Braçadas para a história
As equipas masculinas e feminina do Vitória alcançaram uma inédita subida à 1.ª Divisão do Campeonato Nacional de Clubes, a 05 de dezembro. Treinador e atletas contam como o "sonho" se fez realidade.

Foi em Estarreja, cidade do distrito de Aveiro, que se escreveu o mais recente capítulo de ouro do livro que conta a história da secção de natação do Vitória Sport Clube. Constituída em dezembro de 2001, esta é uma das modalidades que mais contribuí para engordar o palmarés do clube. Precisamente 20 anos depois da fundação, e quase 100 depois da fundação da própria instituição, consumou-se um feito inédito: as duas equipas – feminina e masculina – ascenderam pela primeira vez ao Campeonato Nacional de Clubes da 1.ª Divisão.
Foi obra da comitiva de 17 atletas que representou o Vitória SC no Campeonato Nacional de Clubes da 2.ª Divisão. Não só conquistaram a subida como ainda trouxeram um troféu – a equipa masculina sagrou-se campeã do escalão – e 17 medalhas. A subida de ambas as equipas no mesmo ano, disse o treinador em conversa com o Tempo de Jogo, “deu mais gozo” a todos os atletas.
O treinador Rui Costa não é parco em palavras e afirmou, por entre os barulhos dos seus atletas a mergulharem na água para dar continuidade ao trabalho que está a ser feito, que este momento é a concretização de um “sonho de menino”. Nasceu em Guimarães há 30 anos, uma década antes de o Vitória SC adotar a modalidade. Deu as primeiras braçadas quando tinha nove anos, ainda na equipa da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Guimarães. Depois transitou para o Vitória SC, e foi no clube da terra – e do coração – que se formou. No tempo de uma vida, esteve afastado do emblema vitoriano apenas durante dois anos.
Em setembro de 2016 regressou, mas nesse momento já foi para assumir o cargo de treinador. Eventualmente assumiu o cargo de treinador absoluto, ou seja, dos escalões de juvenis, juniores e seniores. Representar o clube é especial: “Nascendo em Guimarães e sendo vitoriano, é um orgulho que nasce e que está dentro de nós representar o Vitória”.
Para chegar a este momento foi preciso “muito trabalho” e muito cuidado “no planeamento” e “gestão” das equipas. Afinal, muitos dos atletas estudam e outros tantos trabalham. A logística é “obviamente muito difícil”. Os treinos podem ser às 6h30 ou às 8h para se repetir a dose à tarde ou à noite. E, pelo meio, é preciso ajustar os horários e os treinos de forma que os atletas “consigam recuperar”. Essa é a parte que está sob o controlo de Rui Costa. O resto – o “descanso”, a “motivação” e os “objetivos bem definidos” – está do lado de quem entra na água: um grupo “de rapazes e raparigas incríveis” que se “dedica imenso ao clube e à modalidade”.
Domínio masculino
Alexandre Amorim, de 22 anos, nasceu em Santa Maria da Feira e agora vive em Guimarães. Representa o Vitória SC desde junho e, quando estava ao serviço do Leixões SC, falava com Tomás Lopes, na altura atleta do FOCA, sobre chegar à primeira divisão. Agora é uma realidade para os dois colegas de equipa e “o realizar de um sonho”, diz Alexandre.
Em Estarreja, colocou seis medalhas ao peito. Para além das duas de ouro e uma de bronze que ganhou em estilos individuais, ganhou mais três de ouro em equipa, ao lado dos colegas Frederico Riachos, João Costa, Tomás Lopes e Eduardo Magalhães. A nível individual, João Costa venceu mais três medalhas de ouro, Tomás Lopes conquistou outras duas medalhas de ouro e Frederico Riachos e Rodrigo Cunha venceram, cada um, uma medalha de bronze.
"Obviamente que, nascendo em Guimarães e sendo vitoriano, é um orgulho que nasce e que está dentro de nós representar o Vitória", Rui Costa, treinador de natação do Vitória SC
Estes feitos são o medidor que atestam o sucesso “de uma equipa masculina muito forte” e que tem alguns “dos melhores atletas do país no estilo que nadam”, disse o treinador. É unânime que “a equipa masculina tinha o objetivo de ganhar a segunda divisão e obviamente de subir”. O atleta Alexandre subscreve as palavras do timoneiro e disse que desde o início da época estava estabelecido que “a subida era muito possível” e que, a partir de então, “o nosso principal objetivo passou mesmo por ganhar a segunda divisão”. No Campeonato Nacional de Clubes da 1.ª Divisão, o objetivo da equipa é intrometer-se entre os maiores da elite.
Equilíbrio feminino
Se a equipa masculina se destacou pelo domínio em todas as provas, a equipa feminina destaca-se por ser “muito equilibrada”. As palavras são do treinador Rui Costa e este foi um trunfo necessário para terminar o Campeonato Nacional da 2.ª Divisão no terceiro lugar, alcançar a subida e levar para Guimarães quatro medalhas. Filipa Fernandes, ao nível individual, venceu duas medalhas, uma de prata e outra de bronze; Maria Inês Castro venceu mais uma de prata; e, em equipa, as duas, ao lado de Catarina Almeida e Ana Fernandes, conquistaram mais uma medalha de bronze.
Para Ana Inês, atleta natural de Guimarães e que representa o clube há 12 anos, era impensável subir de divisão; a nadadora foi para Estarreja para se “manter na segunda”. No entanto, as provas foram decorrendo e o Vitória mantinha-se em primeiro. Foi nessa condição que partiu para a derradeira sessão, a mais difícil de todas, e acabou no último lugar do pódio. “Nós demos tudo por tudo e conseguimos”, afirmou a vimaranense com um sorriso. E também Ana repete as mesmas palavras de Alexandre Amorim e de Rui Costa: “É um sonho representar o meu clube”. A subida de divisão foi a forma que encontrou para “honrar" as cores que defende.

O futuro
Com os pés assentes no Campeonato Nacional de Clubes da 1.ª Divisão, Rui Costa define que o próximo objetivo a cumprir “é crescer como equipa” e isto passa por mais do que amealhar títulos. “Queremos também captar mais atletas para ter uma base de sustentação”, diz o treinador antes de acrescentar que é preciso pensar no futuro “a longo prazo”. Na competição primodivisionária há 12 equipas a competir e, destas, três vão ser despromovidas à divisão secundária.
O timoneiro não quer chegar à primeira divisão “e estar a lutar para não descer”. Embora lhe pareça ser ainda muito cedo para fazer previsões, Rui Costa apontou que a equipa masculina tem qualidade para aspirar ficar entre os quatro ou três melhores do escalão e que a equipa feminina pode sonhar com os primeiros seis lugares da tabela.