Berço: desenlace cruel para quem tornou invisíveis as diferenças de escalões
Em muitas fases, foi complicado descortinar a equipa que pertencia à Primeira Liga e a que jogava no Campeonato de Portugal tal o equilíbrio, mas a passagem sorriu ao Belenenses SAD no último minuto.

A equipa que viajou da Área Metropolitana de Lisboa dominava as operações a nível territorial, mas a baliza de Marçal parecia a salvo, enquanto se aproximava o minuto 120. O desempate por grandes penalidades afigurava-se como o desenlace mais provável para o duelo entre Berço e Belenenses SAD, mas Ndour encarregou-se de o negar: após cruzamento da esquerda, o ponta de lança senegalês desferiu um remate cheio de intenção, que ainda tabelou no poste antes de beijar as redes para fixar o 2-1 final, em jogo da terceira eliminatória da Taça de Portugal.
Teve requintes de malvadez o final do primeiro jogo do emblema vimaranense criado em 2016 frente a um primodivisionário do futebol português. A reação dos jogadores do Berço ao golo denunciava o fim de um sonho alimentado pelos triunfos sobre o Joane, na eliminatória inaugural da prova rainha, e sobre o Limianos, na segunda.
É que as diferenças entre a formação do escalão maior e a turma da Série B do Campeonato de Portugal foram praticamente invisíveis nos 20 primeiros minutos: a um ritmo pouco atrativo, é certo, a bola rolou sobretudo a meio-campo, com os homens trajados de dourado a equipararem-se aos lisboetas em todos os aspetos. Os comandados de Ricardo Martins chegaram à área numa mão cheia de cruzamentos, tendo ficado a pedir grande penalidade num deles, por alegada mão na bola de um atleta da Belenenses SAD.
A corrente do jogo só começou a fluir no sentido da baliza vimaranense do minuto 25 em diante, com Rafael Camacho a emitir o primeiro aviso, aos 29: depois de um trabalho na esquerda, rematou em arco, mas Joyce interpôs-se no caminho da bola, desviando-a pela linha final. Tomás Ribeiro tentou algo semelhante três minutos depois. Curiosamente, ambos os jogadores deixaram o relvado entre os minutos 30 e 40, por lesão, tendo entrado para os seus lugares Chima Akas e Abel Camará. Do lado do Berço, também houve uma alteração forçada: o lesionado Jota foi rendido por Miguel.
Ainda que ligeira, a supremacia dos homens de Petit traduziu-se em golo na reta final do primeiro tempo, com Afonso Sousa a disparar para o fundo das redes após confusão na área contrária. Pouco depois, o recém-entrado Camará falhou o segundo golo depois de se enquadrar com a baliza.
O reatamento trouxe nova ameaça, pelo pé direito de Pedro Nuno – o remate passou a centímetros do poste -, mas o reservatório ofensivo dos homens equipados de azul-escuro esgotava-se. A partir daí, os comandados de Ricardo Martins encetaram uma resposta que viria a culminar no empate e na ida a prolongamento. Liderados pelo capitão Mota, o mais rematador no lado vimaranense, o Berço impôs-se a meio-campo na hora de construir, adiantou-se no terreno e apontou um merecido golo: Davide bateu o livre na esquerda e Mota cabeceou para o fundo das redes no coração da área.
A partir daí, a equipa da casa, apoiada por cerca de meio milhar de espetadores na Pista de Atletismo Gémeos Castro, conteve com maior ou menor segurança a reação dos homens de Petit. Os vimaranenses tremeram no remate de Afonso Sousa ao poste, ao minuto 84, mas quase nunca tiveram de lidar com situações de golo iminente no tempo que restou. No entanto, basta um remate para se fazer um golo. E foi isso que Ndour se encarregou de fazer. Nos últimos segundos, Joyce, central do Berço, viu o vermelho direto.