“É o corolário de três anos de trabalho” – as reações ao dia do Pevidém
A vitória na série B do Campeonato de Portugal premiou um grupo que, na essência, é o mesmo nos últimos três anos. Na fase de acesso à Segunda Liga, a receita será a mesma: jogar para ganhar.

Minutos depois do Pevidém garantir a Liga 3 e de consumar o acesso à disputa pela Segunda Liga, o presidente tinha ainda dificuldade em “adjetivar todos os sentimentos” que lhe perpassavam pela mente. “É um misto de satisfação com um redobrar de ambição e de responsabilidade”, confessou Rui Machado ao Tempo de Jogo, ainda quando a festa era plena sobre o relvado do Parque de Jogos Comendador Albano Martins Coelho Lima.
Com um plantel obrigado a treinar ao final do dia, fruto das obrigações profissionais de vários dos atletas, a equipa de São Jorge de Selho venceu “uma série extremamente complicada”, protagonizando um feito “notável” até a nível nacional, considerou.
Para o dirigente pevidense, tal êxito só foi possível devido à estabilidade do plantel nos últimos três anos, quando os vimaranenses competiam ainda na Pró-Nacional da Associação de Futebol de Braga; dos 11 jogadores que alinharam no empate a dois com o São Martinho, oito já são cavaleiros de São Jorge há pelo menos três épocas. Para a primeira temporada no Campeonato de Portugal, só foi preciso “um ou outro retoque”. “O que está a acontecer hoje é o corolário de três anos de trabalho”, reiterou. “Com a qualidade extraordinária da equipa técnica, uma simbiose transversal a todo o clube e a grande qualidade aqui demonstrada, aconteceu aquilo que classifico de justo”.
Com a Liga 3 assegurada, a batalha pela Segunda Liga está prestes a começar. O “senso comum” colocará o Pevidém como o “elo mais fraco” da série, disse Rui Machado. Mas o dirigente crê que os adversários terão “cuidados redobrados” com uma equipa que não vai ao play-off para “cumprir calendário”, mas sim para vencer, com “ambição e competência”. A turma do vale do Selho já mostrou que “com pouco consegue fazer muito”, reforçou.
Noutro ponto do relvado, o treinador João Pedro Coelho encarou o feito do Pevidém como “uma demonstração de resiliência, de caráter e de grande determinação”, num contexto “amador”, que os jogadores, a estrutura e os seus familiares tiveram de fazer “muitos sacrifícios” para estarem a “um nível alto e competitivo, de acordo com a exigência do campeonato”. “Quando se chega a este ponto, tudo é recompensado”, assumiu. “Comprovou-se que, contra tudo o que pudessem pensar, conseguimos um primeiro lugar por mérito próprio”.
O sábado era apenas de festa. Durante a tarde, aliás, o plantel percorreu as ruas de São Jorge de Selho num autocarro, seguido por um cortejo de automóveis e presenteado com os aplausos dos que os viam passar. Mas o trabalho para preparar o grupo de apuramento para a Segunda Liga começa já na terça-feira. Ainda que a “exigência vá aumentando”, uma coisa é certa, afirmou João Pedro Coelho: o grupo não vai “preparar nenhum jogo para perder”.

“A mensagem era a de que devíamos acreditar no nosso valor”
Já com a t-shirt de campeão da série B vestida, o capitão João André admitiu que o Pevidém entrou “algo nervoso e receoso” no começo do embate com o São Martinho. “Tínhamos muito em jogo, uma época inteira. Notou-se esse nervosismo nos primeiros cinco minutos”, admitiu. Mas a equipa concentrou-se, entrou no jogo, fez dois golos e, apesar da “intranquilidade aquando do penálti que surge numa bola parada fortuita” e do segundo tento adversário, soube “reunir as tropas nessa fase”. “Mudámos um bocadinho a nossa forma de jogar e fechámos atrás para não permitir ao adversário marcar golos”, disse, acerca dos 20 minutos finais que conduziram o grupo à vitória na série B.
Tal proeza era “impensável” no início da época, mesmo no seio do plantel, reconheceu o defesa central de 27 anos, ao serviço do Pevidém desde a época 2017/18. “Vimos de uma realidade totalmente diferente. Somos uma equipa diferente de quase todas as outras. Não somos profissionais”, lembra.
Esse choque com o Campeonato de Portugal fez-se sentir no início da época, nas derrotas com Fafe (2-1) e Berço (3-0), mas a “união do grupo” face aos “resultados negativos” e às “dúvidas”, bem como o apoio da equipa técnica a da direção possibilitaram a ascensão ao topo da tabela. “A mensagem que nos foi passada pela equipa técnica e pela direção era a de que devíamos acreditar no nosso valor. Muitos de nós não tinham experiência neste campeonato”, realça João André.
Essa confiança levou a equipa a superar o eventual “medo de enfrentar o adversário”, a “tentar ter bola” e a “pressionar em cima”. E não é a luta pela Segunda Liga que vai desfazer essa identidade, vinca o capitão. “Não vamos para lá fazer número, nem para participar. Vamos para lá competir e para ganhar. E com essa mentalidade, vamos ver o que nos espera”, disse, prometendo “atitude tremenda, garra e personalidade”.
Câmara felicita “época ímpar”
A Câmara Municipal de Guimarães felicitou o Pevidém pelos feitos consumados no sábado, reconhecendo que o clube de São Jorge de Selho alcançou um “feito desportivo de assinalar numa época ímpar”, ainda para mais face às “condicionantes impostas pela pandemia”.
A mensagem assinada pelo presidente, Domingos Bragança, enaltece o “trabalho consistente e com resultados visíveis” que resultou do “empenho e dedicação de toda a estrutura do clube”, desde a direção, equipa técnica, jogadores, staff e também os “adeptos que vibraram à distância”.
O autarca esteve, aliás, presente no recinto onde se disputou o jogo com o São Martinho, tal como o vereador com o pelouro do desporto, Ricardo Costa.