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Carolina e Francisca: patinagem_artigo revista

Através do CART ou da Academia de Patinagem de Guimarães, abre-se a trajetória para um desporto que reúne força, técnica, resistência, graciosidade. E “persistência” para rolar além-fronteiras.

21 outubro 2022 > 09:45

No pavilhão do Centro Recreativo de Atividades Taipense (CART), Carolina Novais aguarda a sua vez de deslizar sobre a madeira, enquanto inúmeras crianças, como ela, percorrem o recinto em círculo. Enverga as cores do clube – azul, vermelho e branco -, diferentes daquelas com que arrecadou a medalha de bronze na Taça da Europa, a 05 de outubro.

Em representação da seleção nacional, a patinadora de 10 anos conquistou o terceiro lugar na vertente de solo dance, escalão de infantis, em Bergen op Zoom, nos Países Baixos. O seu treinador, Rodrigo Viegas, confessa ter “muito emocionado” quando viu que o pódio estava garantido – “fiquei num momento de transe”, detalha -, mas Carolina reagiu com mais calma.

“Eu pensei assim: bem, o pior lugar que posso ter agora é o terceiro. Mesmo que ficasse de fora do pódio, já era muito bom, porque era a primeira vez que ia ao campeonato europeu”, descreve, a propósito de uma competição em que ficou atras de Beatriz Brandão e Leonor Carneiro, ambas do Rolar Matosinhos.

Campeã nacional de solo dance em benjamins, no ano passado, a patinadora do CART “acreditava num bom resultado” como corolário do “esforço” que tem levado a cabo. Esse trabalho está, aliás, em curso desde os seus quatro anos, quando optou pela patinagem em vez do ballet. “Tinha uma amiga da escola que andava nas duas coisas e disse-me. Como o médico disse que era melhor não ir para o ballet, porque tinha acabado de endireitar os meus pés e poderia pô-los de novo tortos, fui para a patinagem”, conta.

Tomada essa decisão, Carolina Novais encetou um trajeto ascendente. Deve-o, em parte, “ao compromisso com a modalidade” e à “persistência”, que fazem dela “a primeira atleta a entrar no rinque e a última a sair dos treinos”. “É assim, porque gosta da modalidade e quer atingir resultados. Gosta de vencer e de aprender novos elementos técnicos. Tem as características físicas e psicológicas de uma atleta de competição”, descreve o treinador que a acompanha desde 2020.

A sua pupila ganhou a medalha com menos um ano de idade face às competidoras, o que pode ser indício de “potencial” e de “muita margem de evolução” até ao escalão sénior, o “auge” de um patinador. Seguir “carreira profissional” em Portugal é difícil e idade adulta é ainda horizonte distante, mas Carolina sonha à mesma com um futuro na modalidade; quem sabe, ir pelo menos a um campeonato do mundo, competição que só se realiza a partir dos juniores.

 

 

“Quer sempre mais, e mais, e mais”

Francisca Canário Oliveira deixa de rodar sobre si mesma enquanto prepara a ida à Taça da Europa de patinagem livre, a decorrer na cidade italiana de Roccaraso ao fecho desta edição, e interrompe o treino no pavilhão do INATEL. Aos 16 anos, a juvenil da Academia de Patinagem de Guimarães avisa logo que a modalidade “não tem o devido reconhecimento” em Portugal, mas confia, ainda assim, num futuro sobre rodas. Promete “trabalhar muito” para estar no campeonato da Europa de 2023 e para chegar a um campeonato do mundo num prazo de três anos.

A presença na Taça da Europa não deixa, porém, de ser “uma ambição” concretizada, feito de uma patinadora que chegou à modalidade aos oito anos, a pensar noutro caminho. “Os meus melhores amigos são rapazes. Quando era pequena, andava no futebol. Mudei para a patinagem, porque queria jogar hóquei em patins (…). Entretanto fui ficando e ganhando gosto”, conta ao Jornal de Guimarães.

Os passos, os saltos, os peões – movimentos da patinagem livre – entranharam-se-lhe ao ponto de levar “a competição cada vez mais a sério”: a possibilidade de se superar a si própria dá-lhe “motivação”, e nem a pandemia a travou. “Trabalhei muito na quarentena para ser mais reconhecida e, em 2021, comecei a ter melhores resultados. Fiquei em sétimo no campeonato nacional do ano passado. Neste ano, fui sexta”, frisa.

A facilidade em “traçar objetivos” e a determinação em cumpri-los, acrescenta Maria Magalhães, sua treinadora há oito anos, são características que distinguem Francisca de outras crianças e adolescentes que lhe passaram pelas mãos. “Ela até leva para casa objetivos e treina sozinha. Quer sempre mais, e mais, e mais. A grande característica dela é a perseverança”, aponta.

Francisca e Carolina são os nomes em evidência na modalidade de maior prevalência feminina em Guimarães, pelo menos no final da época 2021/22: dos 85 inscritos na Federação Portuguesa de Patinagem, 80 eram do género feminino (94%). Ainda assim, os dois emblemas do concelho de Guimarães antecipam ciclos de crescimento, e esse número pode já ser maior.

Sediada na Casa do Povo de Fermentões, a Academia ressentiu-se da pandemia e conta hoje com 50 atletas, número aquém de anos anteriores, mas Maria Magalhães encara o futuro com otimismo. A confiança advém de uma equipa técnica de uma dezena de elementos, preparada para ensinar um desporto de “força, técnica, resistência e graciosidade” – Francisca faz parte, dando aulas de iniciação – e também de uma direção empenhada em lançar “novos projetos”: a retoma dos “grupos”, por exemplo, vertente mais adulta, que exige 20 a 40 atletas.

No CART, os patinadores já rondam os 80, estima a presidente, Maria Lopes. Com quatro treinadores em “sinergia”, o clube já é representado além-fronteiras por Carolina Novais e conta, para o ano, participar num campeonato do mundo, com uma das suas caras novas, Diogo Nogueira. Para Rodrigo Viegas, esses dados comprovam “uma grande evolução” desde que lá chegou, em 2020. “Até então, a patinagem tinha uma vertente mais recreativa. Hoje somos um clube de competição e de alto rendimento”, distingue.

 

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