Ana Dulce Félix – Londres 2012; Rio 2016
Na carreira da vimaranense, os anos de Jogos Olímpicos são indubitavelmente os mais interessantes. Começamos por 2012. Antes de voar para Londres e fazer a sua estreia olímpica...

Nasceu em 1982 em Azurém e cresceu em São Martinho do Conde, onde agora existe um Circuito de Manutenção com o seu nome. Não gostava particularmente de correr, mas faltava alguém para fazer equipa na escola e, por isso, acabou por ir. O resto aconteceu com o tempo e o entusiasmo do pai. É assim que começou a desenhar-se a história de Dulce Félix no atletismo. Ingressou na Associação Cultural e Recreativa de Conde e completou a formação no Futebol Clube de Vizela.
Não foram precisas muitas contas para a própria perceber o potencial que tinha e entusiasmar os que a viam competir. Durante a fase inicial da carreira sonhava com a profissionalização, mas na realidade via-se obrigada a trabalhar oito horas diárias numa fábrica e dedicar as horas que tinha livres ao atletismo. Aos 24 anos, quando representava o Sporting Clube de Braga, percebeu que só ia conseguir alcançar o nível que ambicionava – e sabia ser capaz – se se dedicasse inteiramente ao atletismo.
O tempo provou que esta foi a decisão certa e os resultados não demoraram a aparecer. Foi campeã nacional dos 10000 metros e começou a destacar-se nas grandes provas internacionais. Entre 2010 e 2012, conquistou três medalhas no Campeonato da Europa de Corta-Mato: duas de prata e uma de bronze. No mesmo período foi bicampeã nacional nos 5000 metros e tricampeã nacional de corta-mato. Ao currículo somaram-se, em 2009 e 2010, três medalhas por equipas: duas de ouro no Europeu de Corta-Mato e uma de bronze no Mundial de Corta-Mato. Em 2011, ao serviço do Maratona Clube de Portugal, estabeleceu um novo recorde nacional da meia-maratona. Em Lisboa, Dulce Félix correu os 21,1 km com o tempo de 1h08m33s. O recorde mantém-se até hoje.
Na carreira da vimaranense, os anos de Jogos Olímpicos são indubitavelmente os mais interessantes. Começamos por 2012. Antes de voar para Londres e fazer a sua estreia olímpica, foi a Helsínquia competir no Campeonato da Europa de Atletismo. Não podia ter feito melhor na disciplina dos 10000 metros: garantiu a medalha de ouro. É o seu melhor registo individual e, de acordo com a própria, o momento mais alto da sua carreira. Nos Jogos Olímpicos terminou a maratona em 21.º lugar. Em 2016, repetiu-se o padrão. Viajou para Amesterdão, onde competiu no Campeonato da Europa de Atletismo. Voltou a subir ao pódio, desta vez para receber a medalha de prata. Poucos dias depois voou para o Rio de Janeiro e melhorou o registo que tinha conseguido quatro anos antes. Numa maratona que ficou marcada pelo calor extremo e muitas desistências, Dulce Félix foi 16.ª classificada e a melhor das três portuguesas em prova.
Foi mãe no final de 2017. Regressar ao desporto de alta competição não foi fácil, mas a vimaranense regressou com distinção. No início de 2019, sagrou-se campeã nacional de corta-mato pela 7.ª vez na carreira e ficou apenas a um título de igualar a recordista Rosa Mota. No mesmo ano, terminou a Maratona de Valência com o tempo de 2h25m22s, naquela que foi a segunda melhor marca pessoal da carreira.
Em 2020 assumiu a ambição de estar presente em mais duas edições dos Jogos Olímpicos, mas falhou o apuramento para Tóquio. Esteve infetada com covid-19 e a recuperação foi mais lenta e mais difícil do que esperava, com muitos momentos de frustração e de choro no fim dos treinos por não ver as pernas responder como estava habituada. Lamenta, mas sabe que há um novo ciclo olímpico a começar e, à atleta vimaranense que não gostava de correr, parece boa ideia terminar a carreira em Paris, nos Jogos Olímpicos de 2024.
Foto: © Tribuna Expresso