CR 7: saber estar e saber sair da mesma forma que soube chegar
Cristiano Ronaldo tocou o Olimpo e por lá se manteve durante anos. Soube chegar. E agora quanto ao saber sair? É talvez o maior dilema que atravessa na carreira.

Saber chegar, saber estar e saber sair são três momentos definidores das grandes personalidades. No desporto fala-se muito do saber ganhar e do saber perder e, a cada vitória ou a cada desaire dos principais protagonistas há sempre quem avalie a forma como se festeja um triunfo, ou se lida com a frustração de uma derrota.
Serve este parágrafo inicial para trazer à liça o assunto Cristiano Ronaldo e o quanto ele, na minha opinião, tem tudo a ver com estas premissas.
O menino da Madeira, oriundo de uma família pobre, que não lhe deu aquilo a que todas crianças deveriam direito. Correu atrás de um sonho, deixou os seus para trás e enfrentou uma Lisboa desconhecida. Muitas vezes com as lágrimas nos olhos, trabalhou, lutou, acreditou e a sua aposta total na carreira resultou em pleno. Nunca antes, em Portugal, houvera um jogador de futebol a atingir os patamares alcançados pelo CR7. Tocou o olimpo e por lá se manteve durante anos. Soube chegar.
Anos que não ficaram isentos de falhas (pudera! O homem é humano e todos os humanos falham), de atitudes que não são condizentes com o estrelato atingido. Foi sempre tendo, como é normal nestes casos, uma legião de fãs que tudo perdoava, outra que o criticava por tudo e por nada e uns quantos que iam balanceando entre os dois polos.
CR7 tem uma máquina poderosa que trabalha a sua imagem. O sucesso do jovem madeirense interessou a muita gente que, através dele, encheu os bolsos e que faz de tudo para que seja imune às críticas. Nem sempre o filho da Dona Dolores soube estar.
E agora quanto ao saber sair? É talvez o maior dilema que atravessa na carreira.
A caminho dos 38 anos, CR7 sabe, porque é inteligente, que já não reúne as capacidades que fizeram dele um ícone das duas últimas décadas do futebol mundial. Sabe que já não pode ser titular indiscutível em equipas de topo das principais ligas europeias, apetrechados de ‘cavalos novos, com sangue quente’ que já o deixam para trás. Sabe que vai sair de Manchester, um clube que o idolatrou, pela porta pequena, que está a dar maus exemplos internos e externos. Para se construir algo na vida é preciso muito tempo, mas tudo pode ruir num ápice. Pelo feitio que tem, ou por mau aconselhamento, este mago da bola pode estar a desenhar uma saída pela porta pequena. Claro que tem sempre na Federação Portuguesa de Futebol, e em muitos dos interesses instalados, um escudo protetor que o pode levar a continuar a ser titular no próximo Mundial e, como o próprio já o anunciou, no Europeu. Sim, digo titular porque se for convocado tem de jogar de início.
Se na equipa das quinas 'cheirar o banco' pode fazer as birras que têm marcado esta época em Inglaterra. Claro que, na seleção, não há ninguém que mande mais do que ele para tomar essa decisão difícil e daí, entender, que Cristiano Ronaldo deveria saber sair com grandeza ou, então, aceitar ficar com um papel menos proeminente. É óbvio que CR7 pode continuar a ser útil à seleção mas não como sendo ‘ele e mais dez’. Tem que saber estar e saber sair da mesma forma que soube chegar. Este é o ponto. O futuro o dirá.