Comitiva Olímpica Vimaranense
Todos estão habituados a abrir portas, passar por elas e deixá-las encostadas em vez de fechadas. Com eles e com elas, o caminho ficou menos difícil para quem se seguir.

No início do século XX começou a despontar, na cidade de Guimarães, o gosto pelo desporto. Em 1901, foi criado o Clube de Caça e Atiradores Civis de Guimarães, a coletividade de caráter desportivo mais antiga de que há registo. As notícias da época dão-nos conta de que na primeira década do século passado se praticava essencialmente caça, ciclismo, esgrima, ginástica e hipismo. Nas décadas seguintes, o desporto vimaranense estava destinado a popularizar-se e a organizar-se. As atividades automobilísticas ganharam espaço, com a Rampa da Penha a realizar-se regularmente a partir de 1930. Ainda assim, foi o futebol que mais encantou os vimaranenses. A fundação do Vitória Sport Clube, em 1922, e o consequente ingresso nas provas distritais foi para isso fundamental.
Com o futebol a ocupar um espaço central na vida da sociedade vimaranense de então, começaram a prosperar outras modalidades entusiasmantes na cidade. É o caso do hóquei em patins e do ténis de mesa. Eventualmente modalidades como o voleibol – que contribuiu para incluir as meninas e as mulheres na prática desportiva –, o basquetebol e o andebol começaram a fazer parte dos dias desportivos de Guimarães. Depois do 25 de Abril de 1974, o atletismo registou uma explosão notável a nível de praticantes e clubes envolvidos. No presente milénio, ainda há a destacar a prática e o crescimento do ténis, do polo aquático e de desportos de combate.
Os anos passaram e o interesse no desporto de competição aumentou, surgiram novas associações que fomentaram a prática desportiva nas mais diversas modalidades, houve investimento em infraestruturas, em recursos humanos e em conhecimento. Criaram-se ambientes propícios para potencializar os atletas vimaranenses e permitir que pudessem saltar para os níveis de competição mais elevados nas suas modalidades.
Para a maioria dos atletas, os Jogos Olímpicos não encontram paralelo com nenhuma outra competição. A etimologia não engana e não é a desproposito que olímpico é sinónimo de divino e grandioso. Não são poucos os atletas que fazem desta participação o maior objetivo da carreira e trabalham quatro anos e depois mais quatro e ainda mais quatro para conseguir a desejada participação. Nos Jogos Olímpicos da antiguidade, os vencedores recebiam uma coroa de ramos, mas sobretudo glória, riqueza e respeitabilidade. Quando regressavam às suas cidades, tudo lhes era assegurado e não precisavam de se preocupar com muito até ao fim das suas vidas.
A Comitiva Olímpica Vimaranense é reservada atletas nascidos em Guimarães e que alcançaram o feito de chegar aos Jogos Olímpicos. É composto por algumas das maiores referências do desporto nacional. São atletas nascidos e formados em Guimarães com carreiras recheadas de prémios, triunfos, recordes e histórias. Uns já se retiraram e continuam a promover não só a prática desportiva e Guimarães; outros continuam os estandartes da atualidade e impulsionam as suas modalidades como poucos. Todos estão habituados a abrir portas, passar por elas e deixá-las encostadas em vez de fechadas. Com eles e com elas, o caminho ficou menos difícil para quem se seguir.
Tudo indica que Aurora Cunha tenha sido a primeira pessoa nascida em Guimarães a participar nos Jogos Olímpicos. A 23.ª edição, no ano de 1984, em Los Angeles, foi apenas o início. A atleta de Ronfe ainda marcou presença nas duas olimpíadas seguintes. Nessas duas ocasiões, não partiu de Guimarães sozinha. Em 1988 e em 1992, a comitiva para os Jogos Olímpicos de Seul e de Barcelona contava com os gémeos Castro. Dionísio somou essas duas participações olímpicas e o irmão Domingos dobrou o número. É o recordista vimaranense de participações nos Jogos Olímpicos. Ainda viajou para Atlanta em 1996 e para Sydney em 2000. Nestes últimos, teve a companhia do também vimaranense e primo Manuel Silva. Quatro anos depois, em Atenas, Fernando Meira, ao serviço da seleção de futebol olímpica, juntou-se ao já repetente Manuel Silva.
Em 2012, voou para Londres apenas uma vimaranense: Dulce Félix. Natural de Azurém, correu a maratona e repetiu a experiência um quadriénio depois. A comitiva de 92 atletas portugueses que viajou para o Rio de Janeiro em 2016, as primeiras olimpíadas realizadas em solo sul-americano, integrou um total de 5 vimaranenses, número recorde. Foi uma comitiva histórica. Para além de Dulce Félix, a única portuguesa a terminar a prova nesse ano, Rui Bragança tornou-se no primeiro atleta português de taekwondo a vencer um combate nos Jogos Olímpicos; José Mendes foi o primeiro ciclista vimaranense a competir nos Jogos Olímpicos; na vertente de pares, o tenista João Sousa contribuiu para a melhor prestação lusa de sempre; e Manuel Mendes foi o primeiro vimaranense a participar nos Jogos Paralímpicos e a pôr uma medalha ao peito.
Chegamos, por fim, aos Jogos Olímpicos de Tóquio. Os XXXII Jogos Olímpicos vão começar no dia 23 de julho de 2021, um ano mais tarde do que estava inicialmente previsto. A pandemia trocou os ciclos olímpicos: este, que agora finda, foi de cinco anos e o próximo, que em breve começa, vai ser de apenas três. Ao longo dos próximos dias, 92 atletas portugueses, praticantes de 17 modalidades, vão viajar para Tóquio. Quatro vão elevar mais uma vez o nome de Guimarães. A Comitiva Olímpica Vimaranense é composta pelos repetentes João Sousa, Manuel Mendes e Rui Bragança, a quem se junta o andebolista Rui Silva na sua primeira missão olímpica.