As duas caras do Moreirense
A forma como um desgosto se transformou em fair-play devia fazer corar de vergonha clubes com outras posses e outro mediatismo, (...) mas a política não pode ser mudar de treinador ao ritmo de amuos.

Depois de oito temporadas consecutivas na I Liga de futebol, o Moreirense Futebol Clube foi despromovido após um play-off com o GD Chaves. Dois jogos que, utilizando a gíria futebolística, são de ‘vida ou morte’, de ‘tudo ou nada’. Ora, o Moreirense não teve a capacidade de ser superior à equipa transmontana dentro do campo, mas superiorizou-se a muitos clubes do nosso futebol com aquilo que mostrou num momento de grande frustração desportiva.
Dos adeptos, aos jogadores, passando pelos responsáveis, a atitude no final merece ser louvada: saber perder com desportivismo, percebendo que, no desporto não há ‘vida ou morte’, não há ‘tudo ou nada’. Há resultados positivos e negativos e um dia seguinte onde novos desafios se enfrentam e novas batalhas se preparam.
A forma como um momento de desgosto foi transformado em fair-play para com os adversários devia fazer corar de vergonha responsáveis de clubes com outras posses e outro mediatismo, que vão acumulando atitudes nefastas para uma forma saudável de viver o desporto. Que o Moreirense se saiba readaptar à nova realidade competitiva que vai enfrentar e que, o mais breve possível, possa reaparecer no palco maior do futebol nacional. Atitudes galhardas como a que tiveram escasseiam por aí.
Há, contudo, um aspeto para o qual os ‘cónegos’ têm de apontar o foco. A política desportiva não pode passar por mudar de treinador ao ritmo de amuos ou ingerências no trabalho de campo por quem não tem como missão fazê-las. Um clube que tem os pergaminhos que este ostenta, cumpridor das suas obrigações, humilde, de gente trabalhadora e que já demonstrou ter capacidade vencedora, tem de montar uma estrutura profissional onde as funções de cada um estejam bem definidas e com autonomia para as executarem.
Com a construção da nova cidade desportiva, com a melhoria evidente das condições para um trabalho de base, o Moreirense tem tudo para voltar mais forte e ser um bom exemplo no panorama futebolístico nacional. Mas, para isso, há algumas mentalidades que têm de se abrir e a multidisciplinariedade é a palavra-chave. Os resultados desportivos dentro do campo foram escondendo algo que já se previa viesse a acontecer. Dificilmente um barco que navega num mar revolto e onde a tripulação não encontra o rumo chegará a bom porto.