CECA – ‘Concílio dos Estou em Condições de Avançar’
O pior é quando chega ao final da tarde. Reúne-se o CECA – ‘Concílio dos Estou em Condições de Avançar’, que se divide em painéis por diversos canais de televisão. ‘A última informação que tenho é…’

Como amante de futebol esta é a época que menos aprecio. A bola está parada – nem mundial nem europeu para matar o vício –, mas há toda uma indústria que é preciso manter ativa. É a altura do ano em que os adeptos têm de apertar bem os cintos de segurança porque, em apenas um dia, as notícias sobre os seus clubes dão voltas e reviravoltas que fazem corar de vergonha a mais perigosa das montanhas russas.
Confesso que gostava de fazer a experiência de poder relatar um dia do mercado de transferências. O relato de um jogo de futebol é feito a um ritmo vertiginoso em que a cada segunda a bola muda de lugar, algo acontece que é preciso contar ao ouvinte. São 90 minutos de indefinição a contar algo que que está a acontecer mas que muda de repente no segundo seguinte. Para complicar ainda mais esta tarefa juntamos-lhe a emoção da narração. O ‘bruá’ de uma bola que vai ao poste, o deslumbramento por uma finta estonteante, ou o êxtase por um daqueles golos de recorte fino.
Se pensarmos bem, um dia no mercado de transferências não é muito diferente. De manhã, ao acordar, as capas dos jornais anunciam as boas novas. O jogador X vai para o clube Y, o treinador H tem uma proposta do clube Z e por todo o jornal vai-se sucedendo o anúncio das novidades. Ultrapassada esta leitura começamos a ouvir as notícias nas rádios. Algumas a confirmar que, de facto, o jogador X vai para o clube Y mas a outra emissora, minutos mais tarde, já diz possuir uma informação que, afinal, o clube T é capaz de pagar mais e terá o X para gáudio dos adeptos. Pela hora de almoço as conversas à mesa do café podem começar por estas bases. O pior é quando chega ao final da tarde. Reúne-se o CECA – ‘Concílio dos Estou em Condições de Avançar’, que se divide em painéis por diversos canais de televisão. ‘A última informação que tenho é…’; ‘A minha fonte diz-me que…’ e o afamado ‘estou em condições de avançar’. E aqui é que mora o ridículo de tudo isto. São dias e dias, semanas a fio, a anunciar avanços e recuos nos negócios – a maioria talvez nem se concretize – e a alimentar conteúdos ocos, de especulação pura mas que o povo assiste como se estivesse a ver um programa sobre uma ciência exata.
Quem ganha com tudo isto? Os meios de comunicação social que vão tendo boas audiências com estas verdadeiras novelas mexicanas, os empresários que vão plantando essas informações, e os clubes que usam esses especialistas do CECA para pressionarem determinado tipo de negócios ou ir iludindo os adeptos.
Se se concretizassem todas as transferências que são noticiadas, acreditem que o caos nos aeroportos seria ainda maior.
Boas férias!