Há jogos em que um empate é, à partida, olhado como um bom resultado e depois do jogo se torna frustrante, mediante o curso dos 90 minutos. Nesta tarde, em Arouca, pode-se traçar um cenário inverso: o Vitória SC foi quase sempre inferior ao adversário a partir do minuto 30, sendo batido pelos homens de Armando Evangelista nas trocas de bola a meio-campo, na velocidade, sendo incapaz de travar várias arrancadas em direção à baliza de Bruno Varela.

A nível ofensivo, a exibição vitoriana foi também desastrada, com inúmeros passes falhados e combinações previsíveis, quase sempre anuladas pelo Arouca. O duelo encaminhava-se para uma derrota vitoriana, quando Zubas, numa manobra escusada, impediu Safira de recuar, o que levou Fábio Veríssimo a assinalar grande penalidade. Na conversão, Rúben Lameiras ainda viu o guardião contrário tocar na bola, mas a bola levava fogo. Um raio de luz incidiu sobre um Vitória à porta dos 100 anos, após uma exibição cinzenta envolta pelo calor da Serra da Freita.

Com Mikel de regresso ao eixo da defesa, por troca com o jovem Tounkara, o Vitória SC dominou territorialmente a primeira meia hora de jogo, mas sem o conforto de quem sabe que vai chegar ao golo a qualquer instante.

Ibrahima Bamba lançava a construção ao primeiro toque desde a zona mais recuada e André André conduzia-a pelo miolo, mas a construção emperrava assim que a bola chegava a Nelson da Luz e a Rúben Lameiras, nas alas. Aí iniciava-se mais um trecho a circular a bola em torno da defesa de cinco elementos do Arouca, até se perder o esférico para mais uma transição rápida dos homens de Armando Evangelista, raramente bem sucedida. Anderson pareceu quase sempre uma ilha no meio dos defesas contrários.

Assim se desenrolaram os primeiros 30 minutos, sem incómodos para as balizas, à exceção de remates de Anderson, aos 18, e de Tiago Esgaio, aos 19. O jogo parecia continuar nessa toada de domínio vitoriano a baixa rotação até que o improvável aconteceu: o golo do Arouca. Bukia arrancou do meio-campo, tabelou com Rafa Mujica e rematou de longe para marcar. A intervenção desastrada de Bruno Varela deu o seu contributo: deixou escapar uma bola perfeitamente passível de se agarrar.

Obrigado a acelerar o jogo, o Vitória cedeu ainda mais clareiras aos anfitriões, que voltaram a ameaçar o golo pelo irrequieto Mujica: nos descontos da primeira parte, com Bruno Varela a defender, e a abrir a segunda parte, com um remate ao lado, isolado.

Mesmo com Mikey Johnston em vez de Hélder Sá e o deslocamento de Nélson da Luz para o lado esquerdo, o Vitória continuou desequilibrado e desastrado no passe, mas beneficiou de um erro defensivo contrário para chegar ao golo: Basso hesitou, Johnston roubou-lhe a bola e serviu Anderson, que preferiu contornar Zubas antes de rematar para o fundo das redes.

O golo, no entanto, pouco mudou: o Vitória continuou a perder duelos e a ceder espaços para a transição ofensiva, que culminaram em vários lances nas imediações da baliza de Varela, alguns deles com muito perigo. O golo apareceria, contudo, numa arrancada individual a grande velocidade, comprovando a incapacidade vitoriana em nivelar o poderio físico e a rapidez exibida pelos arouquenses na segunda parte.

Quaresma progrediu pela esquerda, ultrapassou André André e o recém-entrado Janvier, antes de desferir um remate cruzado à entrada da área para o fundo das redes; Bruno Varela bem se esticou mas ficou aquém da bola.

Os homens de Armando Evangelista criaram mais duas ocasiões flagrantes para dilatarem o resultado, antes da reação final do Vitória, com mais coração do que cabeça. Jota Silva ainda marcou ao minuto 90, num remate cruzado bem colocado. Após consulta ao videoárbitro, Fábio Veríssimo marcou fora de jogo, embora as imagens televisivas não esclareçam a quem é que a posição irregular foi assinalada e em que altura da jogada.