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Downhill: descer a Penha para subir ao topo

O percurso acidentado e irregular do pulmão verde da cidade transformou-se no cenário perfeito para todos os que procuram esta vertente radical do ciclismo, com origem nos anos 70, na Califórnia.

23 novembro 2021 > 17:00

Em Guimarães, o BTT e o downhill começaram a ganhar expressão em meados da década de 1990. A Associação de Ciclismo do Minho (ACM) assumiu um lugar pioneiro ao dar expressão às provas da modalidade no calendário associativo. Atualmente a cidade continua a ser palco de provas importantes: o Campeonato do Mundo de Ciclismo Universitário, em 2019, e o Campeonato Nacional de Downhill, em 2020, na mítica e renovada pista de downhill da Montanha da Penha, são disso exemplo.

Foi esta mesma pista que recebeu, já em 2021, o Campeonato do Minho de Downhill. Para os atletas vimaranenses, o balanço foi positivo: venceram sete das onze categorias. Na elite, os vimaranenses Pedro Fernandes e Ana Leite sagraram-se vencedores. O Tempo de Jogo falou com os dois atletas para perceber como se apaixonaram pela modalidade, como vivem o desporto e como é que a disciplina de downhill é vivida no Minho e em Guimarães. À conversa esteve também Jorge Gonçalves, presidente da ACM, a entidade que regula e promove todas as vertentes do ciclismo nos distritos de Braga e Viana do Castelo.

 

Jorge Gonçalves: “Guimarães é uma terra de ciclismo”

Para Jorge Gonçalves, presidente da direção da Associação de Ciclismo do Minho, é fácil expor as principais motivações que norteiam o seu mandato e deixa claro o desígnio desta entidade minhota que é “a maior associação regional de ciclismo do país” seja em “número de atletas, clubes e atividades”. Honrar esse legado faz parte da sua missão, assim como “promover mais e melhor o ciclismo”.

Descreve Guimarães como “uma terra de ciclismo”. A Montanha da Penha é o ex-líbris para todos os que gostam de downhill, uma disciplina muitas vezes vista com desconfiança por ser entendida como demasiado radical, mas que é na verdade “uma vertente do ciclismo com uma componente técnica bastante acentuada”. O presidente da ACM entende que não se trata apenas de um local mítico, mas de um local com “características únicas”.

A agregação de “vontades e apoios” que tem permitido a Guimarães receber eventos “de grande dimensão e de todas as vertentes da modalidade” é a mesma que permite que o número de praticantes de todas as vertentes do ciclismo esteja a crescer em Guimarães. Há dois exemplos que justificam este crescimento: a existência de cada vez mais atletas minhotos de referência – aquilo que Jorge Gonçalves gosta de designar como “Força Minho” – e ainda a inauguração, em 2018, da segunda fase do Centro de Ciclismo do Minho, um espaço que permite que qualquer cidadão, “independentemente do nível de progresso físico e técnico”, possa encontrar “soluções e alternativas” compatíveis com as suas características na prática do ciclismo de competição e de lazer.

Jorge Gonçalves reconhece as adversidades e os obstáculos inerentes à prática e à promoção do ciclismo e em particular do downhill, mas releva que “com criatividade, engenho e dedicação” tem sido possível “superar as dificuldades”.

 

Pedro Fernandes: “Não procuro resultados, quero é ser feliz com a minha bicicleta”

BetoDH no mundo digital é Pedro Fernandes: está feita a apresentação do novo campeão do Minho em downhill. Apaixonado “pela adrenalina” que a modalidade o faz sentir, o vimaranense iniciou-se na modalidade aos 15 anos e desde então nunca mais parou. Na impossibilidade de se preparar especificamente para as competições, já que os estudos ocupam grande parte do seu tempo, o atleta considera que a gravação dos vídeos que faz para as suas plataformas digitais “podem ou não contar como um treino”, mas realça que “a diversão em cima da bicicleta também conta muito para ser um bom atleta”.

Pedro Fernandes entende que, apesar de Guimarães e o Minho terem “imensas pistas que podem ser usadas para praticar downhill”, a modalidade ainda não é “vista com a mesma seriedade de outros desportos” e, por isso, é complicado “angariar mais apoios e patrocinadores”. Para contrariar esta falta de exposição, o atleta usa as plataformas digitais para promover o seu percurso no downhill. No YouTube partilha os vídeos das aventuras vividas em cima da bicicleta e soma mais de quatro milhões de visualizações. “O meu canal de YouTube tem vindo a crescer constantemente, ainda não houve um momento de explosão, mas estou feliz com os resultados que estou a ter”, revelou.

Apesar de reconhecer a importância dos triunfos, o vimaranense entende que não é isso o mais importante e não se vê como “um atleta que esteja só à procura de resultados”. Antes disso está tudo o resto: “reparei que o mais importante neste desporto é a diversão que temos, as amizades e as memórias que levamos connosco. Os objetivos continuam a ser os mesmos de sempre: viajar, conhecer cada vez mais pistas e ser feliz com a minha bicicleta”.

 

Ana Leite: “Nós mulheres fomos ganhando um lugar forte nas modalidades de ciclismo. Somos elite por natureza”

Ana Leite começou a praticar downhill em 2010 e percebeu que as “boas sensações” tomavam conta de si de cada vez que descia uma montanha. Gostou de competir contra si própria, de ser apenas ela e a sua bicicleta, e, em 2012, decidiu aceitar o convite para ingressar num clube e experimentar a competição. “Tinha começado nesse mesmo ano a fazer as minhas primeiras descidas. Foi uma experiência fantástica, desde então nunca mais parei. São poucas as modalidades em que tu lutas contra ti próprio e esta é uma delas. Outra coisa importante é as amizades que ganhas, o companheirismo e a entre ajuda que estão sempre presentes”, disse.

Tal como Pedro Fernandes, a atleta não faz qualquer tipo de preparação específica antes das competições: “a única coisa que faço é descer, mas faço-o simplesmente porque gosto e não há dúvida que a melhor forma de ser bom na descida é treinar descida”. Ana Leite considera que o Minho é uma zona com “bastantes oportunidades para a prática do downhill” por causa das várias pistas espalhadas pela região, mas também tem um apontamento a fazer: as habitações que têm sido construídas estão a tapar “todas as possíveis passagens de bicicleta”. No entanto, Guimarães tem “uma vantagem única no país”: o teleférico que permite o transporte para o topo da montanha.

Quando a conversa resvala para a igualdade de género, Ana Leite prefere olhar para o progresso em vez de olhar para os problemas e enaltece o papel desempenhado pela Federação Portuguesa de Ciclismo nos últimos anos: “nós, mulheres, fomos ganhando um lugar forte nas modalidades de ciclismo e em todos os desportos; somos elite por natureza”.

A vimaranense confessa que o downhill não é a sua prioridade. É o enduro “que está na frente da batalha”. No entanto, reconhece que vencer um campeonato nacional de downhill era o sonho de qualquer atleta e não deixa de ser o seu. “Conseguir esse feito não esteve tão longe assim e, por isso, sempre que posso ir ao campeonato nacional, faço questão”, concluiu.

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