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Em Ronfe, Zé "sofre por eles", os que podiam ser filhos e netos. É família

Um corredor branco repercute o som de uma máquina de secar industrial. É mais um ciclo de lavagem para José Agostinho. Com quase 50 anos de Desportivo de Ronfe, nem a pandemia o tirou do complexo.

20 fevereiro 2023 > 12:00

José Agostinho percorre os ramais da vila de Ronfe e, por vezes, dá consigo estacionado à porta do Desportivo. Força do hábito, rotina, uma bússola que aponta para um ecossistema que precisa dele. “A gente afeiçoa-se tanto a eles que depois…”. O roupeiro deixa a frase a meio. Mas completa-a mais adiante. É o facto de poder “ser pai de todos e avô de metade”, é o “prazer de passar na rua” e toda a gente guardar um cumprimento para o “Zé”, é um sentimento de pertença cultivado desde os 18 anos.

No interior do Estádio do Desportivo de Ronfe, numa manhã fria de inverno, ouve-se o matraquear de uma máquina de secar industrial repercutido por um corredor desafogado. É mais um ciclo de lavagem testemunhado por José e pela mulher. Já são milhares. “Entro às 06h30. À segunda-feira é que venho às 06h00, é quando temos todo o trabalho dos jogos de fim de semana. Dá mais ou menos até às 11h00 para fazer o meu trabalho, com a ajuda da minha esposa, sem ela não fazia nada, não conseguia fazer isto tudo”, indica. Agora, não há mãos a medir. Nem sempre foi assim.

“Estivemos parados por causa da pandemia e eu vinha aqui todos os dias. Abria a porta, punha tudo a arejar, varria – não estava sujo, mas varria. Ia ao relvado, mexia numa coisa, mexia noutra. Passava aqui o meu tempo. De vez em quando ia ao café e voltava”. É só mais uma história de quem, com cerca de 50 anos de casa, nunca viu a porta como uma saída. Entrou pela primeira vez com 18 anos. Estava num café e foi convidado para ajudar o clube. “A partir daí foi sempre a ajudar dentro daquilo que estava disponível. Entrei para a direção, ainda agora estou como vogal”. Acumulou funções no Ronfe, só nunca pisou a tela retangular para jogar.

A juventude que que entra, corre e alegra

Nesta sala onde o roupeiro de 67 anos fala com o Tempo de Jogo há cor. Luvas de graúdos e chuteiras emprestam vivacidade ao espaço. Faltava muitas vezes – no período de sucessivos confinamentos – a “alegria” de ver os mais novos percorrer os corredores do complexo. “Às vezes, em conversa com a minha esposa, ela dizia-me que faltava o barulho das crianças, o ambiente era diferente”, recorda. Agora, “a gente já tem outra alegria”. É vê-los “a entrar, a correr e a alegria que dão”.

José Agostinho tem dias preenchidos, mas às vezes há tempo “para uma fugida”. Se o Vitória joga a boa hora, “eles sabem que gosto e colaboram”. No dia a seguir há mais para fazer. Começa novo ciclo de lavagem, mais um que o Zé – e a mulher – supervisionam em Ronfe.

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