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Aurora Cunha – Los Angeles 1984; Seul 1988; Barcelona 1992

Em 1984, para além de se sagrar campeã mundial, integrou a seleção de atletas portugueses que viajou para os Jogos Olímpicos de Los Angeles. Esta foi a primeira de três participações olímpicas.

17 julho 2021 > 18:30

Começou a correr em Ronfe numa altura em que, costumava dizer o pároco da freguesia, mostrar as pernas ficava mal a uma rapariga e que, por isso, devia deixar as corridas para os rapazes. Aurora Cunha é uma exímia contadora de história e esta é mais uma das muitas que costuma partilhar com sorrisos à mistura. Os comentários e os olhares de soslaio nunca a assustaram e não a impediram de literalmente correr para alcançar todo o potencial que desde cedo se percebeu que tinha. De Ronfe partiu para os palcos mais importantes do atletismo mundial e tornou-se numa das maiores referências da história do atletismo nacional. Não é preciso procurar muito para encontrar argumentos que sustentam essa afirmação ou não estivesse o seu nome gravado em algumas das provas mais relevantes do mundo.

Com 16 anos, e depois de 18 horas dentro de viagem dentro de um autocarro, chegou a Lisboa para fazer a prova que a apresentou ao desporto nacional. Foi a primeira vez que viu uma pista de atletismo e os sapatos de bico eram um número acima, nada que umas quantas folhas de jornal não resolvessem. A representar o Juventude de Ronfe, clube da terra, e equipada de preto, a vimaranense destronou dois recordes nacionais que pertenciam à já popular Rosa Mota: o dos 1500 e dos 3000 metros. No dia seguinte, foi capa dos  jornais desportivos.

Durante muitos anos conjugou o atletismo e resultados desportivos de relevo com o trabalho numa empresa têxtil. Despertou a atenção dos maiores clubes do atletismo em Portugal e dos treinadores mais célebres. Mário Moniz Pereira, o senhor atletismo do Sporting Clube de Portugal, deslocou-se a Ronfe e na localidade todos se juntaram e a vida ficou em suspenso para a ver correr no campo de futebol. Por influência dos patrões e pela proximidade, optou por representar o Futebol Clube do Porto. Isto permitia-lhe não só continuar a viver em Guimarães, mas também manter o trabalho na fábrica. Eventualmente tomou a decisão de se dedicar só ao desporto e rapidamente apresentou a sua melhor forma. Foi tricampeã mundial de estrada – em 1984, 1985 e 1986 – e merecedora do bronze em 1989. Em 1985, venceu os 10000 metros da Taça do Mundo. Em 1988 estreou-se na maratona de Paris com uma vitória. O feito repetiu-se em Tóquio (1988), Chicago (1990) e Roterdão (1992).

Em 1984, para além de se sagrar campeã mundial, integrou a seleção de atletas portugueses que viajou para os Jogos Olímpicos de Los Angeles. Esta foi a primeira de três participações olímpicas e aquela em que alcançou o melhor resultado. Finalista na disciplina dos 3000 metros, percorreu a distância em 8.46,37 minutos e conquistou o 6.º lugar. Nas experiências olímpicas seguintes, tanto em Seul como em Barcelona, apostou na maratona. O desfecho revelou-se o mesmo em 1988 e em 1922: não terminou a prova.

Com 33 anos, fechado o capítulo barcelonense, ainda pretendia iniciar um quarto ciclo olímpico para tentar a medalha em Atlanta. Uma gravidez de risco e duas cirurgias aos tendões de Aquiles frustraram-lhe as esperanças. A ausência da medalha em nada menoriza a sua carreira. No plano nacional, dominou o fundo e o meio-fundo por 14 anos. Foi seis vezes campeã dos 1500 metros, oito vezes campeã nos 3000 metros e quatro vezes campeã dos 5000 metros. A isto ainda se acrescem quatro títulos nacionais no corta-mato. Contas feitas, a vimaranense conquistou 22 títulos nacionais.

Continua a ser, nos dias que correm, frequentemente solicitada para amadrinhar eventos desportivos e solidários. Fora das pistas venceu aquela que seguramente foi a maior prova da sua vida: o cancro da mama. Destaca-se como um exemplo de sacrifício, dá a cara pela prevenção e usa do seu tempo mediático para promover um estilo de vida saudável e equilibrado. Em 2018, aos 58 anos, lançou o livro “Uma Vida de Paixões”.

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