gil Mesquita.
O jogador brasileiro, que representou o Vitória durante sete temporadas enquanto jogador, deixou a sua marca bem vincada na história do clube por ser o primeiro brasileiro a vestir a camisola do Rei. Faleceu aos 79 anos, no ano de 2011, vítima de morte súbita mas o seu legado continua vivo nos quase cem anos de história do clube.