Clube Desportivo de Guimarães “vai crescendo” e hoje já luta com os grandes
Nas imediações da Universidade do Minho, em Azurém, os ganchos e os pontapés frontais repetem-se dia após dia. São eles a seiva que alimenta um clube em ascensão.

Já há muito tempo que Manuel Gomes treina nas instalações da Universidade do Minho. As coisas eram diferentes no início. Havia uma “salinha”, uma “equipa que não estava registada” e “treinadores que davam aulas de kickboxing”. A conjuntura deixou aquele clube que já existia nas suas mãos: “na altura as opções foram muito claras e ou eu pegava no clube ou o clube acabava”. Na altura, Manuel já era treinador e assumiu a responsabilidade. O clube não acabou e as coisas mudaram. A salinha expandiu-se e o diminutivo já não serve: “Vamos treinando, vamos competindo, vamos conseguindo algumas coisas”. Eis a história do Clube Desportivo de Guimarães ainda antes de completar uma dezena de anos desde a fundação.
O Clube Desportivo de Guimarães foi fundado em 2014 por Manuel Gomes “e um grupo de alunos” que ainda hoje se reúne para treinar. É das poucas coisas que se mantém intacta dos dias iniciais. Os últimos anos foram sinónimo de mudança e de crescimento. Ainda com sede nas instalações da Universidade do Minho, Manuel aponta para a nave que tem diante dos olhos e prontamente explica que foi o obreiro do espaço: “Fui eu que criei isto tudo, este espaço fui eu que o criei para termos aqui condições”. Há um ringue idealizado para o treino de competição e um espaço mais arejado para treinos de condição física.
“Os suportes fomos nós que montamos e os sacos fomos nós que compramos, é o clube que suporta tudo”, explica antes de notar algumas dores de crescimento. É que hoje já não é só um grupo de amigos que se reúne para treinar modalidades de combate e Manuel lembra que há dores de crescimento: o espaço é “muito interessante para o treino”, mas “agora já é um bocadinho pequenino”.
É para o clube de Manuel que convergem “todo o tipo de atletas” com o intuito de praticar kickboxing, boxe e muay thai. “Temos atletas que trabalham, que já foram à universidade, outros que nunca estiveram ligados à universidade”, explica o treinador. Inseridos no meio académico da Universidade do Minho, “o foco é naturalmente o desporto universitário”, mas Manuel esclarece que não é por não ter ligações à universidade “que um aluno deixa de ser aluno ou deixa de treinar connosco”.

O nome de Sofia Oliveira é incontornável quando se quer contar a história do Clube Desportivo de Guimarães. A atleta natural de Vila Nova de Famalicão é o ex-líbris da agremiação. A concluir os estudos de Engenharia Eletrónica Industrial e Computadores no Campus de Azurém, “faz treinos bidiários, trabalha e dá treinos”. O treinador considera que a sua pupila é “um exemplo” e “não é por vaidade, é mesmo para que se perceba que se consegue gerir tudo e consegue-se fazer tudo”.
Com 23 anos, Sofia é profissional e adquiriu este ano o estatuto de alto rendimento. Quando questionado sobre os feitos e triunfos mais importantes do clube, Manuel lembra a medalha de bronze conquistada pela famalicense no Campeonato do Mundo da World Association of Kickboxing Organizations (WAKO) e a participação no AK1 Grand Prix, na República Checa. Para além da medalha, o resultado alcançado vale à atleta um carimbo no passaporte e o epíteto de pioneira. No próximo mês de julho, vai viajar com o treinador para os Estados Unidos da América, mais especificamente para Birmingham, para participar nos World Games. É a primeira kickboxer portuguesa a garantir o apuramento para o evento internacional reconhecido e apoiado pelo Comité Olímpico Internacional.

Manuel Gomes também foi atleta, mas a sua “carreira acabou por ser um bocado mais curta”. Na altura, “estava a estudar, a trabalhar, depois tinha de dar as aulas” e chegou o momento em que percebeu “que tinha de deixar de ser atleta para ser só treinador”. Foi nesse momento que percebeu que “se podia fazer mais coisas” naquele clube que tinha em mãos e também foi quando descobriu realmente a motivação que se escondia por detrás dessa vontade de dar vida a um clube.
“Quero que os meus atletas tenham aquilo que eu gostava de ter tido”, afirma antes de concluir a ideia: “eu trabalho muito, tento muito ter apoios, os meus atletas, quando vão a provas – vão aos campeonatos nacionais, vão a qualquer lado – não pagam, eles não pagam as inscrições nas provas, não pagam alimentação, não pagam dormida, não pagam transporte”. Afirma que os resultados estão em segundo lugar e reconhece que “eles chegarem ou não chegarem a um nível maior já não é comigo, eu quero é que eles tenham tudo”.
A conversa com Manuel é menos sobre medalhas e mais sobre a vida. “Se quiserem levar isto minimamente a sério, são obrigados a ter alguns conceitos desde alimentação, desde sono, ou seja, é preciso dar-lhes uma rotina e uma disciplina para a vida que eu acho que é boa e isso é o que, a mim, me alimenta muito”, diz o treinador.
Explica que “o que importa mesmo” são as mensagens, as chamadas e os encontros com os antigos alunos que já não vê há muitos anos, mas que nunca se esquecem dos momentos em que cruzaram caminhos: “eles dizem-me que os tempos que treinaram comigo foram das melhores experiências que tiveram e sentiram que isso os ajudou na vida deles”. Manuel só pede uma coisa: “quero que os meus alunos estejam focados nisto durante o tempo que passam aqui”.
Na agenda de 2022, Manuel Gomes tem dois eventos importantes. No próximo mês de julho, o treinador vai viajar com Sofia Oliveira para os World Games, evento que decorre entre os dias 7 e 17, e depois para os Jogos Europeus Universitários, uma competição da WAKO que vai desenrolar-se entre os dias 14 e 19 na Polónia. O treinador não gosta que as datas se sobreponham no calendário, mas admite que vai fazer tudo o que estiver ao seu alcance para estar a acompanhar os seus pupilos em Birmingham e em Lódz: “as datas são um bocado coincidentes e nem todos vão poder ir, mas eu vou ter de arranjar forma, se calhar vou ter de ir direto dos Estados Unidos para a Polónia”.
Até lá há muitas competições para recuperar o ritmo, para manter os atletas quentes e para os preparar para os grandes momentos: “os resultados não são assim muito importantes, quero é que eles ganhem ritmo competitivo para terem motivação para treinar e depois estarem bem, isso é que é importante este ano, o meu objetivo é pô-los a mexer o máximo possível”.