Apesar dos obstáculos, ainda se luta por "mais e melhor"
Bernardino Alves, no Vitória SC, e Domingos Marques, no Clube de Ténis de Mesa das Taipas, são pilares de uma modalidade cujos apoios escasseiam no concelho.

O som da raquete a bater na pequena bola de ténis de mesa pontua as conversas do Tempo de Jogo com Bernardino Alves e Domingos Marques. Ao final da tarde, o cenário que se encontra no centro da cidade é análogo àquele que se vive a norte do concelho: o pavilhão de uma escola é o pano de fundo para que miúdos e graúdos pratiquem a modalidade que é o “parente pobre” do desporto. Tudo acontece sob o olhar atento daqueles que, muitas vezes por carolice, insistem no crescimento e engrandecimento de uma modalidade que há muito tempo deixou para trás os anos de ouro dentro das fronteiras da cidade.
Dizem os registos mais antigos que o ténis de mesa chegou a Guimarães na década de 1940. A adesão não deixou a desejar e pouco tempo depois já se organizavam campeonatos concelhios com a participação de muitas equipas e dezenas de jogadores. O primeiro aconteceu nas instalações do Vitória Sport Clube, em 1954, e a organização ficou a cargo do grupo musical Ritmo Louco, que mais tarde deu origem ao Círculo de Arte e Recreio (CAR). Seguiu-se mais do que uma dezena de torneios dentro das muralhas da cidade e, eventualmente, o ténis de mesa vimaranense extravasou para fora de Guimarães. O CAR, tido como um dos maiores responsáveis pela promoção da modalidade, foi a primeira equipa da cidade a alcançar o apuramento à prova máxima da modalidade em Portugal: a 1.ª Divisão Nacional. O entusiasmo materializou-se na década seguinte quando Vitória Sport Clube, Desportivo Francisco de Holanda e, mais tarde, o CCD Coelima e ainda o Académico de Guimarães abriram as próprias secções de ténis de mesa.
Eventualmente o entusiasmo esmoreceu. Os jogadores que viveram a era dourada do ténis de mesa em Guimarães começaram a abandonar a modalidade e a renovação revelou-se cada vez mais difícil. No entanto, a chama reacendeu-se nos anos de 1990. O Vitória, depois de uma breve paragem, retomou a atividade em 1991 pela mão de Bernardino Alves, figura que ainda hoje é responsável pela modalidade no clube. Poucos anos depois, em 1996, surgiu outro foco para os amantes da modalidade com a fundação do Clube de Ténis de Mesa das Taipas, obra de alguns funcionários e de um professor da Escola Básica das Taipas. É a história contada por Domingos Marques, diretor da agremiação. Os dois vultos da modalidade continuam a lutar por “mais e melhor”, apesar de reconhecerem que as dificuldades são cada vez mais.

Manutenção é meta principal de Bernardino Alves
Na EB1 Oliveira do Castelo, o regresso à normalidade da equipa vitoriana faz-se aos poucos. Bernardino Alves é o responsável pela secção de ténis de mesa e acumulou várias funções ao longos dos últimos 30 anos ao serviço do clube. Ser sempre “mais e melhor” é o principal fator de motivação do homem que impulsionou o ténis de mesa do emblema vimaranense. “Às vezes comparo as pequenas conquistas, que serão grandes, ao tamanho da nossa bola: sendo pequena é muito grande e difícil de bater. E, por isso, o que me motiva é ser sempre, para além da camaradagem – que é uma das práticas do ténis de mesa –, mais e melhor”, disse.
Bernardino Alves reconhece que a falta de “exposição” impede o crescimento do ténis de mesa, prejudica a modalidade e faz dela o “parente pobre”, incapaz de conseguir captar novos patrocinadores. “O Vitória SC é uma grande marca e ajuda-nos, mas penso que esta dificuldade é muito própria da modalidade”, desabafa. O responsável pela secção espera que a afixação de “posters” pela cidade seja um catalisador importante na captação de novos atletas e na hora de chegar aos patrocinadores: “Agora, em vez de dez, temos 40, temos 50”. Esse é um dos objetivos de Bernardino Alves – o reforço de uma modalidade que, em tempos idos, teve uma forte expressão em Guimarães.
Com o início da nova época avizinham-se novos desafios para os conquistadores. Manter a equipa A na 2.ª Divisão de Honra é o objetivo primordial de Bernardino Alves. O responsável explica porquê: “A nossa ambição é permanecer no campeonato por uma razão simples. Há já bastantes profissionais nesta divisão e, por isso, com a prata da casa, com aquilo que é feito aqui, com as limitações que nós temos, manter o Vitória SC nesta divisão é um marco histórico para um clube como o nosso”.
Para o futuro guarda a esperança na continuidade da “evolução” do ténis de mesa e deixou ainda um ”alerta” aos vitorianos. Estamos à espera de ser surpreendidos e que qualquer dia os White Angels e os restantes adeptos venham por aí, não é? Eles que apareçam, são sócios e por isso estamos sempre à espera de que eles venham”, disse esperançoso.

Domingos Marques enaltece a importância da formação
Domingos Marques é o atual presidente da direção do Clube de Ténis de Mesa das Taipas e, tal como Bernardino Alves, desdobra a sua atenção em várias funções desde 2004, por amor à camisola. “Além de presidente da direção, era sempre eu a orientar os treinos. Tenho curso de treinador, mas deixei-o caducar propositadamente para não me envolver, porque eu não tenho capacidades”. Confessa abertamente que o cargo de treinador surgiu por imposição, “no ano em que fomos ao campeonato nacional tínhamos que ter um treinador e eu assumi esse papel”, disse.
A paragem da pandemia acabou por não ter tido efeitos negativos no número de atletas que acabou por se manter praticamente o mesmo. “Eles mantiveram-se cá. Penso que este ano iremos ultrapassar a fasquia dos 20 atletas, 15 da formação e sete ou oito seniores, mas isto é rotativo. Umas vezes vêm uns, outras vezes vêm outros”.
Apesar das dificuldades sentidas a nível de apoios, “permitir que os atletas da formação participem em todos os torneios a nível nacional” é um objetivo claro do presidente. “Este ano parece que vai haver mais, mas houve épocas que nós íamos a todos os lados e havia dezenas, uns 20 torneios por época, e nós íamos sempre. Pretendemos que os atletas da formação também se sintam glorificados, sintam-se contentes por dizer assim: “Já fui a um campeonato nacional, que é uma coisa que eu uma vez perguntei ao pai de um". Ele ficou assim a olhar para mim. Disse: “Tu alguma vez foste a algum campeonato nacional ou alguma coisa?”. Diz ele: “Não”. “Pergunta ao teu filho”. “Ah, o meu filho já foi”. A ideia é essa. Praticamente é só isso que move Domingos Marques. E depois, claro, interessa a “subida de divisão”, realça.
Na época transata, a formação taipense foi uma das três equipas que desceu aos distritais. Voltar a colocar o clube no “lugar que pertence” é a próxima meta traçada por Domingos Marques. “Sempre que temos descido, temos conseguido subir no ano seguinte. Estamos a manter esta cadência há muitos anos e por isso o objetivo de conseguir a subida é o único caminho”, disse.