Além de 2019, Deco tentou comprar SAD do Vitória em 2016 por 8,5 milhões
Mário Ferreira recusou a proposta conjunta com o investidor Alejandro Etchebarria há cinco anos. A segunda nega deu-se em 21 de maio de 2019, seis dias antes da demissão da anterior direção.

O ex-futebolista e hoje empresário Deco tentou comprar a SAD do Vitória SC em duas ocasiões, noticia o Público na edição desta sexta-feira. Além da oferta de 8,1 milhões de euros já conhecida publicamente, realizada a 30 de abril de 2019 e negada pelo então acionista maioritário Mário Ferreira a 21 de maio de 2019, o agente de jogadores fez uma investida anterior para tomar conta do futebol vitoriano, três anos antes.
Em parceria com o investidor Alejandro Etchebarria, Deco apresentou 8,5 milhões de euros pelas ações da MAF – Sociedade de Investimentos SGPS. O empresário português radicado na África do Sul rejeitou a oferta.
Três anos depois, o antigo jogador de FC Porto, Barcelona e Chelsea voltou à carga, através da empresa Leader Constellation, sediada em Leça da Palmeira (Matosinhos) e ligada à Arpoador Sports & Marketing, entidade com sede no Rio de Janeiro. Confrontado com a proposta de 8,1 milhões apresentada a 30 de abril, Mário Ferreira tomou a mesma decisão, dando-a a conhecer a Deco em 21 de maio.
Seis dias depois, a direção do Vitória, liderada por Júlio Mendes, “demitiu-se da presidência do clube e do conselho de administração da SAD, tendo justificado a decisão com a falta de abertura dos sócios vitorianos a “investimento externo”.
Processos em tribunal
Em setembro de 2020, os antigos administradores da sociedade, Júlio Mendes e Armando Marques, apresentaram uma ação judicial contra a MAF, reivindicando o pagamento de 2,7 milhões de euros por causa da última recusa a Deco.
O processo referente à ação interposta no Juízo Central Cível de Braga invoca um acordo parassocial de 08 de dezembro de 2016 para justificar o pagamento, alegando que a MAF se “obrigou a aceitar qualquer proposta de aquisição das 511.533 ações de que é proprietária”, desde que “excedesse o valor de oito milhões de euros”.
Segundo o documento, Mário Ferreira concedeu a Júlio Mendes, Armando Marques e Luís Teixeira, representante da MAF na SAD vitoriana até 2019, o “direito de preferência numa futura venda das ações” e a distribuição das “mais-valias com a venda”, por “cada um dos outorgantes do acordo", em “igual proporção de 25%”, lê-se no processo.
Além dessa reivindicação, os ex-dirigentes vitorianos exigiam ainda um milhão de euros cada um em mais-valias da venda não concretizada, com Júlio Mendes a exigir ainda um “prémio de desempenho” de 700 mil euros, relacionado com o facto de a proposta de 8,1 milhões de euros superar o valor do capital da MAF na SAD (2,56 milhões).
Na contestação anexa ao processo, a MAF rejeita o “incumprimento contratual” que lhe é apontado, frisando que o “acordo parassocial” não foi aprovado em assembleia-geral da SAD e viola o artigo 399.º Código das Sociedades Comerciais, referente aos conselhos de administração de sociedades anónimas.
A empresa de Mário Ferreira reitera ainda que a proposta da Leader Constellation foi “arquitetada em conluio com os autores [Júlio Mendes e Armando Marques]” e alega que o valor está abaixo dos oito milhões de euros, face à desvalorização do valor do dinheiro à medida que um pagamento é adiado: a pedido da MAF, a consultora Mazars calculou que o valor se situa entre 7,91 e 7,97 milhões.
Ainda segundo o processo, a Leader Constellation prometeu, na proposta de aquisição de 30 de abril de 2019, um Vitória a “competir por uma classificação entre os primeiros lugares” da I Liga, a “garantir anualmente o acesso às competições europeias” e a “desenvolver a academia”.
A MAF, por seu turno, vincou que a proposta carecia de “um plano de investimento” que assegurasse o “crescimento futuro" da Vitória SAD e considerou inaceitável o “pagamento diferido” das ações em cinco tranches: uma de 300 mil euros, outra de um milhão, duas de 2,3 milhões e uma última de 2,2 milhões, com um prazo de até 270 dias após assinado o contrato de compra e venda.
A 01 de outubro de 2020, o Vitória anunciou a compra das ações pertencentes a Mário Ferreira (56,84% do capital da SAD) por 6,5 milhões de euros, em três tranches até 31 de março de 2022, se bem que o pagamento da segunda, com 31 de agosto de 2021 como prazo-limite inicialmente definido, foi adiado.
Envolvido na operação Fora de Jogo, Deco apresentou um pedido de insolvência da SAD vitoriana em novembro de 2020, tendo reclamado então 1,1 milhões de euros de indemnização. Em março de 2021, o agente retirou a ação.