Nos últimos anos assistiu-se a uma proliferação de relvados sintéticos em Guimarães, acompanhando a tendência a que se assiste a nível nacional. O dia 18 de fevereiro de 2012 marcou o início de uma nova era com a inauguração daquele que foi o primeiro campo sintético do concelho, o Campo do Arnado, em São Torcato. De lá para cá já se instalaram mais de duas dezenas de relvados sintéticos no concelho, sendo que numa década o município investiu mais de quatro milhões de euros nestas infraestruturas que vieram impulsionar, essencialmente, o futebol distrital.

Desses sintéticos, 19 estão ao serviço de equipas vimaranenses no futebol distrital da Associação de Futebol de Braga (AF Braga) e sobram casos de clubes limitados à divisão em que estão atualmente, porque as dimensões dos relvados não permitem aspirações de subida. À memória vem o caso paradigmático dos Amigos de Urgeses, que em 2017 subiram à Pró-Nacional, o principal escalão distrital, mas tiveram de fazer a época em São Tiago de Candoso, uma vez que o seu campo não possui medidas.

Há dois anos teve de se pensar nessa situação em Campelos, quando o clube lutou até às últimas jornadas pela subida. Com um relvado acabado de inaugurar, o então presidente do clube, José Pimenta, dizia que o Campelos teria de “abdicar da subida ou de jogar num campo emprestado”.

2021 foi um ano pródigo em relvados sintéticos. Foram inaugurados cinco novos e um sexto ficou pronto, mas acabou por não ser oficialmente inaugurado. Destes seis campos, apenas um tem medidas para que se realizem jogos oficiais nos campeonatos nacionais da Federação Portuguesa de Futebol. Mais do que isso, destes seis relvados sintéticos inaugurados apenas dois poderão ser utilizados no escalão maior do futebol distrital da AF Braga.

No extremo nordeste perdeu-se a batalha: “É uma frustração entrar no campo. limita muito as aspirações do Gonça”

Matamá, Souto e Gondomar, Gémeos e Longos tiveram os seus campos relvados em 2021. Em Selho, o relvado estava em utilização há três anos, mas apenas foi inaugurado no ano passado. O Campo Água das Cabras ficou pronto também no ano passado, o tal que não chegou a ser inaugurado.

“É uma grande frustração entrar naquele campo, porque limita muito as aspirações do Gonça”, desabafa Filipe Rodrigues, diretor desportivo do clube. Juntando o dirigismo à carreira como jogador, conta com mais de duas décadas ao serviço do Gonça. Assume que a batalha foi perdida pelo Gonça na colocação do sintético; outros clubes reconhecem o mesmo, mas de forma mais recatada. “O clube está claramente limitado no seu crescimento. É frustrante saber que por mais que tenhamos uma boa equipa, por mais que sejamos competitivos e lutemos estamos limitados a esta divisão”, aponta o diretor, contando em traços gerais todo o processo de instalação do sintético em Gonça.

“O subsídio foi atribuído à junta, proprietária do campo, em 2019. Ficou estabelecido que, em princípio, o campo teria as medidas para disputar, no mínimo, o Pró Nacional. Sabemos que eram necessárias obras para crescer ao campo num dos lados e era preciso financiamento. O clube teve várias reuniões com a câmara, apresentámos várias soluções depois de pedir um parecer ao Conselho Técnico da AF Braga, mas com o aproximar das eleições começaram a obra sem dar cavaco a ninguém, com as medidas conforme estavam”, recorda Filipe Rodrigues, acrescentando que inclusivamente clube e Junta de Freguesia tiveram “vários atritos”.

A forma como todo o processo decorreu deixa o dirigente agastado, lembrando que o Gonça jogou uma época inteira em Travassós. “Foram-nos ditas coisas como: ‘Se subirem, pelo menos podem treinar aqui’, isto dito pelo vereador do desporto, o doutor Ricardo Costa, que nos prometeu que se subíssemos o campo seria alargado”. Filipe Rodrigues diz que, na sua opinião, o futebol distrital em Guimarães acaba por ser “atrofiado” por causa destas medidas. “Chegamos ao extremo de na nossa divisão ter seis equipas que não podem subir por causa das limitações dos campos. Há uma falta de visão estratégica enorme no desporto em Guimarães a este nível”, conclui.

Campo Água das Cabras, em Gonça.

Situação “preocupa” AF Braga: “Quando se faz uma coisa, ou se faz bem feito ou depois anda-se com remendos que não resolvem coisa alguma”

Na forja estão mais três relvados sintéticos. Santo Estêvão, São Cristóvão e Nespereira, este último a competir no futebol popular, foram contemplados nos com um total de 650 mil euros para a instalação e relvados sintéticos nos apoios do município. São Cristóvão e Nespereira terão medidas para os campeonatos nacionais, em Santo Estêvão apenas será possível fazer com capacidade para o Pró-Nacional.

Manuel Machado, presidente da AF Braga, assume que este é um problema que “preocupa” o organismo que tutela o futebol distrital. “As medidas que se praticam pela AF Braga foram aprovadas em assembleia-geral há bastantes anos”, começa por clarificar, referindo que concorda com o modelo que é praticado. “A Pró-Nacional é uma competição que dá acesso aos nacionais e, nesse sentido, temos de acautelar as coisas a montante”, aponta.

“Temos feito todas as diligências para que as coisas funcionem bem. A AF Braga tem um Conselho Técnico que manda para as câmaras municipais e para os clubes todas as informações, croquis com as medidas, a questão das marcações necessárias para cumprir os requisitos. Disponibilizamos a equipa do Conselho Técnico, antes de se iniciarem as obras, para dar um aconselhamento e não cobramos nada por isso. Quando se faz uma coisa, ou se faz bem feito ou depois anda-se com remendos que não resolvem coisa alguma. Temos todos os cuidados nessa matéria com isso”, refere Manuel Machado, explicando a forma como o processo se desenrola por parte da associação.